quarta-feira, 26 de novembro de 2014

«Receitas e Sabores dos Territórios Rurais» para descobrir a identidade portuguesa

Em duas décadas de associações de desenvolvimento local em Portugal muitas são as recolhas do património feitas. As receitas dos pratos portugueses integram essa recolha que pode agora ser consultada no livro «Receitas e Sabores dos Territórios Rurais». Uma obra relevante porque a gastronomia gera economia e está intrinsecamente ligada à identidade dos territórios, adianta a Federação Minha Terra, entidade promotora do livro.

Cilarcas com ovos, ensopado de enguias, couves com feijão, tortas de Guimarães, bolo de cornos são algumas das receitas incluídas no livro «Receitas e Sabores dos Territórios Rurais», uma iniciativa da Minha Terra – Federação Portuguesa de Associações de Desenvolvimento Local.

O país de Norte a Sul está dividido por diferentes sub-regiões e em cada uma delas o livro descreve o território numa breve nota introdutória. Em seguida, a obra lista as receitas das iguarias mais características dessa zona do país. Este título, mais do que um livro de receitas, é uma viagem à cultura gastronómica do país.

As receitas agora partilhadas têm sido recolhidas ao longo dos anos pelas 53 associações de desenvolvimento local que integram a Federação Minha Terra. «A informação tem sido recolhida nos últimos 20 anos, idade de muitas das associações de desenvolvimento local, Informação que existia de forma dispersa. Pensámos que fazia sentido trabalhar esta matéria de uma forma organizada. Isto cristalizou-se quando começámos a trabalhar com o objectivo das “7 Maravilhas da Gastronomia” [eleição que decorreu em 2011]», explica Regina Lopes, presidente da Minha Terra.

«Associamos muito a questão da gastronomia à questão da identidade territorial por isso houve um momento de recolha intensa. Esse trabalho tem de continuar a ser feito. Mas, em relação à gastronomia não é só recolher a receita, existem inclusive variedades, espécies de vegetais, que correm risco de desaparecer e que fazem diferença naquele prato e que é preciso preservar», alerta Regina Lopes.

A gastronomia é um património nacional que movimenta diferentes sectores da economia, como o turismo, a restauração, a agricultura, as pescas. «Trabalhar com mais realce a gastronomia permite, por exemplo, dar mais visibilidade à importância de sectores como a restauração que tem sido muito afectada com a crise económica», acrescenta a nossa interlocutora.

Regina Lopes reforça ainda que «as pessoas hoje quando vão a um restaurante não vão apenas satisfazer uma necessidade básica, querem também ter um momento diferente, uma experiência, por isso, faz todo o sentido que se recuperem e ponham em cima da mesa os elementos que têm a ver com a tradição, com a dinâmica e com aquilo que tem a ver com a identidade territorial».

A gastronomia permite também, sublinha a presidente da Minha Terra, «dinamizar um conjunto de outras actividades como agricultura e pecuária. Após provar um determinado prato num local, fica a curiosidade, o gosto. Quem consome naquele momento um prato confeccionado de um determinado produto tem curiosidade em reproduzir em casa, em adquirir os produtos, isso gera toda uma economia em torno da gastronomia».

O livro «Receitas e Sabores dos Territórios Rurais» resulta de um trabalho associativo, um movimento de diversos cidadãos que Regina Lopes considera de extrema importância porque «Portugal só poderá ter um caminho mais seguro, sustentado, se trabalhar numa perspectiva de associativismo, de organização da sociedade».

«O português associa-se em eventos de natureza cultural e recreativa, mas na área económica é mais difícil. Mas a verdade é que quando os produtores se organizam retiram resultados muito interessantes e temos exemplos disso no nosso país. Precisamos de nos associar para comercialização, para produzir, para promover. As iniciativas isoladas perdem-se no tempo, perdem-se no meio de todas as iniciativas organizadas», considera a mesma responsável.

Além das associações de desenvolvimento local, o livro contou ainda com a intervenção da Associação para o Estudo e Promoção das Artes Culinárias As Idades dos Sabores que permitiu «concretizar um trabalho que junta o conhecimento gastronómico à inserção no contexto de cada um dos territórios e dos seus costumes».

O livro teve apoios comunitários para a sua realização, por isso, não pode ser vendido. Contudo, a Federação Minha Terra tem como «objectivo partilhá-lo com as entidades e organizações que possam ajudar-nos a levar mais longe este património que é nacional».

Sara Pelicano; Fotos - ADAE e ADICES
in:cafeportugal.pt

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