sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Duas Lendas do Concelho de Mirandela

O caçador e a moura

Contam ainda hoje alguns dos moradores mais antigos de Ferreira, concelho de Mirandela, que numa ocasião andava um homem à caça no monte do Serro, o lugar mais alto da aldeia, quando foi beber água a uma fonte e encontrou lá uma menina sentada, a pentear-se com um pente de ouro.
A menina, que era uma moura, falou com o caçador, dizendo-lhe que estava ali há muitos anos encantada e que o seu encanto só seria quebrado por alguém que fosse muito corajoso e fizesse como ela pedisse. E que, se conseguisse desencantá-la, ficaria muito rico, ele e toda a família até à quinta geração.
O caçador, que se achava um homem corajoso, aceitou. Ela então disse-lhe:
– Primeiro venho transformada num sapo e subo até à tua boca para te dar um beijo. Depois venho transformada numa cobra, subo por ti acima e também te dou um beijo. E depois venho transformada num touro bravo e faço-te igual. Mas não podes ter medo nem fugir. Já sabes que serei sempre eu. E não te faço mal.
A moura disse-lhe a noite em que teria de lá ir, e ele compareceu. Apareceu-lhe então um sapo muito feio, que lhe saltou para a cara dando-lhe um beijo na boca. E de repente o sapo transformou-se na linda princesa. Toda contente disse-lhe:
– Vês como não custou nada? Agora voltarei feita numa cobra, por favor não tenhas medo.
Apareceu-lhe então uma cobra a assobiar, subindo por ele acima. Deu-lhe também um beijo e ele aguentou. E mal o beijou, a cobra também se transformou em princesa, sorridente, e toda animada com a coragem do homem. A seguir era a vez do touro bravo. Ele então lá veio, todo enraivecido, fazendo tanta poeira com as patas, abanando a cabeça e a cornadura, espumando pela boca, que o homem ficou de tal modo assustado que desatou a fugir.
Apareceu-lhe então a princesa, muito zangada, dizendo-lhe:
– Maldito sejas tu e toda a tua família, pois dobraste-me o encanto. Serás um desgraçado até ao fim dos teus dias assim como toda a tua geração.
E dizem que assim aconteceu. O homem morreu pobre e a família levou o mesmo caminho. Quanto à moura, lá está encantada à espera que o tempo do encanto passe, e alguém, mais corajoso, lá vá quebrar-lho. Ainda hoje muitos têm medo de se aproximar desse lugar.

Fonte: Inf.: Maria Olímpia Morais, 43 anos; rec.: Mirandela, 2000.

Lenda do buraco da Muradelha

Havia nestas paragens um príncipe mouro que tinha uma filha casadoira muito bonita e que foi pedida em casamento por um outro príncipe, também mouro, muito rico e muito do agrado do seu pai.
A jovem, como não gostava do noivo, passou a andar muito desgostosa e, para espalhar a tristeza, costumava ir para o monte cantar. Entretanto, o noivo, ao saber que ela o não queria, e pensando que ia para o monte em busca de alguém do seu agrado, enfeitiçou-a.
Passado algum tempo, andava um pastor a guardar o seu rebanho, quando foi atraído por uma voz de mulher. Foi sempre atrás do som que ouvia, e acabou por ir dar ao monte da Muradelha, situado próximo de Vale de Salgueiro, concelho de Mirandela. Deparou então com uma moura encantada, que era metade mulher e metade cobra. E à cintura trazia uma corrente de ouro. Ele ficou muito admirado e assustado.
Disse-lhe então ela:
– Não tenhas medo. Um beijo teu basta para desfazer o meu encanto. E em troca dar-te-ei esta corrente de ouro.
O pastor encheu-se de coragem e beijou-a. E assim o encanto da moura se quebrou, transformando-se numa bela jovem, que logo se apaixonou pelo seu salvador.
Contudo, como sabia que esta paixão jamais seria aceite por seu pai, e sabendo que ele a aguardava para a entregar ao noivo, a jovem resolveu fugir, lançando-se ao rio Rabaçal.
E o pastor, vendo-a lançar-se, foi atrás dela, mas pelo "Buraco da Muradelha", por onde vai uma mina, com cerca de três quilómetros, dar ao rio Rabaçal. Só que nunca mais se encontraram. Dizem os velhos que todas as noites de lua cheia a moura sobe o rio e vem ao cimo do monte cantar para o pastor.

Fonte: Inf.: Maria da Graça Fialho Ferreira Garcia, 43 anos; rec.: Mirandela, 2000.

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