segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Comunidade judaica de Bragança mostra elevada diversidade genética

Vila de Argozelo
Comunidades judaicas da região de Bragança apresentam uma elevada diversidade genética, apesar das vicissitudes da sua história, segundo um estudo inovador publicado numa revista norte-americana de antropologia física.
A conclusão constituiu uma surpresa para a equipa de investigadores, coordenada por António Amorim, do Instituto de Patologia e Imunologia da Universidade do Porto (IPATIMUP), tendo em conta o esperado isolamento das referidas comunidades, que viveram longos períodos de clandestinidade.
"Para nossa surpresa, a diversidade genética dessa amostra revelou-se mesmo superior à da população portuguesa em geral", disse e explica António Amorim.
As perseguições da Inquisição e, mais recentemente, o ambiente anti-semita vigente até ao final da Segunda Guerra Mundial fariam supor que essas comunidades mostrassem na actualidade uma diversidade genética muito baixa, resultante do seu pequeno efectivo e de uma reduzida interacção com a população circundante.
Vila de Argozelo foi uma das localidades estudadas.
Este estudo, o primeiro realizado em Portugal nessas comunidades com base no cromossoma Y, ou seja, de linhagens exclusivamente masculinas, incidiu em 57 indivíduos de origem judaica reconhecida, tanto por si próprios, como pela comunidade e, residentes em Carção, Vilarinho dos Galegos, Argozelo e nas cidades de Bragança e Mogadouro.
A diversidade é notável, "os tipos de linhagens que mostraram corresponde a uma relativa baixa frequência daquela que é típica da Ibéria e à abundância de linhagens típicas de populações do Próximo Oriente, nomeadamente de populações judaicas". Assim, "enquanto na população portuguesa em geral há 60 por cento de indivíduos pertencentes ao mesmo grupo de linhagens a que chamamos ibéricas, ou pelo menos típicas da Europa ocidental, no caso destas comunidades judaicas não chega a 30 por cento", assinalou.
António Amorim
Por outro lado, prosseguiu, "as linhagens referidas como típicas do Próximo Oriente, vestigiais na população portuguesa em geral, são dez vezes mais frequentes nestas comunidades". Segundo as conclusões do trabalho, publicado no American Journal of Physical Anthropology, "as comunidades estudadas conseguiram manter alguma identidade e não perder diversidade ao longo do tempo", graças a uma estratégia de cruzamentos que não teve efeito estrangulador na diversidade genética existente.

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