quarta-feira, 17 de junho de 2015

Lenda da Ponte de Vale de Telhas


"A ponte de Vale de Telhas foi construída uma noite pelo diabo, que, aproveitando-se do desespero de um almocreve, por não poder atravessar o rio, lhe fez a proposta da sua erecção em troca da alma. Aceite o contrato, lavrada a escritura com o sangue tirado do braço do almocreve, surgem legiões de espíritos infernais em fernet opus diabólico. Desmontam, escacham, carream, esquadram, acapilham, assentam, aprumam: a obra cresce a olhos vivo. Entretanto, o símbolo da vigilância, aquele que espanta as trevas saudando o novo dia, que começa a esboçar-se, bate as asas e… có, cró, có.
- Galo canta! – Observou o lugar-tenente do Satanás.
- Que galo é? – Perguntou este.
- Galo pinto.
- Ande o pico – contestou aquele.
Instantes volvidos torna o mesmo:
- Galo canta!
- Que galo é?
- Galo branco.
- Ande o canto.
Ainda não tinham terminado e novamente diz o lugar-tenente:
- Galo canta!
- Que galo é?
- Galo preto.
- Pico quedo – rouquejou o diabo
Tudo parou, a ponte ficou incompleta por falta de uma pedra nas guardas, que um diabrilho já trazia às costas e deixou cair ao chão mal soou a ordem, e assim se conserva, pois, conquanto muitas vezes a tenham lá colocado, logo cai de noite arrojada por Satanás. O almocreve ficou com a alma e a ponte."


(Alves, Francisco M., Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, Tomo IX Bragança Museu Abade Baçal, 2000 pag.s 364-5)

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