domingo, 20 de abril de 2014

Idosos fazem folares como antigamente

São nove e meia da manhã. Um grupo de 45 idosos concentra-se à volta de um forno em Penafria, Carrazeda de Ansiães. Vão fazer folares e bolinhos económicos como antigamente.
A iniciativa é dos Centros Sociais e Paroquiais de Mogos, Fontelonga, Vilarinho da Castanheira, Lavandeira e Pombal de Ansiães para recordar uma atividade em que todos participavam noutras Páscoas e Pascoelas. Fosse a produzir... ou a comer.
As funcionárias das cinco instituições também foram. Para ajudar. "Há muitos idosos que já não estão em condições de fazerem esforços, por isso só vieram ver e recordar", explica Alexandra Rodrigues, diretora técnica do Centro Social e Paroquial de Mogos.
São idosos com idades entre 65 e 89 anos. Eles vão buscar a lenha e aquecem o forno. É o caso de João Trigo, de 81 anos, há dois no Lar dos Mogos. "Se eu não fosse nem sabiam fazer uma fogueira", sorri o idoso, bem animado, homem capaz de "acender uma fogueira, compor uma parede, rachar lenha e jogar à luta, se for preciso".
As mulheres preparam a massa. "Há quem esteja sempre a dar dicas: É preciso pôr mais azeite, é preciso amassar melhor, entre outras", adianta Alexandra Rodrigues.
Aurora Celeste, 88 anos, de Vilarinho da Castanheira, já não tem a cabeça de outros tempos, mas ainda tem força e genica nos braços para amassar. "Sempre fui forneira. Já me passaram muitos e muitos folares e pães pelas mãos. Eram canastras e canastras deles". No fim da Páscoa era um "grande cansaço". Mas tinha de ser. "A gente tinha de o ganhar, não era"!
Lucinda Morais, de 89, ensinou "toda a Lavandeira", em cujo lar reside, a cozer pão, folares e tudo o resto. Sempre teve empregadas para dar conta do recado e era "pelas mãos delas" que ela comia. Ou seja, recebia a poia (uma parte da produção final, neste caso um pão em cada 15). "Elas davam-me o que entendiam, mas eram muito sérias".
Do seu forno, que chegou a ser único na aldeia, já pouco resta. Há 20 anos que não funciona e foi-se degradando. Muitos dos utensílios com que preparava o pão, foram já cedidos ao Museu Rural de Vilarinho da Castanheira.
Maria do Céu Venâncio, 82 anos, e José Correia, 77, são os donos da casa do forno da Penafria. Tem "uma história de 300 anos" e nos últimos anos foi sujeito a obras de recuperação. "Cozemos uns 25 pães grandes de 15 em 15 dias para toda a família", dizem.
Noutros tempos também o emprestavam a outras pessoas da Penafria e de outras localidades vizinhas. "E coziam de graça. Nunca levamos dinheiro a ninguém. Às vezes ainda se serviam da nossa lenha", sorri José, que recorda com graça a resposta dos prevaricadores: "Deixe lá, a gente queima a sua lenha, mas fica-lhe cá a cinza".
Os 250 bolos económicos e os 60 folares produzidos nesta iniciativa foram comidos durante um lanche no final da jornada de trabalho, mas não antes de todos irem à missa. O que restou foi dividido pelos cinco centros sociais e paroquiais.

in:jn.pt

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