sábado, 6 de novembro de 2010

Os AIS!

Mário Viegas (1948-1996) é considerado um dos melhores (senão mesmo o melhor) actores portugueses da sua geração. Tendo iniciado a sua carreira aos quinze anos de idade, deixou-nos consideráveis e extraordinários testemunhos do seu amor pela arte, assim como do seu esforço, sem dúvida bem sucedido, para fazer um trabalho de qualidade.
«Mário Viegas era um poeta, um homem que dizia poesia de uma forma admirável. Era um grande actor e encenador e teve sempre uma liberdade de espírito e um poder criativo extraordiário. Quem não se lembra da tão recente e espantosa criação, continuamente renocada, que foi o espectáculo "Europa Não! Portugal !!"? Mário Viegas sempre deu o seu testemunho sobre a vida social e política e, além de criador, foi um home muito inserido no seu tempo, que deixa uma grande obra.» (Dr. Jorge Sampaio, Presidente da República, citado in "A Capital", 1 de Abril de 1996)
No teatro, Mário fundou três Companhias (a última das quais foi a Companhia Teatral do Chiado), interpretou alguns dos mais impotantes papéis teatrais (Hamm, Baal, Krapp, Vladimir, Wang, etc.) e encenou peças de Beckett, Eduardo De Filippo, Bergman, Tchekov, Strindberg, Pirandello e Peter Shaffer, entre outros.
Mário Viegas também trabalhou em cinema, com vários realizados, tendo alguns dos seus maiores sucessos sido "Kilas", "O Mau da Fita", "Sem Sombra de Pecado (realização de Fonseca e Costa), "A Divina Comédia" (Realização de Manoel de Oliveira) e "Afirma Pereira" (Realização de Roberto Faenza), onde contracenou com Marcello Mastroianni.
Na televisão, atingiu grande popularidade, particularmente com duas séries de programas sobre poesia - "Palavras Ditas e Palavras Vivas". Também trabalhou no rádio, principalmente como divulgador de poesia e de teatro. Viegas foi também um colaborador regular do jornal "Diário Económico", para onde escrveu artigos humorísticos e sobre teatro.
Mário Viegas, um «homem da palavra e de palavra» (Frei Bento Domingues, citado in "Público", 3 de Abril de 1996), ficou também extremamente conhecido pelos seus excelentes recitais de poesia: amante da poesia, ele gravou cerca de duzentos poemas em catorze discos, onde podemos ouvir dizer Luís Vaz de Camões, Cesário Verde, Camilo Pessanha, Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Jorge de Sena, Alexandre O´Neil, Ruy Belo, Eugénio de Andrade, Brecht, A. Ginsberg, Pablo Neruda, etc.. Tendo assumido a responsabilidade de divulgar poetas e humoristas (tais como Mário-Henrique Leiria, Luiz Pacheco, Pedro Oom, etc.), tanto portugueses como estrangeiros, Mário Viegas viajou por todo o mundo, dando espectáculos em Moçambique, Macau, Brasil, Espanha, Bélgica, Holanda, etc..
Mário Viegas recebeu dois prémio pela Casa da Imprensa; quatro prémios pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro; o Prémio Garrett 1987 para melhor actor do ano, pela Secretaria de Estado da Cultura; dúzias de prémios de prestígio e de popularidade pela imprensa; Prémio de Honra no Festival de Teatro de Sitges (Espanha, 1979), pela sua interpretação na peça "D. João VI"; e o Prémio para Melhor Actor no Festival Europeu de Cinema Humorístico da Coronha (1978), pelas susa interpretações no filme "O Rei das Berlengas", realizado por Artur Semedo. Em 1993, a Câmara Municipal de Santarém atribuiu-lhe a Medalha de Mérito da cidade pela sua carreira e, em 1994, o então Presidente da República Portuguesa, Dr. Mário Soares, ordenou-o Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Mário Viegas foi também um homem preocupado com a política e com o estado geral de coisas do seu país. Participou nas eleições legislativas de 1995, como candidato independente pela U.D.P., a sua palavra de ordem sendo "uma política sem máscaras". No mesmo ano, anunciou a sua candidatura oficial à Presidência da República, com o slogan "O Sonho ao Poder!!".
Mário Viegas é e será recordado pelo «seu exemplo de homem livre e insubmisso, o seu amor à cultura, à poesia, ao teatro e ao cinema, a qualidade e a inteligência do seu humor» (Dr. Jorge Sampaio, Presidente da República, citado in "Semanário, 4 de Abril de 1996). «Impetuoso, rebelde com o gosto da provocação, se alguém fosse redutível a palavra, excesso seria talvez a mais adequada a uma tentativa de definir Mário Viegas»

Sem comentários:

Enviar um comentário