terça-feira, 15 de agosto de 2017

Tomé Rodrigues Sobral

No Museu da Ciência podemos ver
uma pia que terá sido usada para
produzir pólvora para combater as invasões francesas
 por inciativa do lente de química
 do início do séc XIX Tomé Rodrigues Sobral.
Por causa disso os franceses acabaram
 por lhe queimar a casa, o que levou a que
 perdesse todos os seus papéis incluindo
 o manuscrito de um livro de ensino
da química que estaria quase pronto.
Presbítero, cavaleiro professo da ordem de Cristo, lente da faculdade de filosofia na Universidade de Coimbra, reitor da mesma por portaria de 24 de Maio de 1828 (845), sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa e deputado em 1821, cognominado com razão o Chaptal português, por ser no nosso país o maior químico do seu tempo e como tal julgado por Linck e Balbi. Nasceu em Felgueiras, concelho de Moncorvo (ignora-se o dia e ano; sabe-se, porém, que se matriculou no primeiro ano da faculdade de matemática na Universidade de Coimbra a 29 de Outubro de 1779) e faleceu na sua quinta da Cheira, próximo de Coimbra, a 20 de Setembro de 1829, sendo sepultado na igreja do convento de Santo António da Estrela daquela cidade.

Escreveu:
Tratado das afinidades químicas: artigo que no Dicionário de química, fazendo parte da Enciclopédia por ordem de matérias, deu Mr. de Morveau; e que para comodidade de seus discípulos traduziu Tomé Rodrigues Sobral, etc. Coimbra, 1793. 8.º de V-512 págs. Foi publicado «por satisfazer aos desejos da congregação da sua Faculdade, que annuindo á proposta do director, julgou interessar muito ao ensino d’aquela parte da mocidade que se dedica ao estudo da chimica, dar-lhe uma versão fiel do referido Tractado».
Oratio academica in qua Augustissimi Antonii Beriensis Principis natalitia, coram frequenti Acad. Colimbr. solemni pro. congratulatione celebrantur. Olisipone, 1797. 4.º de VI-22 págs.
Publicou também no Jornal de Coimbra as seguintes memórias e artigos:
Carta ao dr. José Feliciano de Castilho, em resposta a outra, em que tratava de uma nova aplicação do gás muriático oxigenado. Saiu no nº 33, parte I.
Reflexões gerais sobre dificuldades de uma boa análise, principalmente vegetal. No nº 36, parte I, págs. 251 a 266.
Notícia de diferentes minas metálicas e salinas, ou recentemente descobertas, ou há pouco tempo comunicadas. No nº 46, parte I, págs. 221 a 240.
Diário que oferecem ao público das operações por eles executadas com as vistas de atalhar o contágio que nesta cidade de Coimbra se declarou em Agosto de 1809. No nº 32, de págs. 103 a 138. De colaboração com o doutor Jerónimo Joaquim de Figueiredo.
Observações sobre um escrito intitulado: «Método prático de purificar as cartas e papéis procedentes de países contagiados ou suspeitos». No nº 55, parte I, de págs. 101 a 130.
Memória sobre o princípio febrífugo das quinas. No nº 82, parte I, págs. 126 a 153 (847).

«O nome d’este chimico deve merecer a todos os portuguezes viva sympathia e reconhecimento eterno. Depois da reforma do marquez de Pombal foi este o primeiro talento que se manifestou n’esta sciencia. Os serviços prestados por este insigne professor ao ensino da chimica e ao seu paiz foram de tal ordem que lhe valeram a honrosa denominação de “Chaptal portuguez”», diz Simões de Carvalho. «Os sabios professores Linck e Balbi foram os primeiros que lhe fizeram justiça, comparando-o ao grande chimico da França. No tempo da direcção d’este professor, os trabalhos praticos do laboratorio não cessavam, não só em delicadas investigações de chimica, mas ainda nas mais importantes applicações industriaes. Faziam-se varias e repetidas experiencias concernentes á respiração das plantas e a outros phenomenos de phisiologia vegetal, ensaiavam-se processos para a conservação das substancias animaes e vegetais, preparavam-se sem descanço os principaes productos chimicos. Foi uma epocha florescente e monumental do ensino da chimica em Portugal.
O seu patriotismo mostrou-o quando os francezes invadiram Portugal, tornando a sciencia patriotica, como elle dizia. N’este tempo o laboratorio chimico da Universidade transformou-se em verdadeira fabrica de munições de guerra, fabricando-se debaixo da sua direcção polvora e mais munições de que havia falta. O doutor Sobral não só dirigia mas preparava por suas proprias mãos muitas munições de guerra, espoletas, tanto de peça como de granada, estopins, velas de mixto, murrões, etc., artigos todos de primeira necessidade e que faltavam em Coimbra emquanto não chegaram os abundantes recursos que a Inglaterra se apressou a mandar.
Os proprios officiaes inglezes dirigiram os maiores elogios ao director d’aquelles trabalhos chimicos. Quando Massena entrou em Coimbra, mandou incendiar a casa e quinta da Cheira, pertencente ao doutor Sobral, perdendo-se por esta forma toda a sua livraria e todos os seus manuscriptos.
Em 1809, prestou outro serviço, mas humanitario. Na occasião da grande epidemia que grassou no reino, o doutor Sobral preparou os desinfectantes a fim de atalhar o contagio. Empregou o chloro e o acido muriatico, então oxigenado, o qual produziu beneficos resultados. No mesmo laboratorio fabricaram-se os desinfectantes que por esse tempo se distribuiram gratuitamente pelas casas particulares, pelos hospitaes, pelas cadeias e até pelas ruas, tudo devido aos cuidados do insigne professor.
Encarregou-se d’estes trabalhos e da analyse comparada da quina do Brazil e do Peru nas mais apuradas circumstancias, porque a vingança dos francezes o tinha privado de todos os commodos da vida e dos objectos de primeira necessidade. Nem um livro para consultas! Só uma alma nobilissima e um genio sublime poderia resistir a tantas infelicidades e entregar-se com tanto zelo a trabalhos delicados e difficeis de analyse vegetal. Eis um homem digno de que se lhe levante uma estatua honrosa.
Das chammas só lhe escapou a traducção do “Tratado das affenidades chimicas da Encyclopedia”, o qual accommodou ao uso dos seus discipulos.
No Jornal de Coimbra existem d’elle trabalhos sobre o uso do gaz muriatico oxigenado; sobre as difficuldades de uma boa analyse, principalmente vegetal; sobre noticias de differentes minas metalicas e salinas recentemente descobertas; uma “Memória sobre o principio febrifugo da quina”; e o “Diario” das operações que se fizeram em Coimbra, a fim de se atalharem os progressos do contagio que n’esta cidade se declarou em Agosto de 1809».
O doutor Rodrigues de Gusmão publicou a respeito deste ilustre bragançano uns «Apontamentos biográficos» na Revista Literária do Porto, tomo XI, págs. 141-142.Ver também Memórias históricas do doutor Simões de Carvalho, págs. 279 e 283, e o Dicionário Popular de Pinheiro Chagas. A lenda popular em Felgueiras ainda hoje diz que o grande sábio fazia chover e trovejar quando queria.
É hoje representante de sua família nesta povoação o padre Francisco José Martins, actual pároco de Vinhas.

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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