quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Desesperadamente à procura de água

No concelho de Bragança, a falta de água está a deixar os agricultores, principalmente os que têm animais, à beira do desespero. Há quem tenha que fazer mais de 50 quilómetros por dia para transportar milhares de litros de água, duma exploração para outra. Mas mesmo as reservas também estão a escassear.
Gonçalo Villaverde/Global Imagens
Os animais não têm que comer porque as pastagens secaram mais cedo do que o normal e, agora, as forragens que estavam destinadas para o inverno, estão a ser utilizadas para alimentar os animais.
Um bom exemplo disso é o caso de Manuel António, agricultor na aldeia de Carragosa a poucos quilómetros de Bragança. Ele, a mulher e o filho cuidam de 140 vacas e perto de 400 ovelhas. No verão leva a maior parte para terrenos alugados na serra de Montesinho. O resto, por causa da seca, está nos estábulos perto da aldeia. " Ficámos com alguns terrenos alugados na serra de Montesinho e temos lá parte da exploração. Tinha aí outras vacas noutros lameiros mas acabaram por não ter lá água e trouxe-as para cá", diz o agricultor.
Na serra, os animais maiores que andam à solta, procuram eles a água. " As vacas que saem para fora da vedação ainda procuram elas a água. Muitas vezes até irão beber à barragem...elas têm que beber nalgum sítio". Para os vitelos, Manuel António, tem que a levar da aldeia. "Tenho que a lá levar, não há água. Havia ali uns nascentes perto mas secaram. Não os posso deixar morrer à sede", acrescenta.
De manhã e à noite faz quatro viagens e mais de 50 quilómetros. "Umas vezes nesta carrinha de transporte de animais, outras vezes noutra carrinha mais pequena. Levo-lhes 2000 litros. Mil de manhã e outros mil à noite... levo todos os dias". Mas começa a ter outro problema. As reservas que tem em Carragosa estão a chegar fim. " Também estão quase a acabar. Está quase no fundo, aquilo ao acabar, não sei".
Com as cerca de 400 ovelhas a situação é semelhante, diz Alcina Afonso, mulher de Manuel António. " Temos que procurar água onde a há. Às vezes andamos quilómetros para as "chegar" a beber. A água é pouca em todo o lado. As pastagens estão todas secas". Manuel António acrescenta que à falta de água junta-se agora a falta de alimento. "Não têm nada. Secaram-se. Nós fizemos cerca de 15 hectares de milho, não temos lá nada. Algum nem nasceu. Com a seca não nasceu. Já não há água desde o inverno. Sempre cada vez manos, cada vez menos."
É por isso que, tanto para as vacas como para as ovelhas, Manuel António e a esposa já estão a dar as forragens que eram para o inverno, diz Alcina Afonso. " Sim, porque o que tínhamos guardado para o inverno têm que o comer agora no verão, depois no inverno vamos ver. Vamos cortando ramas de freixo e a gente vai governando-se como pode para ver se não gastamos muito a comida que temos guardada para o inverno. O casal é só um exemplo do que os produtores de gado, na região, estão a passar, por causa da seca.

Afonso de Sousa
TSF

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