terça-feira, 21 de junho de 2011

Grandes Prémios Literários «já» chegam a autores Transmontanos

Barroso da Fonte
OPINIÃO - Barroso da Fonte

Durante muitos anos, nas artes, como nas letras, parecia haver uma barreira aos criativos de Trás-os-Montes e Alto Douro. Mais por força do mérito e também da contestação unânime dos seus visados, os dirigentes da máfia que sempre dominaram as instituições representativas desses sectores, passou a existir uma espécie de remorso colectivo e a reconhecer a injustiça na (des)valorização do mérito e da competência, em detrimento da habituação malévola que era confrangedora e irritante.
Sempre Trás-os-Montes foi berço dos melhores artistas nacionais, fossem escritores, jornalistas, pintores ou escultores. Essa supremacia adveio da superação das obras que nos legaram. Citem-se alguns nomes para exemplo: Guerra Junqueiro, Trindade Coelho, Abade de Baçal, João de Lemos, Paulo de Quintela, Miguel Torga, João de Araújo Correia, Ferreira Deusdado, Camilo, Guedes de Amorim, Reis Ventura, Teixeira Lopes, Norberto Lopes, Raul Rego, António Cabral, Montalvão Machado, João de Araújo Correia. Estou a citar, ao acaso autores falecidos. Mas essas gerações tiveram continuidade em nomes, como: Adriano Moreira, A. M. Pires Cabral, Bento da Cruz, Ângelo Minhava, Júlio Montalvão Machado, Isabel Viçoso, Hirondino da Paixão Fernandes, Amadeu Ferreira, Loureiro dos Santos, Aires Ribeiro, Ernesto Rodrigues, Modesto Navarro, Rogério Rodrigues, Nadir Afonso, Graça Morais, Balbina Mendes, José António Nobre.
A. M. Pires Cabral acaba de ver premiado um seu novo livro de contos, pela Associação Portuguesa de Escritores, no valor de 7.500 euros, patrocinado pela Câmara de Famalicão.
Este Bragançano (Chacim) de nascimento, mas vila-realense por adopção profissional já conquistou alguns dos mais cobiçados prémios nacionais, coroando a sua carreira literária, diversificada e copiosa. É hoje, inegavelmente, não só das maiores e mais sólidas referências literárias regionais, como nacionais. E tem ele sabido imprimir ao Grémio Literário que inspirou e dirige, esse cunho de saber e de experiência feito, para gáudio dos seus utentes que são muitos e cada vez mais fidelizados.
Acertou a Câmara de Vila Real quando o convidou para dirigir os serviços culturais. O Grémio Literário de Vila Real deve causar embaraços a muitos similares que outras Câmaras mais ricas tentaram impor, mas não conseguiram. Nalguma coisa os Transmontanos têm de impor-se por si.
Biblioteca Adriano Moreira - Bragança
Paralelamente a Câmara de Bragança inspirou e tudo fez para instalar, na sua Biblioteca Principal (com o nome de Adriano Moreira), a Academia das Letras de Trás-os-Montes que convidou para Presidente da Assembleia-Geral, precisamente A. M. Pires Cabral. Uma instituição não tira visibilidade à outra, antes se completam. O Grémio é um departamento autónomo da Câmara de Vila Real. Ao lado, debaixo do mesmo tecto, tem a Biblioteca. Aquele não funciona como associação. É integralmente gerido pela autarquia, através do seu legítimo representante Pires Cabral. E tem dado bons resultados. Em Vila Real a Câmara dá lições à Delegação da SEC.
Bragança, não em espírito de competição doentia, mas numa imitação saudável, avançou com a ideia de fundar a Academia de Letras de Trás-os-Montes. Nada faltou para que esse projecto fosse por diante. No prazo de um ano foi anunciado, formalizado e instalados os seus órgãos e os serviços administrativos. Ainda bem que A. M. Pires Cabral consubstancia esse binómio cultural.
Trabalham em sintonia as duas instituições, numa parceria exemplar: nos seus sites anunciam reciprocamente os movimentos culturais, de uma e de outra. E, como agora se vê, até os êxitos de alguns dos seus membros, são pretexto de orgulho para todos os membros de ambas. A demonstrar que foi princípio ajustado, colocar membros do Grémio, a liderar a AG da Academia. Assim como os associados da Academia, sempre foram e vão continuar a ser, presenças vivas e activas no Grémio Literário. Esta reciprocidade e cumplicidade cultural começam a impor-se num país em que a cultura e o apoio institucional aos seus agentes culturais como que impõem uma política mais de feição regional do que nacional.
Falamos por experiência própria: como agente de cultura nunca tivemos qualquer apoio, directo ou indirecto, através da Delegação da SEC. Mas sempre algumas autarquias, sobretudo aquelas que têm mais a ver com as nossas origens, estiveram sensíveis aos apelos formulados. Exemplifico com as de Montalegre, Boticas, Chaves e Valpaços. Certamente outros agentes terão boas razões para mencionar outras autarquias às quais estão ligados.
Neste aspecto o poder local tem razões para se congratular, face ao poder central.
E é bom ter este aspecto em linha de conta. Porque as terras valem não só pela sua riqueza telúrica, termal, agrícola ou turística. Também pelo mérito dos seus ilustres filhos que nas artes, nas letras, no campo da actividade profissional, demonstram a grandeza de espírito, de altruísmo e de amor à terra que os viu nascer. Ainda o associativismo, a hospitalidade, a arte de bem receber, são regras inatas ao carácter Transmontano e Alto-duriense. São disso prova as muitas e prestimosas casas regionais, onde pontificam o bairrismo e a solidariedade.

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