sábado, 7 de abril de 2012

Em Trás-os-Montes vigia-se o mel à noite


A lua cheia espreita por cima das nuvens, dando à noite um lusco-fusco quase de final de tarde. Pouco depois das 22h, um dos postos de combustível da cidade de Mirandela enche-se, subitamente, de gente. É quando cerca de 20 apicultores saem à rua para mais uma noite de vigia às suas colmeias.
Os roubos das últimas semanas, sobretudo, no Nordeste transmontano, Estarreja e Algarve, puseram os produtores em sentido. "A união faz a força", diz Paulo Vilarinho, de Macedo de Cavaleiros, que soma um prejuízo superior a três mil euros.
Este enfermeiro aproveita as horas antes de entrar ao serviço para vigiar colmeias, numa das rotas criadas pelos produtores. "Vigiamos as colmeias uns dos outros. Vamo-nos revezando", explicava José Domingos Cordeiro, o presidente da Cooperativa de Apicultores da Terra Quente, que tem cerca de 300 associados.
No seu caso, vem de Jerusalém do Romeu para vigiar apiários na zona de Mirandela. Todos os dias, até às duas. "A partir daí fica o meu filho", explica. Outros espalham-se pelos concelhos de Vila Flor e Macedo de Cavaleiros.
Francisco Saldanha também traz a família. Para o primeiro turno veio a mulher, Alfredina. Depois serão substituídos pelo filho e pela namorada. No seu caso, foi mesmo por uma questão de solidariedade que se juntou ao grupo. É dos poucos que ainda não foi assaltado. Por via das dúvidas, tirou três meses de licença sem vencimento na Câmara de Mirandela para se dedicar à vigilância. É que a operação é para manter até ao final de Maio. "Com isto, já conseguimos fazer com que abrandassem ou talvez parassem. Apanhá-los em flagrante vai ser difícil, pois já estão à defesa", acredita Vilarinho.
Alguns dos vigilantes, para enfrentarem a noite, levam o que está à mão: roçadouras, uma ferramenta agrícola de cabo comprido e lâmina curta, machados, paus e mesmo caçadeiras. Mas também há quem não concorde com tamanho arsenal. O enfermeiro Vilarinho acredita que, antes de "fazer pior do que eles", os ladrões, é preciso ligar à GNR. Até porque se pode "apanhar um inocente".
José Domingos também apela à calma. Vigiar, sim, mas sem armas. O mesmo conselho deixa o major Rui Pousa, da GNR de Bragança, que diz que já referenciaram um suspeito. Até ontem não foi feita qualquer detenção.


in:publico.pt

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