quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A Feira de Bragança ao longo dos tempos (3) O ABANDONO DO TOURAL E AS SOLUÇÕES PROVISÓRIAS

Em relatório feito no ano de 1969, pela Direção de Urbanização de Bragança, foi estudada a seguinte questão, “Tem realmente Bragança necessidade de um novo mercado ou, pelo contrário, deve extinguir o existente?”, relatório no qual se concluía que havia que construir um novo mercado em local apropriado, com dimensionamento e concepção apropriados e com nova feira para o gado, a localizar na periferia, conforme já estava previsto, pois havia que higienizar o chamado Toural, onde se realizavam as transações de gado e outros produtos, local onde se previa a construção da Nova Sé. 
Na fotografia, do ano de 1950, que integra o anteplano de urbanização da cidade de Bragança, do urbanista Januário Godinho, vê-se o local previsto para a construção da nova Sé e da nova Praça, atual Praça Cavaleiro de Ferreira.
A saída da feira do Largo do Toural era inevitável, o crescimento da cidade exigia que novas frentes de construção fossem abertas, sendo o Toural um espaço propriedade municipal, natural seria que esta área viesse a ser urbanizada. A Câmara Municipal, por deliberação de 30 de janeiro de 1960 procedeu à contratação dos serviços do arquiteto Viana de Lima, que durante uma década assegurou o trabalho de consultor, avaliando os projetos de privados entrados na Câmara, projetando novos equipamentos, novas vias, novos espaços urbanos. Juntamente com Januário Godinho ajudou a construir bases de desenvolvimento urbano que fazem de Bragança uma das cidades melhor estruturadas do país. 
Foi no âmbito desta prestação de serviços que elaborou o loteamento da área poente/norte do Toural e respectivo regulamento de alienação e de construção de moradias unifamiliares, projeto datado do ano de 1960. A 13 de julho de 1963, o ministro da Obras Públicas, Eng.º Arantes de Oliveira, esteve no Largo do Toural para se inteirar dos planos de urbanizaçãoo desta parte da cidade. A urbanização da área a nascente da Capela de Santo António, frente ao cemitério, foi projetada pelo arquiteto Manuel Ferreira, na década de setenta. A urbanização do Toural fez a feira sair para espaço mais periférico. Ali se realizara a feira do gado durante três séculos e meio, de 1618 a 21 de dezembro de 1975.
A Câmara Municipal, por deliberação de 19 de novembro de 1975, transferiu a feira do gado para as proximidades do antigo campo de treino militar, feira que veio a extinguir-se durante o final da década de oitenta, início da década de noventa, resultado das restrições de circulação de gado, impostas por regas sanitárias associadas à erradicação da febre aftosa, não tendo sido posteriormente reunidas condições para que se voltasse a realizar. Transferiu a feira de vendedores ambulantes para terreno localizado a sul da rua B, entre o quartel da Guarda Nacional Republicana e a zona da Escola Industrial, com efeitos a partir de 1 de janeiro de 1976. 
Nessa altura a ampla frente urbana envolvente do antigo forte de S. João de Deus ainda estava livre. No ano de 1997, a feira mensal de 3, 12 e 21 realizava-se na envolvente do estádio municipal, para aí tinha sido mudada dois a três anos antes, um local sem condições particularmente durante o inverno, demasiado na periferia face aos locais de chegada e de partida dos autocarros, o que muito dificultava a vida às pessoas das aldeias, mesmo para as da cidade o local era demasiado afastado do centro da cidade. Exigia-se uma localização definitiva, mais central e com adequadas condições, o que veio a ocorrer no ano de 2003.
A feira das Cantarinhas, feira anual no dia 3 de maio, desde sempre se realizou no centro histórico, ocupando as ruas centrais. No ano de 2000, com o início das obras de requalificação do Centro Histórico, iniciadas pela rua do Paço, a feira das cantarinhas e feira do artesanato, por decisão de  13 de março de 2000, foram transferidas para o Parque Eixo Atlântico, construído nos anos de 1998 e 1999, local onde nesse ano se passaram a realizar as festas da cidade. 
No ano de 2001, com parte do Centro Histórico já requalificado, a feira do artesanato regressou ao centro da cidade, enquanto a Feira das Cantarinhas se mantinha do Parque Eixo Atlântico. No ano de 2004, a Feira das Cantarinhas passou a realizar-se junto do novo mercado municipal.
Acerca da origem da feira das Cantarinhas, escreveu o historiador, padre Belarmino Afonso, “A Feira das Cantarinhas, de origem medieval, realizava-se dentro ou fora da Cidadela, conforme a paz da feira o permitia. Manteve-se até há 40 ou 50 anos com marcas tipicamente medievais.”
No mês de dezembro de 2003 abriu portas o novo Mercado Municipal, com um espaço exterior de feira dos produtos da terra, ano em que a feira mensal deixou de se realizar na zona do Estádio Municipal José Luis Pinheiro, regressou ao espaço contiguo à Av. General Humberto Delgado e envolvente do Mercado Municipal. 
Neste ano e seguinte, a feira do artesanato realizou-se na margem esquerda do rio fervença, aproveitando a oportunidade de utilização de um novo e atrativo espaço, requalificado na 1.ª fase do programa Polis, inaugurado no mês de setembro de 2002, quando da realização do III congresso de trás-os-Montes e Alto Douro. No ano de 2005, realizou-se na nova Praça Camões.
Atualmente na feira de vendedores ambulantes, a presença maioritária é de vendedores de confecções e têxteis, seguindo-se o calçado, louças e similares, brinquedos, móveis e cestaria, malas e afins, discos e CD, num total de 91 vendedores, a maioria vindos da zona do Porto e Minho, sendo cerca de 40% do distrito. A parte da feira relativa à venda de produtos da terra faz-se na parte exterior do Mercado Municipal envolvendo, vendedores de plantas, frutas, enchidos, queijos, ferragens, tanoaria, batatas, animais vivos para criação (galináceos), etc. num total de 67 vendedores, vindo da zona de Mirandela, da Vilariça, de Macedo de Cavaleiros, de Zamora e alguns, poucos, do concelho de Bragança. A Feira das Cantarinhas regressou ao centro da cidade, no ano de 2014.

Jorge Nunes

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