sexta-feira, 8 de julho de 2011

Antigas profissões regressam ao interior trazidas por pessoas das cidades

Numa altura em que a maioria das pessoas tenta melhores condições de vida nos grandes centros urbanos, há quem contrarie a corrente, procurando no interior formas de sustento através de antigas profissões, há muito ameaçadas. Em Freixo de Espada à Cinta, os irmãos Loureiro são amoladores, ou seja, artesãos que “afiam” instrumentos de corte como facas, tesouras, ou instrumentos agrícolas, ao mesmo tempo consertam velhas panelas de cobre, pratos de metal ou guarda chuvas.
Manuel e António Loureiro deixaram a vida que tinham na zona da Grande Lisboa (Almada), fizeram-se ao caminho e hoje em dia percorrem as regiões rurais à procura de trabalho nesta profissão que consideram “das mais antigas do mundo”.
Estes dois amoladores entram nas povoações de uma forma muito própria: a sua presença é assinalada com um toque de gaita muito característico e herdado do passado, ao qual ninguém fica indiferente.
Após o “chamariz”, donas de casa, talhantes, barbeiros, cozinheiros, alfaiates ou sapateiros deixam os seus afazeres para procurar os serviços dos amoladores.
“Nas grandes cidades não há trabalho neste ramo, as pessoas não se dão ao luxo de mandar amolar uma tesoura ou uma navalha. Não corta vai para o lixo”, observou Manuel Loureiro.
O equipamento de trabalho é transportável, simples e amigo do ambiente, já que tudo funciona com força motriz das pernas, tendo como base uma bicicleta onde está adaptado um esmeril, que é acionado com os pedais através da roda traseira do velocípede.
“O custo de vida em Almada é muito alto, assim percorremos todo o interior à procura de sustento para as nossas famílias, por vezes chegamos a estar fora de casa mais de um mês”, acrescentou António Loureiro.
Os dois amoladores estão convictos que a profissão de amoladores está ameaçada de extinção, justificando que “ os mais novos não quem trabalhar no ramo”.
“As pessoas com mais idade gostam de ter os seus instrumentos de corte bem afiados e as vezes por dois ou três euros não se querem desfazer, por vezes de peças, que herdaram ou que as acompanham há muito tempo no seu dia a dia”, justifica Manuel Loureiro.
Em Freixo de Espada à Cinta, este dois amoladores não tiveram mãos a medir, já que o trabalho de um dia pode ir até aos 50 euros por cada um dos amoladores.
De terra em terra, de lugar em lugar, o apito do amolador ainda se faz sentir, e aqueles que acreditam em velhas profissões ainda têm tempo de “ganhar algum dinheiro” numa altura em que “a crise social e económica são uma ameaça”.
A profissão de amolador é antiga: a mesma já foi herdada pelos irmãos Loureiros dos seus pais e avós e hoje é o sustento de uma família.
@SAPO com Lusa

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