sexta-feira, 10 de julho de 2015

Os tesouros perdidos de Dine

"A grandiosidade da gruta faz antever o seu valor histórico e patrimonial. 
Os desenhos nas rochas, fruto da dissolução das águas subterrâneas ao longo de milhares de anos, fazem da Lorga de Dine, no concelho de Vinhais, um local muito cobiçado por “caçadores de tesouros”. Após a sua descoberta, em 1964, o diplomata dinamarquês Carl Harpsöe encetou a primeira campanha de escavações, durante a qual foi identificado um espólio com cerca de 5 500 espécimes. 
Nos anos que se seguiram, contudo, o espaço arqueológico foi vandalizado e destruído, sobretudo nos anos 80, por pessoas ligadas à Arqueologia e Geologia ou simples “curiosos”. “Na década de 80, e de 2005 até há bem pouco tempo, vinham pessoas à procura de objectos que destruíam este património”, explicou Maria Judite Lopes, responsável por mostrar a Lorga de Dine e o Núcleo Interpretativo de Dine. 
Segundo esta habitante, além de pedras e estalactites cortadas e arrancadas, foi perdido o rasto a um grande número de achados arqueológicos. “Durante muito tempo, foram feitas escavações clandestinas, durante as quais foram levadas peças que poderão ter desaparecido para sempre”, lamenta a responsável. 
Objectos de valor histórico e arqueológico incalculável foram roubados por “caçadores de tesouros”, que também contribuíram para a destruição da própria lorga, dada a violência com que foram efectuadas algumas escavações. “As intervenções eram muito profundas e arruinaram algumas peças naturais únicas e lindíssimas”, acrescentou Maria Judite Lopes. Foi em resultado de uma dessas acções, que foi descoberta uma terceira grande sala na gruta, que integra, também, um desconhecido número de galerias. 
A “guia” chegou a alertar entidades e as autoridades de segurança, mas “nunca ninguém ligava”, lamenta. 
Recorde-se que a Lorga de Dine é uma cavidade natural de origem cársica e tem uma beleza inigualável devido às estalactites, estalagmites, colunatas calcárias e “desenhos”, bem como relevos naturais impressos nas paredes da gruta. Localizado a sul de Dine, na encosta do outeiro “Castro”, este espaço foi ocupado no final do Neolíticos e início da Idade do Ferro. Ou seja, entre o 4º e o 1º Milénio Antes de Cristo (A.C.). Assim, a Lorga de Dine funcionou como habitação, armazém de cereais e, também como cemitério, dada a quantidade de ossos humanos e de animais ali encontrados.
Fornos de Cal são outro cartão de visita de Dine
Ao fazer o percurso desde o Núcleo Interpretativo de Dine até à Lorga, os turistas podem conhecer os antigos fornos de cal, cuja actividade trouxe, até à década de 60, um sem-número de comerciantes e compradores de cal. “Os fornos eram uma tradição de Dine, que era das poucas aldeias da região que o produziam em tanta quantidade”, explicou Maria Judite Lopes. 
Segundo a responsável, a cal fabricada na aldeia era vendida e utilizada para a construção e também para a pintura de edifícios. “Durante oito a dez dias os fornos ardiam para obterem a cal, que depois era transportada em carros de bois até à Estrada Nacional entre Bragança e Vinhais, onde eram mudados para camionetas”, recordou. Só a partir de1957 é que os acessos até aos fornos de cal foram arranjados, de modo a permitirem a passagem de carrinhas para carregarem aquele produto. “Era um negócio que trazia muita gente e movimento à aldeia”, sublinhou Maria Judite Lopes. 
Devido ao elevado património histórico e arqueológico, bem como à sua integração no Parque Natural de Montesinho, Dine é um dos locais preferidos dos turistas nacionais e estrangeiros. “Todos os dias passam imensas pessoas pela aldeia, que querem conhecer a Lorga, os Fornos de Cal, a igreja ou a própria localidade”.
Assim sendo, a autarquia tem apostado nesta área, através da criação de equipamentos de turismo rural e da requalificação da aldeia. “Verifica-se um aumento no número de turistas e visitantes que trazem movimento e riqueza à freguesia.

Sandra Canteiro

in:jornalnordeste.com

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