domingo, 1 de janeiro de 2012

A DITADURA DA INFORMAÇÃO-O maior e mais recente fracasso da família humana é a própria democracia.


Vivemos num mundo conturbado, acabado de chegar a uma inegável necessidade crítica de mudança.
Os valores morais reformulam-se face a novos e por vezes estranhos contornos de conveniências, o bem o e mal são aceites também pelos seus inversos, conforme as culturas de origem, a lei tanto serve os seus princípios como inverte ónus de prova e despe de significado a presunção de inocência, a cultura está a mudar, a sociedade está a mudar, os princípios que definem a “humanidade” da espécie mudaram, as doutrinas mentem os seus dogmas carismáticos numa tentativa de prorrogar ideologias que morreram às mãos dos seus próprios executores...
Estamos no dealbar de uma viragem histórica com dimensão de Novas Eras.
E parece que ninguém dá conta... ou que é mais conveniente fingir que não se dá conta...
O maior e mais recente fracasso da família humana é a própria democracia. Herdeiros de uma cultura que condena os tiranos, os senhores feudais, os imperadores déspotas, os ditadores prepotentes que subjugavam os povos através da força, da negação de acesso à cultura, das polícias políticas, da censura e da manipulação cultural da juventude, parecemos ter limitado a nossa compreensão dos instrumentos de domínio à recordação académica dos seus métodos – apesar de todos do passado, todos desacreditados, todos hoje inúteis por demasiado reconhecíveis.
Parecemos ter esquecido que quem manda, sejam governos, grupos de pressão, interesses económicos ou mesmo as secretíssimas organizações que preferem um perfil quase invisível, tem uma inventividade sem limites. Só as ideologias menos pragmáticas, como o comunismo clássico ou a igreja católica, se deixam ultrapassar pelo motor dos tempos e têm dificuldade em adaptar-se.
Mas uma coisa não mudou, em milénios de história: quem manda tem que levar os mandados a cumprir os seus desígnios.
Os tempos, no entanto, são outros.
Não pode já ser feito pela força. Embora ainda frequentemente tentado, como o tem sido em Portugal, muitas vezes nem sequer é possível fazê-lo usando a lei como instrumento, já que muitos enunciados de direitos humanos difundiram princípios de ética como normas inultrapassáveis de conduta.
Por isso abolimos a escravatura, vamos abolindo a pena de morte, demos voto às mulheres, reconhecemos o direito das pessoas à sua própria orientação sexual, à liberdade religiosa, ao direito de expressão.
Como, então, conseguir esse poder de dirigir o imenso rebanho humano na direcção “certa”?
A própria ciência, a tecnologia, a sociedade global de informação fornecem os meios.
Nos tempos da guerra colonial portuguesa o estado fazia “acção psicossocial”. Não é nada de novo – os princípios estão enunciados, que se saiba, há 2.600 anos... mas foi um conceito invisível durante mais de dois milénios, que só volta aos compêndios no último século.
No entanto resulta, desde que exista um projecto de intenção e meios para o concretizar. Na revolução cultural de Mao Tse Tung todos tinham um livrinho vermelho, hoje todos têm televisão, amanhã todos dependerão da Internet... até mesmo para ver televisão.
É uma nova revolução cultural, em que o instrumento se chama “media” – com toda a imensa abrangência que o termo implica – e as regras são lineares, semelhantes às de mercado: um anúncio que passa 200 vezes por dia vende mais que um que um que passa dia-sim dia-não, portanto, quanto maior a capacidade de intervenção, maior o resultado – estamos de novo a falar nos níveis de exercício de poder.
É essa a extraordinária mudança que ocorreu, quase sem se dar por isso, em sociedades modernas e civilizadas, de que talvez os Estados Unidos sejam o melhor exemplo, até mesmo por liderarem as tecnologias de informação. Quem controla esses meios controla as populações. É uma nova forma de ditadura, nem de tirano, nem de proletariado, mas efectivamente de informação.
Tão inteligente quão futurista, tem o privilégio de manter os povos sob seu controlo tão ignorantes de que são manipulados que nem se apercebem dos tentáculos da ditadura, pelo contrário, até vivem convencidos que são livres e independentes.
O actual conceito de democracia já não se limita a respeitar a vontade das maiorias, impõe-na - mesmo quando as minorias não são invasivas – e em relação às próprias maiorias vão-se arranjando justificações para limitar direitos, que vão “do combate ao terrorismo” à “segurança interna das nações”. O sigilo bancário foi-se, as escutas telefónicas estão na ordem do dia... por aí adiante.
O último bastião da “democracia” será, talvez, o sistema eleitoral, que coloca no poder quem o povo vota... mas a verdade é que ganha quem tem o poder económico para formatar a melhor campanha, quem tem um acesso mais amplo à comunicação social, ou maior capacidade para controlar os “media”.
É uma democracia de rabo na boca...


Um artigo de Pedro Laranjeira
in:http://movimento.vidasalternativas.eu

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