quinta-feira, 25 de junho de 2015

Portugal de Georges Dussaud e Miguel Torga em exposição

Uma exposição com perto de 80 fotografias mostra, a partir de sexta-feira, em Bragança, universos desaparecidos de Portugal e imortalizados pela objetiva do fotógrafo francês Georges Dussaud e pelos textos do escritor transmontano Miguel Torga.
"Portugal" é o nome da exposição que, sala a sala, convida a uma viagem de 34 anos que "ora fazem subir ao mundo perdido que pulsa no cimo das serras da Nogueira, Montesinho, Larouco, Barroso e Gerês, ora desce à angústia dos vales profundos do Douro e descansa o olhar na ampla orla marítima ou na imensidão da planície" alentejana.

"É uma viagem no tempo a universos hoje já desaparecidos", como descreveu à Lusa Jorge da Costa, comissário da exposição que "de relance visita ainda Lisboa porque afinal, diz Torga, a Pátria é tanto o lodo de Alfama, o poleiro de S. Bento e a miséria mental do Chiado, como a lisura de Trás-os-Montes e a ênfase do Alentejo".

Da "grande relação" entre a obra Portugal de Miguel Torga e os registos do fotógrafo nasceu a ideia de juntar os dois nesta mostra que pode ser visitada até 30 de outubro no Centro de Fotografia Georges Dussaud instalado no edifício do Auditório Paulo Quintela, em Bragança.

O fotógrafo francês nascido na Bretanha em 1934 doou a Bragança, em 2013, parte do trabalho que realizou nas dezenas de viagens que fez a Portugal.

Esta é a terceira exposição que resulta das mais de 200 fotografias que constituem o acervo do Centro Georges Dussaud, segundo o comissário.

Mais do que os lugares, descreveu, "as imagens de Dussaud são testemunho dos seus encontros afetivos e da convivência franca com as pessoas e os seus modos de vida, figuras anónimas que na banalidade e na dureza das suas vidas, seja no pastoreio ou na vindima, na apanha do sargaço ou na pesca, na sua relação com o sagrado ou nos banais afazeres do quotidiano, são os grandes arquitetos da história destes frágeis universos e da identidade deste "mapa da pequenez que nos coube" a que chamamos Portugal".

Em Portugal, escrevia Miguel Torga, em 1950, "há duas coisas grandes, pela força e pelo tamanho: Trás-os-Montes e o Alentejo".

" Trás-os-Montes é o ímpeto, a convulsão; o Alentejo, o fôlego, a extensão do alento", ilustrou Torga.

Entre as duas "há uma infinidade e afinidade de lugares e tradições, de pessoas e atmosferas, de cenas de trabalho e de afetos, de gestos e de rostos, de romarias e rituais, de incontáveis histórias ancestrais, universos miraculosamente intactos que pareciam subsistir, segundo o poeta, à espera de uma objetiva que os perpetuasse antes que desaparecessem de vez na voragem do progresso".

Alguns sucumbiram já, mas não antes que Georges Dussaud respondesse ao desafio de Torga, que, como fotógrafo viajante, vem fixando pela imagem a cartografia de um Portugal antigo e autêntico, um amplo quadro de referências que a singularidade da própria obra veio mostrar ao natural, sem retoques, e repleta de humanismo, explicou o comissário da exposição.

Trás-os-Montes e o Alentejo delimitam o início e o fim deste périplo proposto pela mostra, as mesmas regiões que cruzariam, pelo acaso, os caminhos da primeira viagem de Dussaud a Portugal.

Agência Lusa

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