sexta-feira, 6 de julho de 2018

… quase poema… ou das meditações

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

… quase poema… ou das meditações
E todos se calaram… a paixão da sexta-feira se adivinhava… e o silêncio doía mais do que o vento frio soprado dos lados da Galileia… 
… e calaram-se!.. e longa é a noite… e longo é o silêncio! 
"Uma grande multidão estendeu seus mantos pelo caminho, outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam pelo caminho.
A multidão que ia adiante dele e os que o seguiam gritavam:
"Hosana ao Filho de David!"
… mas o tempo era de morte anunciada!
"Estando Pedro em baixo, no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote. Ela fixou os olhos em Pedro, que se aquecia, e disse: Também tu estavas com Jesus de Nazaré. Ele negou: Não sei, nem compreendo o que dizes. E saiu para a entrada do pátio; e o galo cantou. (Mc 14, 66-68)"
… até tu Pedro, a pedra angular da Igreja, te calaste… enquanto Barrabás se ria na praça pública!... a noite estava fria e tu aquecias as mãos no braseiro do conforto.
"…o que põe comigo a mão no prato, esse me há de trair. (Mateus 26:23)"
"Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão. (Mateus 26:31)"
"Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás. Mateus 26:34"
"Aquele que nunca pecou atire-lhe a primeira pedra. Ao ouvirem estas palavras foram saindo dali um a um…"
“Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Ninguém, Senhor! Respondeu ela. Também eu não te condeno- disse Jesus. Vai e não tornes a pecar.” 
"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano, e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."
… Hoje levantei-me cedo… a aldeia adormecida era igual a si mesma… nem um sinal de novidade… nem um lamento… nem um sorriso!
… abro a Bíblia e o pó espalha-se pelo ar… e homens justos e pecadores se encontram na sua condição humana!
… é tempo de compaixão pelos justos e pecadores!
… e os cravos de abril hão-de nascer de novo!... e será manhã!
… e o galo acordou a longa noite transmontana das minhas incertezas…e cantou três vezes!


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

Sem comentários:

Enviar um comentário