sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Três Lendas do Concelho de Carrazeda de Ansiães

Lenda do penedo das letras

Entre o Cachão da Rapa e a Pesqueira do Marulho, [no concelho de Carrazeda de Ansiães] está um grande penedo, próximo da corrente do rio, mas onde não chegam as águas dele. (....)
Ao fundo do penedo, da parte que olha para o Douro, existe um portal que parece obra da natureza e dá entrada para uma grande sala, com assentos em redor, e no meio uma grande mesa, tudo em pedra. Nesta sala há uma porta, que provavelmente conduz a outras interiores, que ninguém tem querido examinar.
Consta que o padre Domingos Mendes, na manhã de S. João, no ano de 1678, com sobrepeliz e estola, pretendeu penetrar nestas concavidades, em busca de tesouros encantados, mas que, entrando na segunda sala, sentiu um cheiro tão pestilente, e teve tal medo, que fugiu tremendo, e ficou mentecapto o resto dos seus dias, que foram poucos. Também se diz que pouco depois de sair deste antro, lhe caíram todos os dentes. (...)
A esta penha ainda o povo chama o penedo das letras.

Fonte: LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno, vol. 8, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, 1878, pp. 49-50


O Castelejo

Versão A:
No lugar do Pombal [concelho de Carrazeda de Ansiães], sobranceiro à estrada que vai para S. Lourenço, do lado direito, existe um Castelejo que não é mais que um amontado de penedos que a Natureza ali colocou. Há quem diga que deriva de um castelo ou de um castro que em tempos remotos ali existiu.
Contam que no dito castelo está uma moura encantada com o seu tear de ouro.
A lenda diz também que na noite de S. João, da meia noite até antes do sol nascer, ouviam bater o tear, a ponto de uma pessoa, ingénua e ao mesmo tempo ambiciosa, num certo dia de S. João, dentro do raio de um sino saimão, foi rezar, implorar e pedir um pouco desse ouro. Só que, lenda ou não, contam que essa pessoa foi tão maltratada por forças estranhas e invisíveis, que tremeu sezões e nunca mais se atreveu a ir cobiçar a tal suposta riqueza.

2ª versão (A moura do Castelejo):
Na aldeia de Pombal de Ansiães, concelho de Carrazeda de Ansiães, num monte sobranceiro ao rio Tua, e junto às águas termais de S. Lourenço, há um conjunto de fragas muito bem alinhadas a que o povo chama Castelejo. O povo diz também que em noites de lua cheia ali se ouve o bater de um tear e, às vezes, o choro triste de uma moura encantada.
Há quem tenha conhecido na aldeia um pastor que, ao passar ali numa certa noite, viu a moura a pentear os seus longos e belos cabelos. Cheio de curiosidade, e porque lhe parecia uma mulher muito bonita, aproximou-se para meter conversa com ela. Só que nessa altura pôde vê-la melhor, e descobriu que ela apenas era mulher da cintura para cima. Daí para baixo era uma cobra.
O pastor arrepiou-se todo e deu então três passos atrás, pronto para fugir. Mas ela chamou-o, dizendo:
– Não tenhas medo da minha triste sina. Estou neste estado, mas sou uma mulher bela. E se tens dúvidas, vem cá na noite de S. João, e ver-me-ás, tal como sou, a banhar-me nestas águas.
Diz-se que o pastor lá foi nessa noite, e que a viu a tomar banho nas águas de S.Lourenço. E que era tão bela como nenhuma outra mulher. Também se diz que, durante muito tempo, era costume as moças da aldeia, nas noites de S. João, irem banhar-se nessas águas, na crença de que ficariam belas e sedutoras.

Fonte – versão A: TEIXEIRA, Flora – "O Castelejo", in O Pombal, Carrazeda de Ansiães, Associação Rec. e Cultural de Pombal de Ansiães, Setembro de 1997. Fonte – B: Inf.: Maria da Conceição Félix Fonseca, 43 anos; rec.: Zedes, Carrazeda de Ansiães, 2000.


Figueira Redonda

No sítio da Figueira Redonda, termo de Môgo de Malta, concelho de Carrazeda de Ansiães, há um bloco enorme de granito, forma esferóide, de muitos milhares de toneladas de peso, que, diz a lenda, foi trazido à cabeça por uma mulher fiando na roca (outros dizem pelo diabo) do sítio de Cabreira, num percurso de três quilómetros, por uma íngreme ladeira acima, cheia de ravinas e despenhadeiros, eriçadas de fragas, onde com dificuldade se anda a pé. Contíguo a este, há outro de configuração discóidea achatada, que, no dizer da lenda, era a rodela onde assentava o bloco maior que a mulher trazia à cabeça.

Fonte: ALVES, Francisco M. – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, vol. IX, Porto, 1934, p. 454.

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