terça-feira, 27 de junho de 2017

Relação das Exéquias mandadas celebrar em Bragança pela Câmara à Morte de El-Rei D. João VI

Possuímos uma folha avulsa, sem título, mas que, pelo assunto, mostra ser uma relação das exéquias celebradas em Bragança pela morte de el-rei D. João VI. É impressa em Lisboa, na Tip. de Bulhões.

Diz que tendo constado em Bragança, a 25 de Março, por aviso da secretaria de Estado dos Negócios do Reino, a morte daquele rei, a câmara, reunida em sessão extraordinária, mandou anunciar o luto por meio de um bando e tocar funebremente os sinos da cidade por três dias, destinando o dia 19 de Abril para a cerimónia da quebra dos escudos e exéquias fúnebres.
O cortejo saiu dos paços do concelho e percorreu as ruas da cidade, indo nele incorporados: o bispo D. Frei José Maria de Santa Ana Noronha, o cabido, as irmandades da Misericórdia e Ordem Terceira, todos os funcionários públicos e pessoas gradas da cidade e a clerezia de Bragança e área em circunferência de duas léguas, com as tropas da respectiva guarnição e mais:

Bento José da Veiga Cabral, governador da praça;
José de Barros e Abreu, major comandante do regimento de cavalaria nº 12;
Manuel Bernardo da Silva Rebocho, tenente-coronel comandante do
regimento de infantaria nº 24;
Joaquim Gualdino da Rosa, major de infantaria nº 24;
Emídio José Lopes da Silva, major do mesmo;
António Manuel de Medeiros Feio, comandante da companhia de veteranos;
António José de Morais, bacharel ex-almotacel;
António Ferreira de Castro Figueiredo, ex-vereador, que conduzia a bandeira da cidade;
António dos Inocentes, alcaide da câmara;
António José de Sá, bacharel, juiz-almotacel;
António José de Lima, idem.
Tudo «de luto pezado, de capas compridas, chapeus desabados e fumos cahidos sobre o hombro direito».
João Nogueira da Silva, desembargador e corregedor da comarca;
José Bento Pestana da Silva, juiz de fora, presidente.
João de Sá Carneiro Vargas, vereador da câmara;
Manuel António de Barros Pereira do Lago, idem;
António José de Novais da Costa e Sá, idem;
Cada um destes vereadores levava um escudo real no braço esquerdo.
Manuel António de Azeredo Pinto de Morais Sarmento, procurador da câmara;
João Manuel Lopes, escrivão da mesma.

Logo que o cortejo saiu dos paços do concelho, se dirigiu ao largo da Cidadela, onde estava construído, a propósito, um tablado, e subindo respectivamente a ele os três vereadores mencionados, quebraram os escudos e os deixaram cair sobre ele, tendo previamente recitado a «Oração» do costume. Também, quando o cortejo recolheu aos paços do concelho, o juiz de fora, presidente, foi o primeiro a subir a escada e no alto dela quebrou a sua vara e a deixou igualmente cair por terra, fechando-se imediatamente todas as portas e janelas dos mesmos, em sinal de luto.
Tiveram depois lugar as exéquias religiosas, a que assistiu todo o acompanhamento na igreja de Santa Maria, onde se elevava uma majestosa essa, na qual se liam, em diversos lugares dela, as seguintes inscrições:

1.ª «O lucto pelo Heroe, Bragança toma,
Que os herões excedeu da Grecia e Roma».
2.ª «Nas sombras luctuaes, entregue á Morte
Jaz o sexto João, oh! fado!, oh! sorte!»
3.ª «Das vidas a melhor a parca feriu,
E este golpe fatal tudo sentiu».
4.ª «Na morada feliz, habita, e mora,
O monarcha sem par, que Lysia chora».

À função religiosa assistiram, além de outros:

José da Graça Torres, dirigente das mesmas, familiar do bispo;
Luís António da Costa, capelão da Sé catedral, regente da música da mesma;
Paulo Miguel Rodrigues de Morais, deão da catedral, que celebrou missa fúnebre;
Manuel da Silva, cónego prebendado, que serviu de diácono à mesma;
Manuel António do Carmo, meio prebendado, que serviu de subdiácono.
As absolvições foram feitas, respectivamente, por: Paulo Miguel Rodrigues de Morais, deão;  Matias José da Costa Pinto de Albuquerque, mestre-escola; José Maria de Meireles, tesoureiro-mor da Sé; Manuel Alves Leal, arcediago de Bragança; e, em último lugar, pelo bispo Santa Ana Noronha, que também pronunciou a oração fúnebre Fecit quod placitum erat coram Domino, et ambulavit per omnes vias David, patris sui – que deve ter sido magistral, pois, como escreve o autor, «declarou-se o nome do orador, e do primeiro orador do nosso seculo, tanto basta, por consequencia, para se fazer o completo elogio ao discurso, cuja elegancia e exactidão d’estylo não seria facil descrever».

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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