quinta-feira, 18 de junho de 2015

As redes hidrográficas concelhias

...continuação


No Concelho de Vila Flor, o principal sistema hidrográfico do território é o constituído pela ribeira de Vilariça com seu sistema adutor de ribeiros e ribeiras que para ela concorrem de Nascente para Poente e de Poente para Nascente.

O veio principal da ribeira de Vilariça nasce em ribeira, por cima de Burga, concelho de Bragança, serra de Montemel, sítio do Miradouro (Memória de Santa Comba, Lodões). Lança-se no Sabor, junto do Douro, no sítio de Boeda da Torre, depois de percorrer, desde a nascente, cinco ou seis léguas (Memória de Santa Comba, Lodões). Passada a secção inicial, a ribeira navega-se todo o ano, excepto em tempestades no Inverno (Memória de Lodões). Muito caudalosa no Inverno por causa do concurso dos seus muitos ribeiros, em especial pelo concurso da ribeira de Vilar, que lhe pode provocar muitos danos.

Como foi aliás o que aconteceu com as enchentes deste ano de 1758, particularmente danosas (Memória de Santa Comba). Na vertente Nascente-Poente, na ribeira desaguam, de montante a jusante, a ribeira de Vilar, a ribeira de Vilarelhos, a ribeira das Alvas, o ribeiro de S. Martinho; na vertente Poente-Nascente, o rio Vale da Vinha, o rio Rego do Santo, o rio da Casa, o ribeiro de Vale da Cal. Estes são pequenos cursos de água – que pela sua «pobreza» (isto é, manacial de água) poderiam ficar no rol do esquecimento – como se lhes refere o memorialista de Santa Comba –, mas que em alguns Invernos se podem tornar caudalosos. A ribeira da Vilariça, e também algumas secções dos ribeiros e ribeiras afluentes, são de uma produção variada e rica e nelas se cultiva para além do cereal, da oliveira, da vinha, os canimos, o linho, os melões, os feijões com elevados índices de produtividade e produção no rico nateiro deixado pelas inundações (Memória de Santa Comba); melões de Vilariça que se conduzem em Agosto em pequenos barcos, abaixo do Cachão da Valeira, para a cidade do Porto (Memória de Marzagão, concelho Anciães).

Estes são rios muito favoráveis à instalação de moagens, ainda que o seu perfil de ribeiros de Inverno em muitos deles só lhes permita laborar de Outubro a Junho. Que são em grande quantidade.
Na ribeira da Vilariça situam-se naturalmente na sua secção mais próxima ao nascente. No ribeiro que nasce na Fonte da Taça e corre para Vale do Torno e com outros se lança na Vilariça, conta o memorialista, 8 moinhos. Pelo território do concelho ainda passam o Sabor (Memória de Sampaio) e o Tuela. Este daqui recebe dois ribeiros que transitam pela serra da Cabreira – o ribeiro da Cabreira e a ribeira de Ponte das Vinhas – também eles caudalosos no Inverno, mas «exaustos» no Verão (Memória de Freixiel).
No Concelho de Carrazeda de Anciães, o rio Tua é aqui também o curso de água principal. Corre de Norte para o Sul e logo desagua no Douro, limitando o concelho pelo Poente. Nos limites do concelho terá de extensão quatro léguas (Memória de Marzagão). Recebe ainda alguns rios e ribeiros do termo, designadamente o rio Tinhela. Outros rios e ribeiros seguem directamente ao Douro: o ribeiro de Marzagão (Memória de Marzagão), os ribeiros da Dama e das Arcas (que entram em conjunto no rio abaixo de Paradela (Memória de Amedo), o ribeiro Largo, que se desenvolve por duas léguas até entrar no Douro com dois pisões e doze moinhos; o ribeiro Lubazim, que divide o concelho de Vilarinho da Castanheira; o rio Baixo das Vasas que com o Frarigo se lançam no Douro (Memória de Castanheiro).

Percorrido pelo Tua o Douro está-lhe nos horizontes próximos para onde se conduzem directamente as águas de alguns ribeiros que se não lançam no Tua.

O sistema hidrográfico do Concelho de Bragança é dominado pelo Sabor que em si reúne uma boa parte das nascentes do interior e de fora do território. Sobre o local do seu nascimento, as indicações variam, por informações diversas ou relevo de diferentes topónimos, mais ou menos gerais. O mais comum são concordantes em situar o seu nascimento no alto da serra de Gamoeda, serra do Conde de Benavente, por cima do lugar de Montezinho, em cujo sítio está a chamada Pedra Estante. Pelo termo da primeira légua de desenvolvimento «quando vão tomando corpo as suas águas (…) já desembaraçado dos musgos (…) corre perene e se começa a denominar Sabor (…)». Este é um território de litigância de limites, que os Portugueses querem fixar na Pedra Estante, mas os Espanhóis querem trazer até o Porto Sabor, por onde lançam os seus gados. No lugar de França, uma légua e meia desde o nascimento, já vai caudaloso (Memória de Parada do Outeiro).
O Sabor lança-se no Douro ao pé da Torre de Moncorvo, depois de um largo percurso sobre cujo valor em léguas as informações dos párocos variam: 16, 17, 18 ou 20 léguas (conforme se referem à ligação directa ou pelas voltas do rio). A ele conflui uma grande variedade de rios e ribeiros, alguns nascidos em Espanha, com mais ou menos extensão. Alguns relativamente aos quais não é possível fixar nome porque o tomam da terra ou terras por onde passam. Nele se lançam as primeiras ribeiras dignas desse nome: ribeira de Valmourim (no lugar de Rabal), o rio de Aveleda (ou Calabor) também com origem em Castela (entra no Sabor em o lugar de Oleirinhos), a ribeira de S. Jorge (no termo de Meixedo). A jusante de Gimonde se lhe incorporam os rios Melara, Contense e Rio da Igreja. Rio Contense que nasce no termo de Póvoa, Castela, serra de Montesinhos – tomara o nome de Ariães – entra com o nome de Melara em um rio chamado Rio da Igreja. E ambos vão morrer ao Sabor, junto ao lugar de Gimonde, num percurso de cinco léguas (Memória de Labiados, Rio de Onor, Avelãs, Gimonde, Grijó de Parada). Com a incorporação do rio Fervença e Penascal o rio ganha volume e espraia-se aqui e acolá (Memória de Parada de Outeiro com interessante descrição das primeiras 9 léguas).
De Castela vem também o rio Maçãs onde nasce em Linharela. Entra no Sabor por baixo de Junqueira depois de um trajecto de sete para oito ou oito para nove léguas. É o rio que divide os dois Reinos. Nele se localizam três pontes de pedra: uma no termo de Argozelo (Vila de Outeiro), outra no termo de Vimioso, outra no termo de Algoso (Memória de Quadramil), Petisqueira, Outeiro. Esta ribeira de Fervença é um dos principais afluentes que em si concentrou outros afluentes, antes de se lançar no Sabor. Vem da serra de Nogueira, Portela de Ladario ou Grandais, onde recebe as ribeiras de Grandais e Castro (de Avelãs) que nele se metem ao Cabeço da Cidade (Memória de Bragança). E também o rio Remisquedo, que junto com o Calaveiro de Nogueira ou rio de Caumbe e o de Sarzeda – chamando-se então Penascal se lançam no Fervença por baixo de Alfaião (Memória de Rebordainhos, Santa Comba de Rossas). A ribeira Grande que nasce no termo de Rebordainhos, depois de receber a ribeira de Sanceriz (nasce no termo de Freixeda, junta-se à ribeira Grande em Frieira) lança-se no Sabor, no lugar de Talhas, depois de 4 léguas de percurso. Nela se registam duas pontes de pedra, uma em Frieira de cinco arcos e outra junto a Gralhas, pontes sobre o rio Sabor.
carlos perez aguaOs Memorialistas referem-se quase uniformemente a um número variável de pontes de pau (6 referidas pelo memorialista de Meixedo), e cinco de pedra, distinguindo-se por vezes as de cantaria e alvenaria: por cima de Bragança, a ponte de Carvas, de cantaria, de três arcos; a ponte de Valbom, de três arcos, de alvenaria, na estrada que vai de Miranda para Bragança, Quinta de Valbom, termo do Vilar e Vale de Prados; a ponte de Parada, de três arcos, de alvenaria (entre o termo da Vila de Outeiro, dos lugares de Parada e Grijó); outra de alvenaria (de Izeda), entre o termo de Santulhão (da vila de Outeiro) e o lugar de Izeda (do termo de Bragança) (com 4 arcos de cantaria e agora se acha sem arcos, por lhos ter levado o rio no ano de setecentos e sete (Memória de Izeda, Meixedo, Milhão); a ponte de Remondes, de alvenaria, no referido lugar (passando de Castro Vicente para Mogadouro), tem cinco arcos de cantaria, com baluartes da mesma cantaria. Também se acha sem guardas por lhas levar o rio em 1707. No meio dela se partem as comarcas de Moncorvo e de Miranda do Douro (Memória de Castro Vicente).
O rio Azibo que nasce na Quinta de Teixedo, lança-se no Sabor no lugar da Lagoa, depois de um percurso de 7 ou 8 leguas. Com duas pontes de pedra no seu percurso: uma no termo de Vale de Porco, outra no termo de Paradinha de Besteiros (Memória de Bragada, Pombares, Rebordainhos, Quintela de Lampaços). Tem 36 moinhos (Memória de Lomba, concelho de Macedo de Cavaleiros).
Fora do sistema hidrográfico do Sabor, refere-se o rio Baceiro, que nasce no Fojo, em Castela e se lança no Tuela ou Tua, no termo de Conlelas. Ao longo do seu percurso o memorialista de Castrelos conta-lhe 38 moinhos e 4 pisões e duas pontes de pedra, a de Parâmio e a de Castrelos (Memória de Terroso, Godezende, Castrelos).


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