segunda-feira, 16 de abril de 2012

A história do sabão


Apesar do sabão não ser um produto encontrado espontaneamente na Natureza, o seu processo de fabrico é muito antigo e muito simples, sendo, neste sentido, um produto semelhante ao pão, vinho, queijo ou vidro.
O sabão não é um produto encontrado na Natureza, mas pode ser fabricado através de um processo muito simples. Neste sentido, é um produto muito semelhante ao pão, ao vinho, ao queijo, ao vidro, à cerâmica e a outros produtos cujo aparecimento perde-se nos tempos, mas que devem ter a sua origem em fenómenos puramente acidentais. 
A produção de sabão é uma das mais antigas actividades conhecidas, já descrita pelo historiador romano Plínio, o Velho (23-79 d.C.). Mas a história começa muito antes.
Embora não existam factos documentados e esta primeira parte da história possa parecer pura especulação, tudo indica que o sabão tenha sido descoberto ainda em tempos pré-históricos. É provável que os primeiros povos que cozinhavam a sua carne no fogo tenham notado, depois de chuvas fortes, o aparecimento de uma espuma à volta dos resíduos do fogo. Também devem ter notado que a água, quando colocada em recipientes já usados para cozinhar carne, e por isso com cinzas (o que seria comum, uma vez que a confecção dos alimentos decorria ao ar livre), transformava-se no mesmo tipo de substância espumante. As mulheres, que se dedicavam provavelmente a estes trabalhos, talvez tivessem também reparado que os recipientes ficavam mais limpos ou pelo menos que as suas mãos ficavam mais limpas do que era habitual, quando lavadas com esta água.
Mas as primeiras evidências registadas na história da produção de um material parecido com o sabão, datam de 2800 a.C.. Em escavações na antiga Babilónia foram encontradas inscrições, junto a cilindros de barro, que revelaram que os habitantes já ferviam gordura de animais juntamente com cinzas. No entanto, tais produtos teriam sido utilizados como pomadas para ferimentos ou para auxiliar a produção de penteados artísticos, uma vez que as suas propriedades de limpeza ainda não tinham sido descobertas. 
Já no Egipto, nos bem documentados banhos de Cleópatra, o sabão não tinha lugar. Nestes banhos rituais eram utilizados óleos essenciais, leite de égua e areia fina como agente abrasivo de limpeza. O sabão já era conhecido, mas continuava ligado ao tratamento de feridas e doenças de pele, sendo descrito como uma combinação de óleos animais e vegetais com sais alcalinos.
Na Grécia, o sabão também se encontrava fora dos hábitos de higiene dos seus habitantes. Os seus corpos eram limpos com blocos de barro, areia, pedra pomes e cinzas, sendo de seguida untados com óleo, cuja função seria arrastar todas as impurezas quando raspados com um instrumento de metal específico - o strigil. Para além da sujidade, este "método" permitia remover gordura e células mortas, deixando a pele "limpa".
A prova definitiva e tangível da produção de sabão foi encontrada nos meandros da história de Roma. De acordo com uma antiga lenda romana, o sabão tem a sua origem no Monte Sapo, onde eram realizados sacrifícios de animais em pilhas crematórias. Quando chovia, a água arrastava uma mistura de sebo animal derretido com cinzas, para o barro das margens do Rio Tibre, onde as mulheres lavavam as suas roupas. Elas terão percebido que, ao usar esta mistura de barro, as roupas ficavam muito mais limpas, com um esforço muito menor. Talvez o termo "saponificação" (a reacção química que origina o sabão) terá a sua origem no nome deste monte.
No entanto, apesar dos banhos públicos serem um elemento importante da sociedade romana, a utilização de sabão como agente de limpeza corporal não se encontrava disseminada. Tal como os gregos, os romanos utilizavam o strigil para raspar a areia, cinzas e óleos com que cobriam o corpo. Para completar o "banho", a pele era coberta de bálsamos com ervas.
Ainda no Império Romano, mas já nos últimos séculos da sua dominância, para além de continuar a ser utilizado para fins medicinais, o sabão era recomendado pelos médicos, como benéfico para a pele. Desta forma, a sua utilização no banho generalizou-se, pricipalmente nas cidades mais importantes. Por exemplo, nas ruínas de Pompeia foi encontrada uma fábrica de sabão, onde eram produzidas barras deste material.
Ao escrever uma história de costumes é importante não esquecer que, na maior parte das épocas, a comunicação entre povos foi muito escassa, ou mesmo inexistente, pelo que a ocorrência de semelhanças nos hábitos de diferentes povos é mais facilmente explicada pela descoberta simultânea de fenómenos, do que pela disseminação de ideias. Terá sido isto que aconteceu também em relação ao sabão. Por exemplo, os povos celtas terão descoberto uma substância feita de cinzas e sebo, que utilizavam para tingir os seus cabelos de vermelho, para além de já o utilizarem na higiene pessoal e na lavagem de roupa, muito antes dos romanos. 
Após a queda do Império Romano no Oeste da Europa, a produção e utilização de sabão declinou acentuadamente, ao contrário do que se passava no Império Bizantino. Mas por volta do século VIII, esta produção foi revitalizada na Itália e em Espanha, e no século XIII a França tornou-se uma produtora importante do mercado europeu, assim como a Inglaterra um século depois. O sabão produzido na Idade Média nestes centros tinha como matéria prima o azeite, que lhe conferia uma qualidade superior à dos sabões produzidos exclusivamente a partir de gordura animal (principalmente sebo, mas também óleo de peixe), pelos povos do Norte da Europa, que não tinham acesso a este óleo vegetal. Estes sabões, apesar de poderem ser utilizados na indústria têxtil, não eram adequados para o banho.
Gradativamente, uma maior variedade de sabões foi estando disponível pois, para além dos óleos e cinzas, começaram a ser misturadas diversas plantas e fragâncias. Ocorreu, igualmente, uma especificação de produtos, com o aparecimento de sabões para a barba, para os cabelos, para banho e para roupa.
Não é incongruência falar-se de banho na Idade Média, apesar da imagem de higiene associada a esta época ser completamente diferente da que possuimos hoje. Mas a verdade é que o banho era um hábito nesta altura e só mais tarde é que caiu em desuso. Na altura das grandes epidemias, as autoridades fecharam os banhos públicos frequentados por nobres, por os considerem veículos de propagação de doenças.
No Renascimento, a ideia de manter o corpo limpo foi abandonada e os "banhos com água" foram substituídos por "banhos com fortes perfumes e essências". Contudo, apesar do banho não ser um hábito popular durante os séculos XVII e XVIII, o sabão permaneceu como um artigo valioso e útil para a lavagem da roupa.
No princípio do século XVIII, uma quebra na productividade dos olivais induziu os produtores de sabão a investigar a possibilidade de utilização de outros óleos, para além do azeite, o que resultou na alteração da fórmula básica do sabão a partir de azeite, para uma fórmula baseada em misturas de gorduras animais e vegetais, cuidadosamente seleccionadas. 
Só no final do século XVIII, o banho voltou a estar na moda, como tratamento médico e fortificante. A água era, então, considerada um elemento mágico que, correctamente aplicado, poderia ser benéfico para qualquer tipo de infecção. À medida que mais médicos prescreviam a "cura da água", a ideia de banho foi-se tornando mais aceitável.
O Movimento Sanitário iniciado em Londres já no século XIX, levou à instalação de casas-de-banho e lavandarias públicas, como mecanismo de combate à propagação de doenças como a cólera e a febre tifóide. Este movimento espandiu-se pela Europa e em seguida atingiu os Estados Unidos da América, passando o banho a ser visto como uma prática saudável por milhões de pessoas. 
Tal como noutras histórias, também nesta os EUA tiveram um desfasamento relativamente à Europa. Durante muito tempo, os colonos esperaram pelo sabão que chegava nos carregamentos vindos da Europa, até que individualmente começaram a produzi-lo. Mas foi só em 1806 que William Colgate abriu a primeira grande fábrica de sabão nos EUA, chamada Colgate & Company. Em 1830, a empresa começou a vender barras de sabão de peso uniformizado e em 1872 Colgate introduziu os sabonetes perfumados.
Actualmente, a maioria de produtos que existem no mercado não são verdadeiros sabões, mas sim detergentes criados a partir de materiais derivados do petróleo. Outros tipo de sabões contêm ingredientes encontrados na natureza, mas que são radicalmente transformados por processos industriais complexos. O sabão daqui resultante tem poucas semelhanças com o sabão fabricado através dos tempos.


in:naturlink.sapo.pt

1 comentário:

  1. Uma bela descrição da história do sabão, acompanhada de belíssimas imagens.
    O banho naqueles tempos, estou a falar dos banhos, só estavam nos hábitos dos grandes senhores do Império Romano.

    Famosos os banhos da Cleópatra!!!!.

    Ainda me lembra de minha avó fazer o sabão através das gorduras e borras de azeite!!!!.

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