terça-feira, 18 de outubro de 2016

Três Lendas do Concelho de Mirandela

A velha e o carvão

Uma velhota de Vila Verdinho, concelho de Mirandela, andava um dia a guardar umas ovelhas num campo pegado à aldeia, quando lhe apareceram três mouras a pedirem-lhe um pouco de leite para matarem a sede.
A velhota, como era pessoa bondosa, foi logo mugir as ovelhas, deu o leite a beber às mouras e ainda lhes ofereceu parte da merenda que tinha consigo.
As mouras agradeceram e uma delas pega então nuns pedaços de carvão e dá-lhos como paga, dizendo que os guardasse até casa e que não se arrependeria.
Ela guardou os pedaços de carvão no avental, mas, quando ia a caminho de casa, com medo que o marido viesse a saber que tinha dado o leite às mouras, resolveu atirá-los fora. Mais tarde, já em casa, ao sacudir o avental, viu que uns restinhos do carvão se tinham transformado em bocadinhos de ouro. O marido, que estava ao pé, ficou muito admirado, obrigando-a a contar tudo. Soube então da história do carvão e logo trataram de ir os dois, muito ligeiros, à procura dos bocados que ela tinha atirado fora no caminho.
Mas já nada encontraram. Há quem diga que ainda lá andam, para cá e para lá, a saber do carvão.

Fonte: Inf.: Olímpia da Ressureição, 92 anos; rec.: Vila Verdinho, Mirandela, 2000

A chave de ouro

Antigamente, a gente era pobre e tinha de ir apanhar a lenha ao feixe. Como havia pouquinha, íamos para muito longe saber dela e tínhamos os pousadoros certos para descansar.
Um dia deu-nos para chegar ao pé do “Fragão” [um grande penedo situado em Lameirinha], onde os antigos diziam que havia um encanto. Tomámos coragem e fomos ver a frincha do fragão. Vimos então lá uma chave com 60 centímetros de ouro.
E chegámo-nos logo à frente a ver se a caçávamos.
Mas de nada valeu. A chave pôs-se a fugir pela frincha adentro, como se tivesse pernas. E lá mais para os fundos ouvimos alguma coisa a fazer tlim-tlim. Como não vimos mais nada, julgámos que era a chave a tlintar, mas os antigos sempre disseram que ali havia uma tecedeira encantada e que, por isso, o tlim-tlim só podia ser o barulho do seu tear.

Fonte: Inf.: Idalina da Conceição Cabages, 73 anos; rec.: Ribeirinha, Mirandela, 2001.

A pocinha do Vale de Amieiro

Versão A:
Em Vale de Amieiro, perto de Ribeirinha, havia antigamente uma pocinha de água, de onde saía um encanto. Mas não o via toda a gente. Dizem que esse encanto era uma menina que estava um bocadinho ao sol e depois sumia-se. Quem a viu dizia que estava a pentear-se.
Ora esta menina também não falava com ninguém, a não ser, de vez em quando, com a madrinha e com o padrinho. Então o padrinho era muito jogador. E um dia, quando estava a perder, disse para os companheiros:
– Eu cá jogo e torno a jogar enquanto a pocinha do Vale de Amieiro não secar!
Fez bem mal. Com estas palavras dobrou o encanto à afilhada que nunca mais apareceu. E a pocinha secou.

Versão B (A donzela encantada e o jogador):
Na aldeia de Ribeirinha, concelho de Mirandela, brota de uma fraga uma água muito pura, que o povo acredita ser milagrosa. O local é hoje conhecido como Fonte de Nossa Senhora da Ribeirinha.
Conta-se que numa ocasião ia de noite um homem àquela fonte e viu lá uma cobra. Vai daí, agarrou num pau e aprontou-se para lhe dar com ele. Nisto, a cobra pôs-se a falar e disse-lhe:
– Não me mates, que não te arrependerás!
O homem ficou muito admirado e já não lhe deu com o pau. Ela então continuou a dizer-lhe:
– Eu sou uma donzela encantada e amanhã acaba o meu fado. Se aqui vieres à meia noite, eu subo por ti acima e dou-te um beijo na face. Porém, tu não podes fazer o mais pequeno gesto, nem estremecer, porque se o fizeres dobras-me o fado.
Na noite seguinte, o bom homem voltou à fonte. Ia cheio de coragem e esperou pela meia noite. Ela então lá lhe apareceu como tinha dito. Depois subiu-lhe pelo corpo e o homem nem se mexeu. Só que, no momento em que o ia beijar na cara, ele estremeceu. Então a cobra desceu e, com uma fala que mais parecia um rugido, disse:
– Dobraste-me o fado, mas não te arrependerás de aqui ter vindo. Todas as noites aqui encontrarás três moedas.
O homem nunca se esquecia de ir lá buscar o dinheiro. Fazia-lhe jeito. Só que uma vez, quando estava a jogar, perdeu. E não se mostrou nada incomodado com isso.
Disse então aos outros jogadores:
– Enquanto na fonte da Ribeirinha todas as noites as três moedas encontrar,
hei-de sempre poder jogar.
Tal coisa não tivesse dito. Nessa noite, quando lá foi saber das três moedas, o que encontrou foram três carvões. E nas noites seguintes nem isso.

Fonte – versão A: Inf.: Idalina da Conceição Cabages, 73 anos; rec.: Ribeirinha, Mirandela, 2001. Fonte – versão B: Inf.: Sílvia de Jesus Costa Felgueiras, 46 anos; rec. Mirandela, 1999.

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