terça-feira, 13 de novembro de 2012

Castanha - Uma semente que também germina para o turismo


O Café Portugal fez uma viagem pelos soutos de Trás-os-Montes, Beira Alta e Alentejo. A fileira da castanha ganha terreno nas economias locais e, paralelamente, tira proventos para o turismo. Portugal conta já com uma confraria da castanha e com um projecto de âmbito nacional, o RefCast, cujos objectivos são a valorização do produto castanha.
A campanha de castanha de 2009 promete um fruto com menor calibragem, embora a quantidade seja semelhante à de anos anteriores. 
O tempo quente de Setembro terá dificultado o crescimento das castanhas. Na Cooperativa Agrícola de Penela da Beira, Beira Alta, acredita-se que a produção «não ultrapassará as 300 toneladas», como nos conta o presidente, Fernando Matos. Este refere «que os calibres serão inferiores» aos últimos anos. 
No Norte do país, as perspectivas de produção rondam as 25 mil toneladas, de acordo com informação avançada pela Confraria Ibérica da Castanha, com sede em Bragança. Já no Alentejo, a Cooperativa Agrícola dos Cerealicultores do Porto da Espada, Marvão, faz referência a uma «quantidade excelente», sem precisar números, ainda que, «no que diz respeito à qualidade, as castanhas sejam de calibres anormalmente baixos», comenta o presidente da Cooperativa Agrícola dos Cerealicultores do Porto da Espada, António Vaz. 
Contributo económico regional
A fileira de castanha tem um peso significativo na economia das regiões onde se insere. Em Trás-os-Montes «tem assumido uma das principais fontes de receita dos agricultores», explica o grão-mestre da Confraria, Gilberto Baptista. O mesmo responsável sublinha que a exportação é o maior destino da castanha longal e judia, as variedades produzidas na região. Gilberto Baptista prevê que este ano a receita dos agricultores possa chegar «aos 25 milhões de euros». 
Num ano «mais pródigo», como comenta António Vaz da Cooperativa Agrícola dos Cerealicultores do Porto da Espada, «são consumidos em fruto, cerca de dois terços» da produção. No concelho de Marvão, o mercado nacional é o maior cliente. Em 2009 a produção divide-se 50% para o consumo do fruto com igual percentagem a ser encaminhada para a indústria transformadora como farinha, castanha torrada, pilada e em calda. A castanha transformada é, essencialmente, exportada. Os destinos mais comuns de exportação são Espanha e os países com tradição de emigração portuguesa, como Brasil, França e Suíça. 
Também em Penela da Beira, o mercado nacional é o maior consumidor das castanhas ali colhidas. «Neste momento está a ser efectuado um trabalho de pesquisa de mercados internacionais, nomeadamente naqueles em que existe grande número de emigrantes», explica o presidente da Cooperativa Agrícola de Penela da Beira, Fernando Matos. 
Castanha DOP 
As Denominações de Origem Protegida (DOP) qualificam, em Portugal, quatro espécies de castanha. A Norte do país existe a castanha dos Soutos da Lapa, que se estende também ao Centro, a castanha da Padrela e a castanha da Terra Fria. A Sul, no Alentejo, há a DOP castanha de Marvão. 
António Vaz, da Cooperativa Agrícola dos Cerealicultores do Porto da Espada, concelho de Marvão, não tem dúvidas que a denominação contribuiu «e muito para incrementar a sua produção e comercialização». Na região existem 60 produtores de castanha DOP de Marvão. As castanhas nacionais têm particularidades diferentes e foram enumeradas pela engenheira Ana Soeiro quando preparou o dossier de candidatura à União Europeia para obter a certificação DOP. Sobre a castanha dos Souto da Lapa, a responsável escreveu: «castanhas particularmente saborosas e com boa apresentação. Têm cor castanha com estrias longitudinais e calibre elevado, especialmente as da variedade martaínha». 
A castanha da Terra Fria «tem forma elíptica alongada, de cor castanha avermelhada, com muito boa aptidão para o descasque e compartimentação reduzida». Segue-se a castanha de Marvão, que Ana Soeiro descreve como «castanha particularmente saborosa, não muito fácil de descascar». Por fim, a castanha da Padrela tem «a casca raiada e boa aptidão para o descasque».
Produção inferior face à UE
A nível mundial a Europa representa 12% da produção de castanha. Itália e Portugal representam, respectivamente, 4% e 3% da produção mundial. Os números são avançados pelo Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações Agro-Alimentares. Esta entidade refere ainda que o país tem uma área ocupada por castanheiros de 30 mil hectares, sendo a produtividade média dos soutos de mil quilogramas por hectare. A produtividade dos soutos portugueses é inferior à média europeia. 
A situação tem vindo a ser contornada com a plantação estruturada de novos soutos, com uma gestão sustentável e material vegetal tradicional de qualidade. Na Itália a produção atinge perto dos 22 mil quilogramas por hectare, na França atingem-se os 18 571 quilogramas por hectare e, em Espanha, a produção por hectare chega aos 16 667 quilogramas. A China é o maior produtor mundial, representando 70% da produção global, o que corresponde a um volume anual de 800 toneladas. 
Unidos pela castanha
Os movimentos associativos em torno na castanha têm como principal objectivo trabalhar em conjunto para o sucesso da produção e comercialização a mesma. A Confraria Ibérica da Castanha, criada em 2007, é um dos exemplos. 
Ao Café Portugal, o grão-mestre Gilberto Baptista explica os princípios da confraria: «queremos ter um papel activo na criação para a afirmação e sustentabilidade da fileira da castanha, desde a produção ao consumo». 
O entrevistado sublinha, ainda, a importância de «gerar actos e acções que possam trazer valia económica para os produtores, os comerciantes, os industriais, a restauração, a própria cidade e as populações das regiões onde esta actividade se desenvolve». A confraria tem uma actuação nacional. 
Quando questionado sobre o carácter ibérico da confraria, Gilberto Baptista responde: «ao dar-lhe um âmbito ibérico, assumiu-se a ambição de dar não só a esta confraria um papel agregador de todas as instituições e organizações que, pelo menos a nível ibérico, estão preocupadas com a problemática do castanheiro e dos diversos valores de uso e mercado que a partir dele se geram e em que a castanha assume papel primordial, como dar a Bragança uma posição de liderança institucional e internacional neste processo».
Em Junho de 2008, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) arrancou com um projecto, o RefCast. Um dos associados deste projecto é a Cooperativa Agrícola dos Cerealicultores do Porto Da Espada. 
O presidente António Vaz explica o projecto: «o RefCast é, em termos práticos, uma associação composta por todos os produtores, transformadores e comerciantes de castanha do país. O objectivo consiste na obtenção de candidaturas a projectos em castanheiros, nomeadamente novas plantações, replantações e unidade familiares de transformação». Na data de apresentação do projecto, em 2008, o investigador da UTAD, e um dos mentores do RefCast, José Laranjo confessou que uma das missões passaria por colocar Portugal «como o maior produtor europeu de castanha», de acordo com notícia da época publicada na Rádio Brigantina. 
Castanha também é festa 
O São Martinho é a festa por excelência da castanha. No entanto, os últimos anos têm sido marcados pelo despertar de festivais e feiras temáticas, onde a castanha é protagonista. Em Marvão, Alentejo, decorre em Novembro a Festa do Castanheiro - Feira da Castanha. Pelas ruas da vila há magustos e mostra de doçaria confeccionada com a semente do castanheiro. Na região de Trás-os-Montes, a Confraria organiza, em Fevereiro, o Festival da Gastronomia da Castanha. «Um evento essencialmente virado para atrair a Bragança visitantes interessados em conhecer a gastronomia regional feita a partir da castanha», explica o grão-mestre, Gilberto Baptista. Mais tarde, em Junho, a mesma entidade transmontana promove o Festival do Castanheiro em Flor. «Momento da exaltação da vida, da esperança, da paisagem, da natureza, da alegria e das artes ligadas ao castanheiro», comenta o mesmo responsável. 
Em Trás-os-Montes existe também uma Rota da Castanha. Cinco percursos unem localidades como Mirandela, Valpaços, Chaves, Vinhais e Bragança, que têm em comum a paisagem de castanheiros e a tradição da castanha. Pelo país nasce então uma economia paralela à agricultura, dando novas potencialidades ao produto agrícola.

Sara Pelicano
incafeportugal.net

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