segunda-feira, 9 de abril de 2012

Rota da Terra Fria para descobrir o nordeste transmontano


Nos últimos anos, a Associação de Municípios da Terra Fria do Nordeste Transmontano tem requalificado património e recuperado estradas com o propósito de constituir uma rota turística. O produto está agora estruturado e procura privados que queiram comercializá-lo, gerando assim novos caminhos para a economia da região.
No cantinho nordeste do território português há um ditado popular que descreve o clima da região: «Nove meses de Inverno, três de Inferno». Os três meses de inferno referem-se ao Verão que chega abruptamente, com temperaturas altas, depois de um Inverno rigoroso, com frio, chuva, geadas e, se as condições meteorológicas o propiciarem, neve. Ao Nordeste transmontano, na altitude dos 600 metros, chama-se «Terra Fria». A região é de planaltos e serras com vales profundos, com pouca influência atlântica. Um território marcado por prados permanentes (lameiros), grandes extensões de carvalho negral, soutos de castanheiros e searas de trigo e centeio.
O clima desta região marca a sua singularidade face a outras regiões do país. Mas há muitos outros aspectos que tornam esta terra «única», diz Pedro Morais. O responsável de comunicação e marketing da Rota da Terra Fria pormenoriza: «Temos uma área enorme de parque natural. Quase 60% do território é ocupado pelos parques naturais de Montesinho, das Arribas do Douro ou do Douro Internacional e zonas da Rede Natura 2000. Diferenciamo-nos ainda por termos a segunda língua oficial do país, o mirandês, por termos pauliteiros. Claro que temos também vários monumentos, como acontece noutras regiões. Mas também aqui, destacamo-nos por termos um monumento único na Península Ibérica que é Domus Municipalis, em Bragança».
O fumeiro, a castanha, a posta mirandesa, o azeite são outros produtos «de elevada qualidade» que se associam ao património natural e edificado para constitui a Rota da Terra Fria, uma iniciativa da Associação de Municípios da Terra Fria do Nordeste Transmontano (Bragança, Miranda do Douro, Vimioso e Vinhais). Recentemente juntou-se a esta Rota mais um município: Mogadouro. «Este projecto começou em 2001 e durante seis anos, até 2007, o trabalho que desenvolvemos foi essencialmente de organização e obras de recuperação de estradas e edifícios para permitir a viabilização da própria rota, dos seus percursos», adianta Pedro. 
Em cada uma das nove portas de entrada no percurso, «localidades que pela sua localização podem ser bons pontos de partida», foram colocados quiosques multimédia. «A região debate-se com o problema do despovoamento humano (perdeu 17% da sua população nos últimos 30 anos) e valemo-nos destes meios tecnológicos para combater essa falta de mão-de-obra», explica Pedro Morais. Nos quiosques, o visitante pode traçar o seu itinerário, saber o que cada percurso oferece, escolher alguns pontos atractivos específicos. O quiosque responde com distâncias, indicações de estradas para seguir e tempo demorado. 
Além da paisagem, cada rota inclui um mapa de capelas e igrejas, museus. Em Moimenta da Beira aprecia-se a Igreja Matriz. O edifício barroco está classificado como imóvel de interesse público. «A fachada principal está dividida em três registos, sendo ladeada por duas torres. O portal é enquadrado por pilastras e encimado por um enorme frontão triangular, ladeado por dois vãos quadrangulares. Por cima, ligando as duas torres, existe uma balaustrada. No interior, a capela-mor tem retábulo de talha dourada, com representação escultórica central», explica o site da Rota da Terra Fria.
Continuando o percurso, em Rio de Onor descobrem-se moinhos, uma forja comunitária, lagares de vinho e fornos. Em Constantim salta à vista a Igreja Matriz de origem românica, reformulada no século XVI, desfruta-se ainda de pombais, vários exemplares em ferradura dispersos e, geralmente em estado razoável de conservação, observam-se ainda cruzeiros e fontanários. Qualquer um dos percursos sugeridos há tempo para ver bordadeiras, tecedeiras, sapateiros, ofícios antigos que ainda subsistem por terras do Nordeste. 
Os trilhos para descobrir a Terra Fria estão traçados. «O trabalho tem incidido no tratamento da imagem urbana, foram feitos mais de 90 projectos que passavam pela viabilização do percurso, com ligações feitas em asfalto (antes eram de terra batida), recuperação de fachadas de edifícios, de centro de aldeias, efectuámos um levantamento etnográfico para caracterização do território», comenta Pedro. 
O futuro passa agora por colocar todo este trabalho ao dispor dos investidores privados para que o possam comercializar. «Queremos alavancar a Rota e isto só pode ser feito com maior participação dos privados porque a associação de municípios que tem estado a estruturar a rota não pode ter um papel de vendedor. Temos o produto, viabilizamos o percurso agora os privados peguem nisto e comercializem».


Sara Pelicano
in:cafeportugal.net

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