terça-feira, 8 de agosto de 2017

PODENCE E OS PAPAGAIOS DA BORDA D´ÁGUA

Quando Podence, uma aldeia do nordeste transmontano, teve quase um dia inteiro de antena na televisão pública, a propósito de um concurso que não foi realizado por lume de palhas, mas que, vá lá, serviu para divulgar algumas qualidades da nossa região, vale a pena trazer à reflexão dos leitores um fenómeno que cobre de ridículo alguns papagaios que se acumulam nos espaços de paleio, pegajoso e balofo, nos órgãos de comunicação deste país.

Nos últimos tempos, desde que Daniel Podence apareceu com peso na equipa do Sporting, muitos nordestinos se terão questionado sobre as razões de, os noticiários desportivos e nos painéis de autoproclamados donos da bola, o rapaz aparecer sempre designado por Pódence, como se se tratasse de um estrangeiro, de um país longínquo, onde as regras da acentuação fossem distantes das desta quinta língua mais falada do mundo.

A coisa pegou e chegou mesmo aos pivôs dos noticiários, uma expressão notável de como a bazófia dos ignorantes pode envenenar a comunicação e induzir equívocos, que se tornam autênticas celebrações da burrice enfatuada, que se péla por dar ares de internacionalismo, enquanto a indiferença da gente séria lhe abre os caminhos até às tribunas, onde dão largas à empáfia que a estupidez permite, arvorados em fidalgos no reininho dos analfabrutos.

O rapaz é oriundo de Macedo do Mato, uma aldeia do concelho de Bragança. A família terá começado por ser Podence por comodidade de identificação em gerações anteriores. Há mais gente com apelido Podence na freguesia e noutras próximas, como Bragada, também no concelho de Bragança. Naturalmente, são parentes uns dos outros.

No último fim-de-semana o Daniel Podence e não Pódence foi homenageado na freguesia, com a presença dos pais e de avôs, que ali residem. Provavelmente o jovem não se sentirá especialmente gratificado por lhe adulterarem o nome, só porque acham in dar-se ares de camones, quando simplesmente não sabem sequer do que falam.

Infelizmente a comunicação social tem vindo a ser invadida por estanqueiros de esquina, de língua afiada e sabedoria de esgoto, quais ratazanas roliças, que chafurdam na degradação e já tiveram lugar na história por mor das pulgas que saltitam entre tais bicharocos e os animais de humana condição.

O que aborrece nem é o pedantismo de tais criaturas ignaras, mas a patetice alegre de quem embarca em tais modas.

É estranho não ter havido nenhum director de informação que tenha, pedagogicamente, chamado à razão os que insistem no erro crasso. Além disso, a turba de adeptos e adversários de bancada, de palanque ou de mesa de café já parece ter adoptado a distorção do apelido (Podence e não Pódence), apesar de se saber que os caretos de Podence estão em vias de ver consagrada a sua aspiração a Património Imaterial da Humanidade.

Basta desta tolerância com a boçalidade elevada à condição doutoral. Mais cedo ou mais tarde poderemos ter arruinado séculos de labor na construção da dignidade e da sabedoria, condições básicas para continuar o caminho da humanidade.


Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com

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