quinta-feira, 21 de maio de 2015

“Tascas” de história(s)

Outrora, um ponto de encontro entre as gentes da cidade, as tabernas procuram, nos dias de hoje, sobreviver à mudança.
Um pouco de vinhoEm Portugal, as tabernas, tão frequentemente apelidadas de tascas, vingaram em número, sobretudo, até aos anos 80 do século XX. Quer nos grandes centros urbanos, quer nas pequenas localidades, ou nas zonas rurais mais isoladas, as tascas eram o centro da vida social por excelência em décadas, séculos e milénios passados. Agora, como antigamente, as pessoas procuram esses locais repletos de tradição para o convívio, beber um copo de vinho ou comer uns petiscos. Em Bragança, o Jornal Nordeste saiu à rua, na procura incessante de pedaços de história e encontrou espaços que procuram resistir à ventania dos tempos modernos, apesar da “crise” instalada.
A caminhada começou em direcção ao coração de Bragança. Chegámos à Rua Emídio Navarro, mais conhecida por Rua Nova. No número 69, a “Casa Benfica”. No seu interior, Maria Condado, que faz no dia 1 de Abril 40 anos como proprietária de uma das tabernas mais emblemáticas da cidade. Ela foi uma testemunha no acompanhar do evoluir dos tempos na área da restauração. Perita no assunto, partilha a sua visão: “é preciso gostar-se desta profissão. Só que, desde que começou a crise, isto está muito mal, muito mal... Principalmente, para estas casas. As pessoas de idade, que é as que gostavam de cá vir, vão morrendo. Os novos, há poucos. Vão para o shopping...”. Nos seus planos de futuro, Maria não sonha na expectativa: “vamos ver o que a vida nos reserva! Sei lá! É tudo tão incerto... Umas vezes sobra, outras falta. Dá para ir vivendo”.
E nem a Feira providencia sustento, não agora, nem tanto como em outros tempos. Na visão da “patroa”, tudo mudou “para pior” desde a entrada em cena do euro.
Beber álcool numa taberna é uma tradição social que remonta aos sumérios em 3500 a.C.
No Castelo de Bragança, António Ferreira governa, há 42 anos, a “Taberna da Vila”. A casa é da autarquia, a quem paga renda, mas a tasca, em si, está aberta desde 1930. “Não tenho clientes! E vinho já ninguém bebe! Tenho meses e meses de não vender um copo de vinho. Também só há aqui na Vila meia dúzia de velhos que já nem bebem”, afiança o taberneiro, para quem a falta de clientes é bem real. E nem o calor do Verão desperta a sede de todos os que por ali passam, quer sejam turistas estrangeiros ou nacionais. “Antigamente, há 20 ou 30 anos, vendia 25, 30 garrafões de vinho por semana. Hoje, nem um copo. Nem os estrangeiros, nem os emigrantes no Verão, que não têm um cêntimo”, desabafa António, de 69 anos. “Ainda o que vão pedindo, por essa altura, é uma cervejinha ou um quarto de águas. O negócio não está mal, está péssimo, ou melhor, não existe”, elucida, ligeiramente inconformado, sem, no entanto, o querer demonstrar. “Hoje não há dinheiro”, conclui António.
Apesar de existirem cada vez mais visitantes no interior das muralhas, a “Taberna da Vila” vê-os passar ao largo. Com outras opções, nem todos os negócios de bebidas no Castelo sobrevivem. Há um, pelo menos, que vai de vento em popa.
Juventude e movimento:
Aspecto actual da Taberna do Figo Seco 
em Bragança que, em breve,  será 
convertida  em Residência Universitária
A explorar a “Tasquinha”, na Viela do Hospital Velho, antiga viela do Games (salão de jogos), está Cristovão Macedo, fez seis anos em Dezembro passado. Os seus clientes pertencem, na sua grande maioria, a uma população mais jovem. “Eu tenho a porta aberta e o meu público-alvo são todas as pessoas, mas aqueles que frequentam mais esta casa são muito daqui da terra, jovens que se encontram mais ao fim-de-semana, nas férias e nas festas”. Com vário aperitivos à escolha, entre moelas, orelha e pregos, o “tasqueiro” destaca uma “sua” especialidade, o pincho. “Devemos ser dos únicos a fazer aqui em Bragança. É uma espetada de carne de porco à moda Espanhola com chouriço e pimento”, explica. Em termos de negócio, Cristóvão não se lamenta: “podia correr melhor, mas também não me posso queixar”.
Antigo proprietário do “Demetal”, durante 12 anos, Paulo Pressas está, desde Março de 2009, com a “Taberna O Celta”. Localizada no Castelo de Bragança, este é um espaço em movimento, de diversão e convívio entre um tipo de clientes transversal a todas as faixas etárias. “Nós trabalhamos com toda a gente, mas, maioritariamente, de fora da cidade. Estudantes, alguns. E nas épocas de Primavera, Verão, é uma azáfama, pois é turistas atrás de turistas. Mas está-se bem!”, esclarece Paulo. Com um décor a ter em conta, numa espécie de género alternativo, “O Celta” goza do privilégio de uma lareira que no Inverno funciona como atractivo. “Nós funcionamos muito bem de Verão, mas, mesmo no Inverno, temos aquele pessoal certo, a lareira, temos aquela gente que vem a beber os nossos licores celtas, ou seja, temos um ambiente muito familiar e bastante eclético”, resume.

Bruno Mateus Filena / Orlando Bragança

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