segunda-feira, 7 de setembro de 2015

As Férias Grandes.

Nas férias grandes, as do Verão, sempre com três saborosos meses, o destino de quase todos nós era a construção civil, a estrada a colocar alcatrão, a apanha do lupúlo, ou a Lupulex que era a empresa que preparava a matéria prima que posteriormente, com cevada, água e outros componentes dava origem à cerveja.

Esta foto foi tirada, na merenda, após uma manhã a encher sacas com lúpulo. Na foto, podem-se ver, para além do "precoce" e já direccionado para a função, com a garrafa de tinto, o Fernando Sá e a Fátima Sá do Bairro e St.ª Isabel e, salvo erro o Carlos Gomes do mesmo Bairro.
Na apanha do lúpulo, recordo a hora da merenda com a garotada toda junta e alegre apesar do cansaço sempre presente. Aquele trabalho não deveria ser para crianças, mas a três coroas o quilo…O lúpulo é uma planta muito leve e um quilo demorava uma eternidade a apanhar. Por vezes éramos mauzinhos e antes de levarmos o saco à balança tratávamos de o humedecer com um banho no rio ou um xixi devidamente direccionado. Sempre iria pesar mais umas gramas.
Poucos ou nenhuns sabiam o que era ir para a praia, ou tão simplesmente o que eram férias na verdadeira acepção do termo. Para nós era a possibilidade de ganhar dinheiro para comprar aquelas calças de ganga que só víamos nas montras, ou aquelas botas de camurça que não eram para a carteira dos nossos Pais.
Evidentemente que parte do “pecúlio” ia direitinho para as mãos das nossas Mães que, com sabedoria, o iriam gerir como bem entendessem. Mas, era com a chegada das férias que tínhamos a possibilidade de ver um filme no cinema e de comprarmos calçado e roupa nova e, para os mais malandrotes, de fumar um Kentucky sem ter de andar a juntar periscas.
A melhor parte das férias eram os dias que passávamos na Quinta dos Sás.
Lameiros a perderem-se de vista, rio, peixes com fartura, tralhões, fruta legumes…
Todos garotos e sozinhos longe da cidade e dos adultos. Ali não passava ninguém.
Dormíamos ao relento ou numa das construções da Quinta. O dia seguinte, era sempre preparado na noite anterior.
Colocávamos, estrategicamente, as pescoceiras municiadas com a respectiva formiga de asa no lameiro e, perto do tronco das árvores.
Ao início da manhã já tínhamos o almoço garantido. Uns “tralhões” assados numa chapa (a tampa de um bidão) apenas com sal grosso. Fazíamos acompanhar o maná com lustrosas e substanciais saladas que vinham da horta. Pimentos, tomates, alface, cenouras, cebolas…era sempre um alguidar cheio...e regado com azeite fino que havia sempre na Quinta.
A sobremesa era invariavelmente fruta da Quinta do Zé Carlos, que ficava depois de passar a linha do comboio.
O Zé Carlos bem sabia que éramos nós que, lhe "roubávamos" os melões e as melancias. Mas como havia tanta fartura na Quinta, ele fazia que não sabia.
Só vínhamos a casa quando se nos acabava o pão.
Depois de almoço, era o “obrigatório” jogo de futebol no lameiro, com quatro pedras a servirem de baliza e depois, bem transpirados, toda a gente para a água nas bóias feitas das câmaras-de-ar dos pneus dos tractores.
Uns ficavam de papo para o ar e outros iam pescar. Era preciso fazer refeições variadas e nutritivas. Uma refeição de carne e outra de peixe.
Quantas gerações aprenderam a nadar no Rio Fervença, agora perdido para a cidade e para as gerações vindouras, na sua condição de Rio...




HM

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