sexta-feira, 5 de junho de 2015

ALDEIA - «Há oportunidades para quem gosta e procura viver no interior»

Uma associação juvenil nasce em Vimioso em 2004 e, naturalmente, cresce para outras partes do país. A missão inicial de salvaguardar o património ambiental, mas sobretudo desenvolver um projecto educacional, mantém-se hoje viva. A cultura e as tradições do país são também mote de conversa quando falamos da ALDEIA.
Percorrer o país interior de Norte a Sul pode ser uma viagem de descoberta de fauna e flora, com espécies únicas no mundo; uma viagem por paisagens contrastantes, por modos de vida únicos. Trata-se de uma riqueza ambiental preservada por muitos cidadãos, mas desconhecida de uma grande parte dos portugueses. Um grupo de jovens cria, em 2004, no Vimioso, uma associação com fins educacionais sobre o ambiente e a cultura de Portugal. Nasce a ALDEIA, cuja área de trabalho se cingia ao nordeste transmontano. Um dos mentores do projecto, Ricardo Brandão conversou com o Café Portugal, e conta com mais pormenor como surge a Associação ALDEIA (Acção, Liberdade, Desenvolvimento, Educação, Investigação e Ambiente). «O que moveu a criação da associação foi um grande interesse pelo conhecimento do interior rural, dos modos de vida das populações e principalmente, da procura de oportunidades e criação de projectos em áreas geográficas onde ainda existe uma boa preservação dos valores naturais», conta.
Passados cinco anos, a ALDEIA abriu as fronteiras da área de intervenção e está agora presente na Serra da Estrela, Alto Alentejo e Algarve. Nestas regiões os empreendedores do projecto abordam diversas temáticas como «a educação ambiental e conservação do património natural (fauna, flora e cogumelos silvestres, entre outros) até à cultura e à valorização das tradições em meio rural», explica Ricardo Brandão. Actualmente, a ALDEIA gere também dois centros de recuperação de animais selvagens, na Serra da Estrela, a CERVAS, e no Algarve, RIAS. 
O Portugal interior, ao abandono, vê os jovens partirem para as cidades. Muitos não olham para trás e na mala não levam bilhetes de volta. Uma situação que conduz à perda de muita da nossa cultura tradicional. Para Ricardo Brandão o cenário é recorrente por haver um desconhecimento daquilo que é endógeno e tradicional. «Há oportunidades para quem gosta e procura viver no interior, e esta re-aproximação ao mundo rural é precisamente o que poderá permitir manter vivas tradições e costumes que naturalmente tendem a desaparecer se não forem vividos pelas pessoas», comenta. No entanto, considera que «há um eterno discurso fatalista de abandono e desertificação, que alimenta a vontade das pessoas que vivem no interior ambicionarem partir para outros locais com ‘melhor’ qualidade de vida».
A ALDEIA faz então um trabalho em várias frentes, na população urbana, na rural e nas empresas. O nosso entrevistado explica: «Tentamos cativar um público urbano que participa das diversas actividades formativas (cursos, jornadas) que a ALDEIA promove, levando-o a conhecer um pouco mais do interior rural português, mas por outro lado, também se pretende (re)criar elos de ligação entre as populações rurais e a conservação da natureza. Aqui recorremos mais às estratégias de sensibilização e educação ambiental». A colaboração com as empresas faz-se, por exemplo, no âmbito de projectos de conservação de espécies ameaçadas, como o Plano de Emergência para a Recuperação de três Espécies de Aves Rupícolas (PEAR), em desenvolvimento no Parque Natural do Douro Internacional.
Um Portugal rico e por descobrir é a base de trabalho da ALDEIA. «Por vezes, importam-se ideias e ‘novas tradições’, o que será provavelmente desnecessário tendo em conta a diversidade cultural existente em Portugal, principalmente no interior», concluiu Ricardo Brandão, para quem a continuação da sua existência assenta, essencialmente, na educação e na criação de elos à terra, um trabalho onde as entidades locais desempenham um papel fundamental. 
A ALDEIA promove encontros e conferências, ciclos de cinema, festival de sons da ruralidade, passeios pelo campo para observação da natureza, entre outras actividades. Para participar basta tornar-se sócio, pagando uma quota anual.

Sara Pelicano
in:cafeportugal.net

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