sábado, 6 de junho de 2015

O SR. CÉSAR


O meu profundo cepticismo sobre a bondade da condição humana é abalada por pessoas da estirpe do Sr. César dos Santos Barata.
Amigo do seu amigo, esmoler, adepto da máxima de a mão esquerda não ver o feito pela mão direita, o patrão dos sempre desavindos Carlos Gardel e “Vila Real”, nunca murmurou contra os desatinos da vida, sempre viu um raio de sol nos densos nevoeiros nas manhãs dos Invernos rigorosos de Bragança.
Comecei a frequentar a sua barbearia principal após ter tido direito a calças de “terylene” bem vincadas.
Aquela barbearia, era privilegiado espaço de muitas tertúlias, numa mesma tertúlia.
O Sr. Monteiro dos jornais, o Sr. Zé Fernandes, o Sr. Queiróz, o Sr. Padre Carneiro, só por eles animavam debates, proferiam sentenças e nunca ficavam desapercebidos, dada a ladinice dos seus ditos certeiros e espirituosos.
O Sr César a tudo dava resposta, humorada, virtuosa, apaziguadora. Aos filhos transmitia ânimo, da mulher recebia afagos e recomendações. Não me lembra de o ver entediado ou aborrecido, muito menos rancoroso ou atreito a invejas.
Rejubilava ante o bom desempenho dos jovens no início das carreiras. Profundamente religioso, nunca se deixou seduzir pela tagarelice, muito menos pela impudência.
Durante dezenas de anos, durante milhares de dias a fio, todas as manhãs, estivesse frio ou calor, ele apresentava-se em casa do facultativo Dr. Abreu para o escanhoar a preceito. Um raro exemplo de cumprimento do acordado em devido tempo, de gratidão e também de amizade.
É minha acendrada convicção que o Sr. César, sempre soube qual era o seu caminho e o seu sentido do dever.
Indiscutivelmente, este homem era um Homem bom.

in: Figuras notáveis e notórias bragançanas
Texto: Armando Fernandes
Aguarelas: Manuel Ferreira

1 comentário:

  1. Bem haja pelo reavivar das boas memórias, num tempo em que faz falta olhar somente para a parte cheia do copo!

    ResponderEliminar