segunda-feira, 20 de maio de 2013


A crise económica fez aumentar o roubo de arte sacra nas igrejas portuguesas para venda no estrangeiro a preços "low cost", admitiu o responsável da Polícia Judiciária (PJ) pela área de bens culturais e obras de arte.
O coordenador de investigação criminal da PJ na área do combate à criminalidade dos bens culturais e obras de arte, João Oliveira, explicou à agência Lusa que a crise económica influencia o aumento de roubos de arte sacra nas igrejas em Portugal "por causa das dinâmicas dos mercados estrangeiros".
"Existe um mercado que está recetivo a este tipo de bens [arte sacra]. E quando falo em mercado, estou a falar em mercado em sentido amplo, não só o mercado interno, mas também o estrangeiro", observa o investigador da PJ.
Segundo João Oliveira, "Portugal tem um património cultural riquíssimo, máximo de património cultural religioso" e, portanto, os bens portugueses são "apetecíveis", "têm procura" e "têm mercado".
João Oliveira admitiu que o aspeto da crise "eventualmente poderá ter algum peso", sobretudo no que diz respeito à "dinâmica do funcionamento dos mercados".
Segundo o investigador, em Portugal há "claramente uma diminuição" e "uma dificuldade de venda de peças" de arte sacra, enquanto no estrangeiro esse fenómeno não ocorrerá tão tanto.
Neste contexto de crise, colecionadores, antiquários e outros conhecedores de arte sacra sabem das dificuldades de Portugal e dos portugueses e percebem que podem fazer "aquisições de peças de valor cultural por um valor pecuniário muito mais baixo do que aquele que seria em tempos ditos normais", acrescentou.
Em entrevista à Lusa, no âmbito do aumento do aumento de furtos nos templos religiosos portugueses, João Oliveira assinalou ainda que o "encerramento das igrejas meses a fio" e a "diminuição de fiéis" são outras razões que influenciam o aumento dos furtos de arte sacra.
"É inequívoco que é possível estabelecer, embora com algum cuidado, uma certa relação de causalidade, entre o abaixamento do número de fiéis frequentadores das igrejas e o aumento dos furtos (...) porque, a partir do momento em que um templo está fechado durante meses a fio, fica muito mais vulnerável".
A título de exemplo, a Guarda Nacional Republicana já registou, este ano, 33 assaltos a igrejas só no distrito de Bragança, ou seja quase o triplo das ocorrências verificadas no período homólogo de 2012. E na última sexta-feira desenvolveu, através do Comando de Bragança, uma operação conjunta com a Guarda Civil espanhola que resultou na detenção de 12 pessoas alegadamente envolvidas em 40 furtos em igrejas de amboos os lados da fronteira. 

CCM // JGJ
Lusa/Fim

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