segunda-feira, 5 de abril de 2021

As Crendices e Superstições no Distrito de Bragança

Segundo a Wikipédia, superstição é uma crença irracional sobre a relação causal entre certas acções ou comportamentos e ocorrências posteriores, como a crença comum no Brasil que quebrar um espelho causa sete anos de azar.
Superstições mais comuns:
Coceiras: Se a palma da mão coçar, é sinal que irá receber dinheiro.
Se a palma da mão esquerda é que estiver coçando, uma visita desconhecida está para aparecer. Coceira na sola do pé significa viagem ao exterior.
Elefantes: Ter um elefante de enfeite, sobre um móvel qualquer, sempre com a tromba erguida mas de costas para a porta de entrada, evita a falta de dinheiro.
Orelha: Se sua orelha esquentar de repente, é porque alguém está falando mal de você. Nesses casos, vá dizendo o nome dos suspeitos até a orelha parar de arder.
Para aumentar a eficiência do contra-ataque, morda o dedo mínimo da mão esquerda: o sujeito irá morder a própria língua.
Objectos perdidos: A maneira mais eficiente de encontrar algo que desapareceu é dar três pulinhos para São Longuinho.
Gatos: Na idade média, acreditava-se que os gatos pretos eram bruxas transformadas em animais. Por isso a tradição diz que cruzar com gato preto é azar na certa. Os místicos, no entanto, têm outra versão. Quando um gato preto entra em casa é sinal de dinheiro chegando.
Acariciar um gato atrai boa sorte. Ter um gato em casa atrai fortuna.

Se um gato dobrar suas patas e se deitar sobre elas deixando-as escondidas é sinal que uma tempestade está por vir.
Espelhos: Quem quebrar um espelho terá sete anos de azar.
Ficar se admirando num espelho quebrado é ainda pior. Significa quebrar a própria alma.
Ninguém deve se olhar também num espelho à luz de velas.
Não permita ainda que outra pessoa se olhe no espelho ao mesmo tempo que você.
Guarda-chuva: Dentro de casa, o guarda-chuva deve ficar sempre fechado. Segundo uma tradição, abri-lo dentro de casa traz infortúnios e problemas aos familiares.
Aranhas: Aranhas, grilos e lagartixas representam boa sorte para o lar. Matar uma aranha pode causar infelicidade no amor.
Brinde: Se o seu copo contiver algum tipo de bebida alcoólica, não brinde com ninguém cujo copo contenha bebida sem álcool. Vocês terão seus desejos invertidos.
Vassoura: Colocar uma vassoura com o cabo para baixo atrás da porta faz as visitas indesejáveis irem embora logo.
A vassoura deve ser guardada na posição vertical para evitar desgraças.
Crianças que montarem em vassouras serão infelizes.
Varrer a casa à noite expulsa a tranquilidade.
Número 13: O número 13 é tido ora como sinal de infortúnio, ora de bom agouro.
Se uma sexta-feira cair no dia 13 de um mês é um mau sinal. Todo cuidado é pouco nesse dia.
O número treze é tão temido que há lugares onde os prédios não possuem o décimo terceiro andar.
Aspectos religiosos

Segundo alguns religiosos, há conceitos definido pela Bíblia Sagrada de que o supersticioso não herdará o reino de Deus, ainda que essa superstição esteja fora da temática religiosa.
Nesta temática é incontornável a obra do Abade de Baçal «Memórias Arqueológico- Históricas do Distrito de Bragança». No tomo XI, faz referências a crendices e superstições de forma autónoma, não obstante a sua interligação.
O Abade de Baçal encontra particularidades existentes em terras bragançanas mas similitudes com as crendices e superstições descritas por Apuleio no Burro de Ouro e por Cícero, Virgílio, Horácio, Ovídio e outros.
Ele discrimina as seguintes superstições:
ÁRVORES - É notável no homem a tendência para conhecer o futuro, por intermédio das forças misteriosas na natureza, ou como tais supostas, recorrendo muitas vezes à charlatanice para explorar os ingénuos.
CABELOS - Existiam mulheres que ofereciam as cabeleiras aos santos, como o fim de recuperar o amor dos seus maridos. Homero, Ilíada, conto XXIII, descreve Aquiles a cortar a sua cabeleira para ser queimada na fogueira fúnebre de Pátroclo.
CASAMENTO - Ainda hoje, diz o Abade de Baçal, em algumas terras bragançanas, quando uma mulher vai a casa de outra com demora de alguns dias, é sinal de grande estima a ama da casa entregar à recém-vinda a chave da despensa, onde se guarda a provisão dos mantimentos para consumo e encarregá-la da sua administração.

Vejamos: quem é que olha para o colega do lado que distraidamente está com um colarinho da camisa fora da camisola e, para além de lhe parecer patético, se lembra da questão: “estás a pedir alguém em casamento?” E se ele estivesse a pedir alguém em casamento? Bem... então, no decorrer do período de namoro, o par enamorado não poderia apadrinhar o casamento de outros e o nosso colega teria de recorrer à sua memória, e perguntar a si mesmo, se alguma vez teria experimentado alianças de casamento de alguém, ou se alguma vez se tinha sentado ao canto de uma mesa ou mesmo se numa outra vez, distraída ou propositadamente, lhe tinham varrido os pés.
Se mesmo assim resistisse a todas as crenças e persistisse com a ideia de casar, alguém teria de lhe oferecer um saco para colocar diariamente o pão. Se houvesse irmãos, teria de ter em conta que dois (duas) irmãos (irmãs) não se devem casar no mesmo dia, porque a felicidade pode “fugir” para um (a) deles (delas). Não se deveria casar ao meio-dia, porque é a hora em que o diabo anda à solta. Também não poderia ver a noiva no dia do casamento salvo aquando da cerimónia, sabendo apenas que esta não deveria usar ouro, devia sim, e neste dia, usar uma jóia da alguém que tenha vivido feliz, usar uma liga azul, uma coisa usada e outra emprestada, ou uma coisa nova e uma coisa velha.
Se tudo corresse “como manda o figurino” ainda tinha de levar com arroz em cima e  oferecer lembranças de agradecimento aos convidados que enfeitariam grosseiramente o seu carro!
Finalmente, chegaria àquela que seria a sua futura casa (mesmo que não fosse naquela noite) e teria de “carregar” com a noiva ao colo e deparar com uma cama genialmente preparada, isto é feita “à espanhola” e com uns grãozinhos de açúcar na mesma, para adoçar o final da história que simbolizaria o princípio de uma outra e nova etapa da vida... o matrimónio.
A Lua-de-Mel parece fugir às superstições e lembra-se apenas que surgiu na antiguidade com este nome porque quando os casais se casavam e iam para casa na noite de núpcias, os vizinhos e parentes desenhavam uma lua com mel na porta da casa para dar sorte.
ESPIRROS - Os romanos já tinham uma saudação dirigida aos que espirravam equivalente ao nosso – Dominus tecum – Para o céu, segundo muitos dizem, como se vê em Apuleio. O nosso povo diz que a saudação – Dominus tecum – Deus esteja contigo, proveio de uma epidemia que matava repentinamente. Em face dos agouros nefastos atribuídos aos espirros, é de supor que a lenda da epidemia derive de crendice.
FEITICEIRAS - Têm uma fórmula e untura para se tornarem invisíveis, marcharem para onde querem ou se transformarem noutros animais.

O povo tem vários remédios contra feitiços, entre os quais se conta a figa, ou seja, o phallus (membro viril entre os Gregos), correspondente ao Deus Príapo entre os romanos.
FOGUEIRAS - Em imensas localidades do Nordeste Transmontano, faz-se fogueira na quadra de Natal que dura quatro dias ou mais.

Nas noites de São João e São Pedro queima-se marrolho, rosmaninho, uma erva que se cria na primavera no secadal dos lameiros e dança-se à roda das fogueiras, cantando loas aos ditos santos.
FUNERAIS (CULTO DOS MORTOS) - Em determinadas aldeias há jantaradas nos enterros e funerais que correspondem a autênticas necessidades, pelo menos nas aldeias. As pessoas vêm de longe e nas aldeias não há onde dormir.

Noutras  localidades há beberetes de comes e bebes, de pão e vinho.
O culto aos mortos (mais precisamente dos que se encontram no Purgatório) foi estabelecido pela Igreja católica com o nome de Finados.
É comemorado no dia 2 de Novembro de cada ano, logo depois do dia de Todos os Santos (1 de Novembro).
No início não se comemorava nos cemitérios. Só com o tempo é que a festa evoluiu e se fez acompanhar com velas e flores nos cemitérios.
O culto dos mortos existe em quase todas as culturas do mundo. Até nas que nunca ouviram falar umas das outras!
Em Portugal e noutros países da Europa, o Dia de Finados é celebrado com tristeza, pois recordam-se as pessoas de família e amigos que já morreram.
As pessoas vão aos cemitérios, deixam ramos de flores nas campas e acendem velas para iluminar os falecidos no caminho até ao Paraíso e mandam rezar missas em seu nome.
As flores que se põem nas campas são, por tradição nesta altura do ano, os crisântemos.
O terramoto de 1755, aquele enorme que houve em Lisboa e que matou milhares de pessoas, foi no dia 1 de Novembro!
Mas existem países em que o Culto dos Mortos é comemorado de uma maneira completamente diferente. Por exemplo, no México, que também é um país católico, fazem uma festa enorme e alegre!
JUDEUS - Era comum fazer aos judeus a acusação de abafarem (matarem) seus doentes, sem esperança de cura, para lhes abreviarem o sofrimento.
LOBISOMENS - Sendo a lenda popular bragançana, nascem com o fadário de lobisomens os filhos gerados em sexta-feira santa e os de compadre e comadre. A crendice no lobisomem já o paganismo a mantinha, atribuindo-a, porém, aos membros de uma família que andavam durante nove anos transformado em lobos, readquirindo no fim deste tempo a personalidade humana. O povo, perdido o conhecimento das coisas, explica-as a seu modo por ideias correntes no seu tempo e muitas vezes juntando-lhe elementos de outras lendas.
LUA - A lua é muitas vezes encarada de forma negativa - O que talvez se deva ao facto de, ao contrário do Sol, não gerar luz, antes a reflectir. A variação aparente da sua forma permaneceu durante muito tempo misteriosa... Também se especulou muito sobre a influência indecifrável que este satélite da Terra exercia sobre as mulheres, o humor dos indivíduos (até provocar a loucura, pretende a lenda), o movimento das marés...

Princípio - A selenologia, ou estudo da Lua, afirma que o quarto crescente favorece tudo o que cresce, quer se fale de empreendimentos, da cultura da terra, da felicidade ou de infelicidade (até à lua cheia, incluindo essa data); o quarto minguante é favorável a tudo o que declina e se fortalece do interior (as colheitas...). Cortar o cabelo ou as unhas, praticar uma sangria ou um purgante: todas estas operações estavam outrora sujeitas às datas das fases da Lua.
Influência sobre os animais - Em Espanha, outrora, evitavam-se cuidadosamente os períodos de lua cheia para matar um porco; na verdade, temia-se que a carne se deteriorasse rapidamente e que se tornasse impossível conservá-la. Além disso, consta que os bezerros e os cordeiros concebidos durante esta fase não sobrevivem ou dão origem a partos difíceis.
A linha da Lua - De noite, quando a Lua está visível, o seu reflexo desenha no mar uma lima por cima da qual os pescadores irlandeses evitam passar.
O halo da Lua - Este halo, quando aparece, anuncia chuva.
MALMEQUER - Falamos no desfolhar do malmequer pelos namorados para saber se um deles tem ou não amor ao outro. Tal usança já vem do paganismo que, para isso utilizava a flor da papoila, colocando na mão fechada e batendo com a outra em cima. Conforme o estalo da flor, era grande, pequeno ou nulo, assim significava o grau de amor.
MANDRÁGORA - Apuleio também a menciona, dizendo que «o soporífero da mandrágora é famoso pela modorra que causa e eficaz para produzir um sono semelhante à morte».
MOCHO - É tida como uma ave agourenta, nocturna, núncia de infortúnios, que os romanos procuravam apanhar quando entrava em alguma casa, pregando-a nas portas, «para expiarem por seu tormento as desgraças de que ameaçavam as famílias com os seus nefastos voos».
OLHAR PARA TRÁS - Nas crendices populares, encontra-se a de não olhar para trás ao marchar, depois de praticados certos actos de terapêutica medicinal.
PÉ ESQUERDO - Entrar em casa com o pé esquerdo, é mau agoiro. Nos templos gregos, a escadaria para subir ao altar tinha três degraus. Os romanos nem sempre observaram esse cânone e limitavam-se a construí-las com um número ímpar de escalões, em obediência à crendice de entrar em casa com o pé direito, visto naturalmente iniciar-se a subida com esse pé, dando em resultado ser ele o do ingresso na casa.
PREGOS NAS PORTAS - Os romanos cravavam nas portas pregos arrancados dos sepulcros, ou colocavam nelas o phalus, para afugentar de seus jardins malefícios e ladrões.
CULTO DA PEDRA
PROCISSÕES - As procissões vão tornar-se um aspecto importante da atitude devocional que se afirma a partir do séc. XIII. Às primitivas práticas mágicas colectivas, contrapõe-se a alteração das mentalidades, que procura afirmar a individualidade religiosa. A proliferação e afirmação das múltiplas devoções neste século, com maior expressão no culto dos santos e das relíquias associadas, bem como nas inúmeras invocações da Virgem Maria, do Espírito Santo e da Cruz, assim como as peregrinações a locais considerados especialmente santificados, vão assumir grande importância na vida cultural e religiosa, dando-nos, desta forma, o registo da diferença de atitudes perante o catolicismo.

Estas modificações revelam-se primeiramente no espaço urbano, mais permeável às alterações de mentalidades. E as procissões, enquanto manifestações extra litúrgicas que aliam o sagrado ao profano, contribuíram para essa alteração.
Ligadas ao aparecimento das ordens mendicantes, com especial relevância para os franciscanos, que, de forma pedagógica, procuravam ilustrar e explicar os mistérios da fé católica às populações. As suas encenações do presépio, da via sacra e de episódios sagrados, assumiram-se, durante muito tempo, no instrumento mais eficaz para explicar e difundir a religião católica.
A teatralidade inerente a estes actos, afirmava o carácter de festa ligado às procissões, onde o povo e também a nobreza dominavam os espaços, através da imposição dos seus elementos distintivos. As insígnias das várias hierarquias sociais, e das diferenciações entre elas, tinham um lugar importante nas procissões, seguindo um protocolo onde cada uma tinha seu lugar. A cultura popular introduz também os seus elementos, tais como gigantes, serpentes e outras manifestações simbólicas do imaginário popular. E é também uma forma de afirmação da legitimidade dinástica, utilizada por D. João I, que introduz S. Jorge na procissão do Corpo de Deus. Durante séculos, as procissões são os grandes acontecimentos sociais em Portugal.
As procissões obedecem a determinados rituais, sendo frequente ainda as autoridades e individualidades locais irem no Pálio. São muito conhecidas as Procissões das Velas que se realizam um pouco por todo o país.
RAIO - Não muita gente que não tenha respeito aos raios, faíscas e relâmpago e não pronunciam nada de bom.
CULTO DA SERPENTE - A serpente é um símbolo de sabedoria para filósofos, alquimistas e sacerdotes. Representa o cúmulo de conhecimento conseguido através dos tempos e a reciclagem constante nas suas infinitas trocas de pele. Tem o poder de matar e curar com o mesmo veneno. A serpente mais velha de todas é Satã, que, segundo a versão bíblica, enfeitiçou e seduziu as duas primeiras criações humanas divinas.
SONHOS - Sonhar que se é açoitado, degolado ou com tristezas que fazem chorar, anuncia sorte, fortuna; pelo contrário, sonhar com risos, comidas deliciosas, comezainas, amores, é indício de contrariedade e desgostos.
TABUS - São preceitos considerados religiosos ou supersticiosos que envolvem conceito de imoralidade para quem os transgride, atraindo, além disso, infortúnio sobre os transgressores.
TOTETISMO
VARINHA DE CONDÃO - Varinha mágica é um instrumento muito usado pelos bruxos; para estes, é como se fossem uma extensão dos dedos e simboliza o controle do poder. É também conhecida como bastão (magia).

Geralmente é feita de madeira ou marfim, mas pode ser feitas de outros materiais dependendo do seu fim, como mogno, teixo, salgueiro, entre outras. Uma grande parte dos bruxos faz sua própria varinha mágica, ao invés de comprá-la, pois acreditam que assim estarão "incorporando seu poder" a ela.

Fonte:cm-mirandela.pt

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