sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Nova Língua Portuguesa

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos "afro-americanos", com vista a acabar com as raças a nível gramatical, isto tem sido um fartote pegado.
As criadas dos anos 70 passaram a "empregadas domésticas" e preparam-se agora para receber a menção de "auxiliares de apoio doméstico". De igual modo extinguiram-se nas escolas os "contínuos" que passaram todos a "auxiliares de acção educativa".
Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por "delegados de informação médica". Pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em "técnicos de vendas". O aborto eufemizou-se em "interrupção voluntária da gravidez".
Os gangs étnicos são "grupos de jovens". Os operários fizeram-se de repente "colaboradores"; As fábricas, essas, vistas de dentro são "unidades produtivas" e vistas da estranja são "centros de decisão nacionais".
O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à "iletracia galopante". Desapareceram dos comboios a 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade nacional das massas hierarquizadas mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes "conforto" e "turística". A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...»; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um "comportamento disfuncional hiperactivo". Do mesmo modo e para felicidade dos "encarregados de educação", os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quanto muito, "crianças de desenvolvimento instável".
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado "invisual". (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o "politicamente correcto" marimba-se para as regras gramaticais...)
As putas passaram a ser "senhoras de alterne".
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em "implementações" , "posturas pró-activas", "políticas fracturantes" e outros barbarismos da linguagem.
E assim linguajamos o português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
Estamos lixados com "este novo português"; Não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem que se pensar o que se diz de forma "politicamente correcta".
E falta ainda esclarecer que os "anões" estão em vias de passar a "cidadãos verticalmente desfavorecidos"...
Os idiotas e imbecis passam a designar-se por "indivíduos com atitude não vinculativa".
Os pretos passaram a ser pessoas de cor.
O mongolismo passou a designar-se síndroma do cromossoma 21.
Os gordos e os magros passaram a ser pessoas com disfunção alimentar.
Os mentirosos passaram a ser "pessoas com muita imaginação".
Os que fazem desfalques nas empresas e são descobertos são "pessoas com grande visão empresarial mas que estão rodeados de invejosos".
Para autarcas e políticos afirmar que "eu tenho impunidade judicial", foi substituído por "estar de consciência tranquila".
O conceito de corrupção organizada foi substituído pela palavra "sistema".


(desconheço o autor mas concordo com ele)

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