terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Montaria de excelência em Terras de Alfândega da Fé

A montaria organizada, no passado Sábado dia 11 de Fevereiro, em Agrobom (Alfândega da Fé), pela Associação Florestal de Trás-os-Montes (AFTM) reuniu cerca de 300 pessoas, entre caçadores e acompanhantes, vindos de vários pontos do país e estrangeiro como por exemplo da Dinamarca, Luxemburgo e Suíça.
Numa mancha de 720 hectares e extremamente cuidada, sob o ponto de vista de gestão cinegética, foram colocados 179 postos de caça. Foi monteada por 13 matilhas, das quais quatro evoluíram de Norte a Sul e as restantes trabalharam ao choque. Nesta mancha, que apenas é monteada quando reúne condições, foram monitorizados cerca de 60 javalis e foram abatidos 35.

“O balanço é extremamente positivo, decorreu dentro daquilo que era previsto. A montaria em si como acto de caça foi de excepção, todas as armadas deram fogo. Esta mancha tem uma gestão cinegética cuidada e responsável baseada sempre na sustentabilidade do javali e numa exploração racional daquilo que é um recurso natural endógeno e selvagem”, refere o presidente da AFTM, António Coelho, acrescentando que esta mancha foi trabalhada durante cerca dois meses e meio mais intensamente e contou com 22 dias de campo.

“Houve muito cuidado na marcação das armadas e a mancha esteve durante dois anos intocável, nem se caçou caça maior nem menor, o que fez com que tivéssemos este resultado excepcional tendo em conta aquilo que foram os portes dos animais, quase todos eram adultos, e isto é um resultado de um trabalho apurado e atento da AFTM nestes dois anos que dedicamos a esta mancha”, explica.

O Clube de Monteiros do Norte (CMN) desenvolveu ao longo desta época venatória uma série de iniciativas venatórias e sociais no concelho de Alfândega da Fé e marcou também a sua presença institucional nesta montaria de Agrobom. 

“A presença do CMN e a relação institucional com a organização desta montaria é uma demonstração no sentido de contribuir para que se afirme de forma definitiva o potencial venatório deste território de Terras de Alfândega da Fé”, afirma o presidente do CMN, Nelson Cadavez, acrescentando que a montaria de Agrobom é um ícone das montarias do Nordeste Transmontano por várias razões, mas, principalmente porque encaixa em critérios de gestão cinegética sustentável.

O vice-presidente do CMN, Rui Cepêda, foi mais uma vez eleito o director da montaria de Agrobom, o que para ele é um orgulho. “Esta é uma montaria icónica na região em termos de resultados e não só, também em termos de participantes e em termos de mancha, é das melhores manchas da região”, afirma.

Desenvolvimento turístico e económico

A organização fez questão de envolver as entidades locais na organização e promover também uma feira de produtos regionais, onde os participantes puderam comprar desde fumeiro, queijos, azeite entre outros. 

Para o presidente da união de freguesias de Agrobom, Saldonha e Vale Pereiro, Eduardo Almendra, este evento venatório é de “extrema importância” para o desenvolvimento local e espera assim que ano após ano ganhe mais projecção para atrair mais gente à freguesia, potenciando a sua economia.

Também a autarca do município de Alfândega da Fé fez questão de marcar presença e salientar importância da actividade cinegética como estratégia de desenvolvimento social, turístico e económico. “A nossa autarquia trabalha no sentido de promover o reconhecimento do concelho como destino de eleição no que toca a actividades venatórias. Para isso as nossas associações estão a trabalhar com pessoas muito qualificadas que têm feito um trabalho muito bom no terreno de forma a combater o furtivismo e gerir de forma sustentável as espécies cinegéticas, proporcionando assim boas jornadas de caça. O objectivo é de atrair cada vez mais gente ao nosso concelho que muitas pernoitam cá e levam daqui muitos produtos de excelência”, salienta Berta Nunes.

Sector da caça preocupa ex-ministro

O ex-ministro da Agricultura e responsável pelo início do ordenamento cinegético em Portugal, Arlindo Cunha, esteve presente neste evento e manifestou a sua preocupação em relação ao estado actual deste sector, pois, considera que a falta de sensibilidade política nesta matéria tem sido uma catástrofe que não permite o desenvolvimento deste potente recurso em Portugal.

“O que está a acontecer agora é preocupante. A terrível doença nos coelhos e o abandono rural implica que só por si em termos naturais não haja caça. A única caça que, de facto, sobrevive com este abandono é o javali e por isso nos dias de hoje temos zonas onde o javali é praticamente uma praga, não há mais nada, não há coelhos, não há lebres, não há perdizes”, refere o ex-governante, acrescentando que “ainda por cima o que é muito preocupante é que ao longo de vários governos tem havido uma insensibilidade enorme, e sobretudo da parte da tutela da caça, em relação sector”. 

Arlindo Cunha dá o exemplo de países como a Espanha, França Alemanha, Inglaterra, países nórdicos e mesmo os Estados Unidos onde a caça é acarinhada e estimada, vista como um excelente meio de desenvolver as zonas rurais e mais pobres. Ao contrário do que acontece em Portugal, onde os caçadores entre licenças que pagam e taxas de reservas dão ganhos ao Estado cerca de 10 milhões de euros por ano que não têm nenhum retorno. Não se investe em investigação e “já para não falar da visão que têm as autoridades de segurança em relação às armas, olham para os caçadores como se fossem uns criminosos, contribuindo assim para o abandono da caça em Portugal. Estamos a passar um momento muito difícil mesmo", , conclui o ex-ministro da agricultura.

Cátia Lopes
in:noticiasdonordeste.pt

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