sexta-feira, 12 de abril de 2019

A Prisão e a Liberdade.

Foto: Paulo Rodrigues
Em tempos em que só se fala em liberdade e, pouco ou muito pouco, de prisão, por vezes são os pormenores que nos fazem ficar a pensar sobre uma e outra.
A prisão oprime-nos, cercia-nos a mente e o corpo, encolhe-nos a todos os níveis. A liberdade deixa-nos respirar e crescer.
Eu tive um aquário. Como todos aqueles que têm em suas casas aquele pequeno recipiente de vidro sabem, aquilo dá trabalho e exige alguma dedicação. Mas, mesmo com muita dedicação, os peixes lá vão morrendo…paulatinamente…uns atrás dos outros.
Há vinte anos atrás, já só me restava um peixe. Um pequenino peixe ainda mais pequeno que o meu pequeno polegar…e, mais dia, menos dia, lá iria ele seguir o destino dos seus ancestrais.
Não!
Decidi um dia: - Se tiveres que morrer não será aqui. Vais para um dos tanques da aldeia.
Pensei…deves morrer à fome mas pelo menos tens espaço e vais passar os teus últimos dias a saborear um pouco de liberdade. Não era uma liberdade sem limites mas era, mil vezes mais, que naquele aquário com 25 litros de água…da torneira.
E assim, lá foi ele “desaguar” ao tanque que fica mesmo ao lado da Fonte do Olmo. Fiquei a observá-lo durante um longo período…e deixei-o, em jeito de despedida.
Alguém, se lembrou de lhe arranjar alguma companhia. E então, no tanque passou a habitar mais um peixe, todo preto, que passou a fazer companhia ao meu, todo colorido.
Passados cinco anos, o peixinho colorido do tamanho do meu pequeno polegar, já tinha o tamanho do meu antebraço e, o peixinho preto, do tamanho do polegar de quem o deixou a fazer companhia ao meu, tem garantidamente o tamanho do antebraço de quem se despediu dele, ao deixá-lo a fazer companhia ao meu…
A prole dos dois, é enorme, numa mescla de peixinhos coloridos e peixinhos pretos…todos grandes e bem nutridos.
Interrogo-me sobre qual será o tipo de alimentação, para além dos pedaços de pão que a minha sogra lhe deita quando passa a caminho das galinhas.
A liberdade aguça o engenho, a prisão definhe-nos.
A liberdade é um estado supremo, a que por norma, só se dá valor quando se perde, à semelhança da saúde.
Os dois peixinhos, que agora pertencem a toda a comunidade, já terão a nadar ao seu lado uma décima geração…e são livres.
Quando chego à aldeia e, depois de cumprimentar a família, vou sempre ao tanque...vê-los "nadar" um pouco...e sorrio...e eles, talvez sorriam também...

VIVA A LIBERDADE!





HM

1 comentário:

  1. A liberdade a maior aspiração do homem a par da felicidade.

    O maior bem que temos e o pior que nos podem fazer é retirá-la. Em cativeiro ninguém cresce como pessoa. O exemplo dos peixes é significativo.

    Passamos por tempos em que ela corre perigo. Que jamais os tempos que vivemos no "Estado Novo" se repitam.

    ResponderEliminar