sábado, 26 de janeiro de 2013

Enchidos alimentam a economia rural e fintam a crise em Vinhais


A Feira do Fumeiro atrai a Vinhais durante quatro dias o equivalente a mais de um terço da população do Distrito de Bragança, que deixa na economia local, e além das fronteiras do concelho, seis milhões de euros.
As contas são da Câmara Municipal e reflectem um investimento de mais de 30 anos numa atividade artesanal que gerou uma fileira de produtos e actividades em contra ciclo com a crise nacional portuguesa.
Há cada vez "mais gente jovem a fazer fumeiro", o número de pedidos de licenciamentos de cozinhas regionais e explorações de porcos bísaros aumentou e as vendas seguem o mesmo ritmo, segundo adiantou à Lusa Carla Alves, a coordenadora da feira do fumeiro.
No ano de 2012, já se notava a crise e as vendas foram superiores ao ano anterior no certame que regressa entre 07 a 10 de Fevereiro e que a responsável pela organização acredita que "também em 2013 registará um aumento das vendas destes produtos".
A expectativa é sustentada pela procura de expositores, com número "recorde", mais de 400, assim como de pedidos de alojamento, com lotação esgotada em Vinhais, que está a encaminhar gente para os concelhos vizinhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Mirandela.
Nos quatro dias da feira são esperados 50 mil visitantes nacionais e espanhóis, cinco vezes mais pessoas que os habitantes do concelho e o equivalente a mais de um terço de toda a população do Distrito de Bragança.
Toda esta dinâmica gera um volume de negócios de "seis milhões de euros", segundo garantiu o presidente da Câmara de Vinhais, Américo Pereira.
O autarca aponta que apenas os 82 produtores de fumeiro devem facturar 820 mil euros, na feira.
Todos os enchidos de Vinhais têm certificado de qualidade e atingem preços de 40 euros o quilo, no caso do salpicão, e já conquistaram o mercado nacional e das exportações.
O fumeiro é o pilar da economia local com 310 postos de trabalho directos num concelho onde três mil pessoas vivem apenas da agricultura.
A feira já conta 33 anos e é a montra do trabalho de todo o ano nas cozinhas regionais, nas unidades industriais, nas 185 explorações pecuárias do porco bísaro, o responsável pela carne que distingue este fumeiro.
O sector é ainda servido por um matadouro e uma logística de apoio aos produtores e à comercialização, em que a autarquia investe meio milhão de euros anualmente.
A feira custa 125 mil euros e as receitas que gera pagam metade do valor, essencialmente vindas dos preços dos espaços pagos pelos expositores, já que a entrada de público é gratuita.
Os mais velhos continuam a ser os guardiões da receita dos famosos enchidos, mas há cada vez mais jovens "a pedir à mãe: ensina-me a pegar nisto", como contou Carla Alves para exemplificar a procura de "gente jovem licenciada que não encontra emprego na sua área" e está a regressar ao mundo rural.
"Notamos que há um renovado interesse pelo sector agrícola, sobretudo pelo agroalimentar", observou.
Já o presidente da Câmara, Américo Pereira, considerou que Vinhais "é um exemplo concreto" dos indicadores nacionais que apontam a agricultura como um dos poucos sectores em crescimento no país "muito à custa dos produtos tradicionais e dos produtos protegidos".
"É bom que o Governo e as autoridades que estão a preparar as linhas orientadoras deste quadro (comunitário de apoio) para o país, se apercebam que este apoio monetário, logístico, legislativo, de forma a fomentar a produção de produtos de qualidade e produtos tradicionais, é importantíssimo para a economia do país", alertou.

Lusa/ SOL

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