sábado, 19 de maio de 2012

Caça Fotográfica: uma alternativa à caça convencional


Caçar belas e inesperadas imagens de fauna com uma câmara fotográfica tem muitos dos atractivos e emoções associados à caça convencional, sem os seus tiros e riscos. Também as espécies-alvo e as áreas de caça fotográfica são muito mais vastas...
Nos tempos que correm a caça é cada vez mais uma actividade polémica.
O despertar da consciência ecológica gerou um movimento que defende que a caça está deslocada no tempo e que é uma actividade bárbara. Por sua vez, os caçadores argumentam que a caça é tão antiga quanto o próprio Homem. Esse é um facto incontornável, mas também não há dúvida que a evolução da nossa espécie se tem feito, entre outras coisas, à custa da substituição de comportamentos e rituais básicos e primitivos por outros mais complexos e sofisticados. Também é verdade que a caça tem sido em muitas situações motor e instrumento de conservação da Natureza. Veja-se o caso de algumas espécies de patos da América do Norte, que foram salvos da extinção graças ao esforço dos caçadores.
Não há dúvida que o nosso planeta está superlotado de pessoas e que as agressões ao meio ambiente são cada vez mais violentas. Certamente que a caça, enquanto actividade desportiva, para não contribuir também ela para este enorme desequilíbrio terá necessariamente que assentar em modelos de gestão cuidadosamente delineados. Como consequência disso, a caça é hoje uma actividade dispendiosa, que poderá em breve ficar apenas ao alcance de alguns.
Naturalmente que muitos caçadores não são indiferentes aos petiscos que se podem preparar com os animais que caçam, mas se noutros tempos a necessidade de obter alimento era a razão que os fazia calcorrear montes e vales, hoje em dia essa já não é a sua principal motivação. Passear no campo, estar com os amigos ou o prazer da perseguição são o que actualmente leva milhares de pessoas a sair de casa com uma arma ao ombro.
Felizmente, estes requisitos podem ser encontrados numa outra actividade, com um número crescente de praticantes, cujos impactos na natureza são certamente menores (num sentido ou noutro): a Fotografia de Vida Selvagem.
À primeira vista a comparação pode parecer absurda, mas se virmos com atenção as semelhanças são muitas. Em ambas as situações percorre-se o campo com roupas discretas, em silêncio e com muita paciência. Por vezes dispara-se muito e não se apanha nada, mas quando o dia corre bem pode-se trazer um trofeu para pendurar na parede.
Tal como na caça, é necessário algum equipamento, que pode ser relativamente em conta ou muitíssimo caro. Para alem do equipamento, na fotografia não se gastam cartuchos, mas gasta-se filme. Não é portanto de estranhar que, com todas estas semelhanças, existam vários fotógrafos muito bons que são, ou começaram por ser caçadores. No entanto, enquanto um cartucho lança inúmeros chumbos que podem atingir vitalmente a presa em diferentes locais, uma fotografia que apenas apanhe uma parte do corpo do animal, é quase sempre mal sucedida. Para alem de encontrar “a presa”, o fotógrafo tem que focar, medir a luz, e não tremer. Mas estas dificuldades apenas tornam esta modalidade ainda mais apaixonante. Não menos importante é a diferença no que toca aos riscos inerentes à manipulação de armas de fogo, que como sabemos causam infelizmente todos os anos vários acidentes mortais.
Apesar de, por razões óbvias, a fotografia ser uma actividade com um impacto muito menor no meio, é claro que se todos as Quintas-feiras ou Domingos 200 000 fotógrafos vagueassem pelos campos, os efeitos também se fariam sentir. Mas isto leva-nos precisamente a uma outra diferença essencial entre as duas actividades. Na fotografia, não há espécies cinegéticas, defeso ou dias de caça.
Desde borboletas e libélulas até veados, javalis ou lobos, passando naturalmente pelas aves, repteis e anfíbios, todos são modelos de eleição.
Tratando-se de uma actividade, que ao contrário da caça, não está regulamentada, a fotografia da natureza em geral e de vida selvagem em particular exige bom senso e preocupações éticas acrescidas. Espécies muito raras, ou mesmo abundantes, mas durante fases muito sensíveis do seu ciclo de vida, não devem ser perturbadas.
Outra das virtudes da fotografia de vida selvagem é que leva a natureza a pessoas de quem esta por vezes se encontra muito distante, despertando-as para a beleza que encerra, as ameaças a que está sujeita e para o seu grande valor.
Muitos fotógrafos quando iniciam a sua actividade, ambicionam fotografar espécies carismáticas e locais remotos. No entanto, frequentemente à medida que se vão tornado mais experientes, acabam muitas vezes por descobrir os encantos de espécies comuns e locais próximos de casa onde é possível estabelecer uma relação de afectividade com o que se fotografa e desenvolver a criatividade de forma particularmente frutuosa.
Uma pergunta frequente de quem deseja se iniciar neste actividade é: onde é que posso aprender? Naturalmente que existem cursos de fotografia geral onde se aprendem técnicas que serão certamente muito úteis a quem se pretende dedicar a esta actividade. Há também cursos especializados que podem dar uma ajuda substancial, mas também há livros e compêndios muito completos (quase nada em português) e sobretudo a internet. Mais uma vez aqui também não há muita coisa disponível em Português, mas existem paginas (sobretudo em Inglês) onde se pode descobrir quais as características desejáveis para uma câmara, quais as lentes, filmes, sacos e outros acessórios fundamentais, como construir um abrigo, quando e onde fotografar, e tudo o mais que se possa imaginar.


Alexandre Vaz
in:naturlink.sapo.pt

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