quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Rio de Onor já só tem uma jovem

Em Rio de Onor já só sobra uma jovem, Silvia Prieto, de 21 anos
Viagem do DN ao interior de Portugal passou por uma das Aldeias Maravilha de Portugal, a do distrito de Bragança. A única jovem da terra deu a todos razões de orgulho este verão.

Desligados os holofotes que puseram Rio de Onor, concelho de Bragança, nas notícias, por ser uma das sete Aldeias Maravilha de Portugal, o sossego regressou ao povoado, com pouco mais de 30 habitantes, vizinho da aldeia espanhola com o mesmo nome - e onde supostamente os modos de vida seriam comunitários, no forno do pão, no tratamento dos animais, na limpeza dos açudes.

O comunitarismo, porém, já era. Cada um já tem o seu forno, a agricultura é de subsistência, já não há gado e está fechada a "Casa do Touro", onde se guardava o boi cobridor (no domingo reabrirá servindo de mesa de voto). Como diz um morador ao DN: "Isso do comunitarismo é uma treta. Se nos juntamos é para beber uns copos." A economia vive agora muito do turismo, graças a um parque de campismo inaugurado em 2003 pelo então secretário de Estado da Administração Local Miguel Relvas.

Foi-se instalando também uma pequena indústria de reabilitação de casas antigas - veem-se obras em várias. Uma natural da terra, Maria José, de 53 anos, emigrou em 1985 para a Suíça. E lá casou com um operário suíço, Jurg Baldesberger. Regressaram há uns anos e Baldesberger tem um negócio de recuperação de casas na aldeia, mantendo as traças originais, de madeira nos interiores e paredes de xisto. Recuperam-se casas para vender a estrangeiros. Uma é de suíços, outra de alemães, mais uma de holandeses.

Em Rio de Onor já só sobra uma jovem - tudo o resto são adultos ou idosos reformados. Sílvia Prieto, de 21 anos, licenciada em Veterinária, em Espanha, tomava ontem conta do café dos seus pais, o Trilho, e não tinha refeições para servir porque os proprietários foram para a vindima. Conversava ao balcão com o espanhol Juan Fernandes, um aposentado de 70 anos, em tempos proprietário de empresas de decoração de interior.

A veterinária, por ora, não lhe dá emprego. Fala um português completamente espanholado e neste verão orgulhou a sua terra sendo eleita Miss Bragança e depois Miss Norte. Até podia ter prosseguido o caminho candidatando-se a Miss Portugal. "Mas não tinha ajudas", recuou, serve agora no estabelecimento dos pais, procurando oportunidades na veterinária. Há dias tornou-se a última jovem da aldeia; o outro, um rapaz de 18 anos, foi embora, estudar para fora.

O problema, explica Fernandes, é que as ditaduras dos dois países, a de Salazar e a de Franco, "foram muito diferentes". Enquanto a de Franco industrializou, a de Salazar não. "Em Portugal as pessoas emigraram para o estrangeiro mas em Espanha não, só migraram para as grandes cidades." A "diáspora" espanhola está mais perto das suas terras de origem e isso permite que o lado espanhol sobreviva melhor. Mas na verdade nada separa as duas aldeias exceto uma placa. "Mentalmente somos um só povo."

Notas de Viagem

Dia 9
2267 quilómetros

Esta é a distância percorrida desde que esta viagem se iniciou, na segunda-feira da semana passada, dia 18. Fizeram-se ontem 202 quilómetros, de Bragança a Rio de Onor, com passagem no regresso por Gimonde e seguindo depois para Vila Real, pela tranquila A4.

E quem te paga a ovelha?"

Rio de Onor fica abrangida pelo Parque Natural do Montesinho e voltámos a ouvir as queixas habituais. Faz-se, por exemplo, a preservação dos lobos. "Os lobos matam-te a ovelha? E depois quem te paga a ovelha?", pergunta, indignado, o espanhol Juan Fernandes (ler texto principal). O problema maior, acrescenta, são os javalis: "São o veneno deste povo!", porque entram pelas hortas e comem as batatas. Já os gamos parecem preferir alfaces.

Mapa político de Bragança

Rio de Onor fica no concelho de Bragança. A câmara é PSD, que recandidata Hernâni Dias. O PS, segunda maior força, avança com Carlos Guerra. Em 2013, os sociais-democratas venceram com 47%, obtendo quatro dos sete mandatos executivos. O PS ficou com dois e uma lista independente com um. Em cerca de 36 mil inscritos, votaram vinte mil (54% de participação).

João Pedro Henriques
Diário de Notícias

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