sábado, 4 de maio de 2013

Autores Transmontanos desafiam a crise


A bolsa dos portugueses anda cada vez mais vazia. E se os intelectuais  recorrem à cidade para suprirem as suas falhas, batendo à porta de organismos públicos ou para-públicos, onde, por via de regra, trabalham os grandes decisores, quem vive na «Província» por mais que se irrite, não encontra essas fontes de recurso. Não tem editoras, não conhece os truques dos palcos da fama, não dispõe de amigalhaços para os introduzir no convívio dos «fabricadores» de ídolos de coisa nenhuma. Apesar deste abismo social entre os criadores da cidade e os da periferia, a verdade é que nem isso os impede de publicarem obras de boa qualidade.
Tenho vindo a receber, com regularidade, livros de todas as latitudes, com o intuito deles dar nota no trimensário que dirijo e que chega a todos os recantos do país, só por via postal. É o único do país que tanto fala dos ricos como dos pobres, dos letrados, como dos que nunca entraram numa universidade, daqueles que resultam de um fortuito programa televisivo, como de um prémio fabricado à medida do destinatário.
Nos jornais que me abrem as portas tenho vindo a dar eco de um ou outro criativo da área de residência desse autor. E se algum mérito esses autores têm e vão aparecendo citados aqui e ali, é porque a imprensa regional lhes abre a porta incentivando-os a novas apostas, para o que também o poder o local, aqui e ali, se vai sobrepondo ao poder central.
Este intróito permite-me elogiar a resistente imprensa regional que vai ignorando a crise e tenta, a todo o custo, ignorá-la. E também aos autarcas que se acostumaram a comprar alguns exemplares das obras que vão saindo e que distribuem, gratuitamente aos participantes nesses actos culturais. É uma louvável forma de incentivar os autores e os leitores que, sem esses bons hábitos, dificilmente teriam acesso à leitura.
Durante muito tempo utilizei a bondade deste e de outros jornais para difundir os produtos criativos (livros, pintura, escultura, artesanato etc) dos autores que vão surgindo.
Não sendo possível falar de cada um em particular, deixo uma nota breve sobre as suas últimas obras na esperança de que prossigam a sua caminhada e não desanimem porque quem nasce artista não deverá perder o ensejo de triunfar, pondo a render os talentos que recebeu.
João de Deus Rodrigues reapareceu neste Abril último com novo livro chamado Outras Histórias de Gente e d'além Marão. É o  nono título deste filho de Morais, Macedo de Cavaleiros (1940) que foi militar (1961), transitando depois para o Ministério da Economia. Em 1970 voltou ao Exército e trabalhou na Fabrica Militar de Braço de Prata e no Ministério da Defesa de onde se aposentou.
Guida Nunes nasceu em Mondrões, Vila Real, cresceu no Brasil, onde se formou no Magistério e em Comunicação Social e Direito. Exerceu o Jornalismo e, de regresso a Portugal, em 1981, leccionou em Valpaços e, desde 1984, tem banca de advogada em Chaves e em Boticas. No Brasil publicou três livros e em Portugal 5, o último dos quais se chama 25 Sem Abril. 25 é o número de crónicas ficcionadas. Mas com cravos caídos. Mais um livro a não perder.
Virgílio Luís Pinto nasceu em Bruçó, Mogadouro, em 1942. Esteve em Angola e depois do serviço militar foi funcionário público e bancário em Cabinda. Regressado em 1975 fixou-se na sua terra natal e faz um pouco de tudo aquilo que é de lei e pela grei. É animador musical. E a vida o fez poeta repentista. Recentemente publicou uma colectânea de poemas bem humorados, onde, diplomaticamente, manda tudo e todos às malvas, porque, se mal estávamos quando nasceu, pior estamos quando tudo fez (fizemos) para tudo se perder, até a esperança...
Maria Angelina Pereira (Gina) nasceu e vive em Vila Real, onde se fez empresária. Mas a sua irrequietude não esmoreceu. Fez decorações artísticas para animação festiva, escreve poesia e, no próximo dia 17, vai reunir à sua volta, muitas dezenas de amigas, amigos e admiradores, partilhando com eles, no Grémio Literário da capital Transmontana, a satisfação de apresentar o seu primeiro livro que se chama: Rosa-Mãe – Rosa-Mulher. Lá estaremos para a felicitar.
José Miranda Alves nasceu em Ferral, concelho de Montalegre, em 1943. Foi à guerra e voltou para as suas paisagens idílicas, tendo a sorte de, em 1954, terem início as obras na Barragem da Venda Nova, onde ele e os jovens da sua geração, arranjaram emprego. Desde há vários mandatos é presidente da Junta da sua freguesia. E com tudo o que constituiu o seu percurso de vida,  elaborou uma auto-biografia, profusamente ilustrada, a que chamou «Contos das Minhas Memórias», prefaciada pelo Presidente da Câmara de Montalegre, Fernando Rodrigues. Parabéns ao autodidata.

Barroso da Fonte
in:jornal.netbila.net

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