sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O ermo das bruxas

Há um sítio na aldeia de Zedes, do concelho de Carrazeda de Ansiães, que é
conhecido por “ermo” e onde nenhuma erva nasce apesar de a terra ser boa. Dizem os
antigos que aquele é o sítio da reunião das bruxas e que, por isso, a erva ali não
consegue nascer.
Contava-se antigamente que as bruxas se vingavam daqueles que as apoucavam.
Diz-se que certa ocasião uma mulher, a conversar com outras ao soalheiro, afirmou alto e bom som que se alguma bruxa se chegasse perto dela lhe faria isto e aquilo. Ora, nessa mesma noite, as bruxas roubaram-lhe um filho, ainda de berço, e levaram-no para o tal “ermo”, onde passaram a noite a jogar com ele de mão em mão. Daí em diante, a criança começou a definhar e disso morreu.
Contava-se também que houve um rapaz forte e valente, que andava sempre a dizer que não tinha medo de nada.
– Nem das bruxas do “ermo”? – perguntaram-lhe um dia.
– Elas que me apareçam e hão-de ver a que terra vão parar!
Nessa mesma noite saiu de casa como sempre fazia e, depois da meia-noite, ao passar no largo da aldeia atravessou-se-lhe um vulto preto que lhe pareceu um porco ou uma porca. E disse para consigo:
– Quem diabo terá deixado fugir este reco?
E pôs-se a correr atrás dele para o agarrar. Mas quanto mais corria, mais o animal corria também na sua frente. E tanto correu atrás que foi parar ao “ermo” das bruxas, onde encontrou outros porcos ou porcas à espera.
Nesse momento, os animais puseram-se a correr em círculo à volta do rapaz, chamando pelo seu nome e rindo em altas gargalhadas.
Diz-se que o moço apanhou tanto medo que até fez o sinal da cruz a pedir ajuda a Deus. E ao fazer o sinal da cruz o círculo dos porcos desfez-se e ele pôde regressar a casa. Desde esse dia, nunca mais andou na rua fora de horas.

 PARAFITA, A – narrações Orais - Património Imaterial do Douro –, vol. 2, 2010, p. 219

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