sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Bragançanos Extraordinários

Nos últimos três anos, esta investigadora, coordenadora de uma equipa de cientistas no Laboratório Nacional de Física Britânico, desenvolveu um material que pode revolucionar os veículos elétricos no futuro. E talvez toda a indústria automóvel.
É provável que, num futuro não muito longínquo, a compra de um carro elétrico, de qualquer marca, seja bem menos dispendiosa. E que esse mesmo carro, sendo mais barato, seja menos pesado, tenha maior autonomia e seja menos exigente nos custos de manutenção. Quando esse dia chegar, lembre-se deste nome: Tatiana Correia. Esta portuguesa de 31 anos passou os últimos três a coordenar uma equipa de cientistas no Laboratório Nacional de Física Britânico e é co-inventora de um material que promete revolucionar a indústria automóvel no segmento dos veículos elétricos.
O novo material foi usado na construção de um condensador, o HITECA, que ao contrário dos condensadores atuais – que não podem ultrapassar temperaturas de 70ºC – aguenta mais de 200 graus. Significa que o carro elétrico pode dispensar complexos sistemas de refrigeração, que lhe aumentam o peso e roubam autonomia, tornando-se mais eficiente na conversão da energia e ainda mais amigo do ambiente, porque o condensador HITECA não contém chumbo.
O projeto, financiado por uma plataforma do governo britânico e que envolveu um consórcio de quatro empresas e duas universidades, está agora na fase de produção do condensador, que ainda não tem data para chegar ao mercado. Mas a patente já está registada e há interesse de “produtores de todo o mundo”, garante Tatiana, porque o problema do funcionamento da eletrónica a altas temperaturas estende-se a outras áreas, da aviação às energias renováveis.
O impacto deste trabalho impressiona, mas a cientista transmontana, nascida em Bragança e a viver em Londres desde 2007, garante que ainda há muito para fazer. Até porque liderar a equipa de cientistas que desenvolveu este equipamento não é a única coisa a que se tem dedicado: simultaneamente, trabalha noutros projetos na área de novos materiais para refrigeração porque, explica “qualquer tipo de refrigeração, desde os frigoríficos ao ar condicionado, usa tecnologia com mais de 100 anos e liberta gases poluentes”.
Em 2013, ainda teve tempo para fundar, com uma colega portuguesa, a Native Scientist, organização sem fins lucrativos que pretende promover a ciência e a língua materna junto dos estudantes emigrados no Reino Unido. Fizeram parceria com a PARSUK (associação de investigadores e estudantes portugueses no Reino Unido) para angariar voluntários e, naturalmente, começaram pela comunidade portuguesa. Têm visitado alunos dos 6 aos 17 anos e, em jeito de ‘speed dating’, oferecem-se para responder às suas dúvidas e questões científicas, explicando-lhes que é uma mais-valia serem bilingues e incentivando a que não esqueçam o português, a sua língua materna. Procuram ser ‘role models’, figuras inspiradoras para ajudarem os emigrantes mais novos a lidar com as suas crises identitárias. Já estenderam este trabalho à comunidade espanhola e estão em contactos com os polacos.
De Portugal, sente saudades “de sair do trabalho e ir lanchar com amigos”, da parte “mais social” que os ingleses não cultivam. Apesar de reconhecer que Londres “é uma cidade dinâmica”, não representa “Inglaterra ou o resto do País”. Sempre que pode, e graças aos voos low cost, regressa ao norte, onde sempre viveu e estudou: primeiro em Bragança, até ao secundário, na Universidade do Porto, que frequentou para a licenciatura em física e depois na Universidade de Aveiro, onde terminou o mestrado em engenharia e ciência dos materiais. Quando trabalhava no Instituto de Física dos Materiais da Universidade do Porto, recebeu o convite para se juntar a uma equipa de investigadores no Reino Unido. Fez o doutoramento e seguiu para o Laboratório Nacional de Física Britânico. O melhor? Foi a primeira portuguesa a entrar.

in:noticiasmagazine.pt

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