quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Tecelagem de panos – Fábrica do Felgar nas Memórias Arqueológico-Históricas

Em 1863 fundou em Moncorvo o espanhol Manoel Milhano uma tecelagem de cobertores de papa (lã), que manteve durante seis anos e depois transferiu para o Ribeiro dos Moinhos, termo do Felgar, no mesmo concelho, onde ainda hoje se conserva, para aproveitar como força motriz, em roda hidraúlica, a grande queda de água desse ribeiro.
Esta fábrica do Ribeiro dos Moinhos, ou, melhor, chamada Felgar, é hoje dirigida por Manoel Milhano Sanches, filho do fundador, que ainda vive no Porto, onde tem e dirige uma outra de lanifícios.
A do Felgar dispõe do seguinte maquinismo: seis teares, seis cardas, uma esfarrapadeira e duas máquinas de fiação em selfactinas.
Carda lã para as principais terras do Sul do distrito de Bragança, e a sua especialidade é a tecelagem de cobertores de papa, que são vendidos em grande escala pelos concelhos vizinhos, chegando mesmo ao Porto.
Possui dois pisões: um para cobertores e outro para burel, e emprega anualmente, em média, dez operários por dia desde as sete horas da manhã às sete da tarde.
Cada cobertor é vendido por 1$500 réis, sendo inferior, e por 3$000 réis, sendo dos melhores. Por tecer um cobertor de dois arratéis levam 1$000 réis; por arrátel de cardagem 30 réis, e 20 a 25 réis por cada vara (1,10m) de pisoagem.
É esta a única fábrica mecânica de tecido de panos no distrito de Bragança, mantendo-se, porém, em todas as suas aldeias as antigas indústrias caseiras limitadas neste particular ao clássico tear à mão do pardo ou burel e do linho, de fraca produção consumida no território.
Os teares do pardo ou burel tecem pano em média de 1,50m de largura, que, além de aplicado para vestir, serve também para mantas; empregam duas pessoas, no geral mulheres, que fabricam nove a doze varas entre dia e vela de noite.
Há ainda outros teares mais estreitos, chamados de branqueta ou meia cana, manobrados só por uma mulher, que tecem pardo ou burel, linho e estopa, a qual fabrica entre dia e vela seis a oito varas.
Os teares do linho propriamente são ainda mais estreitos, regulando em média o seu tecido por 0,60m; empregam só uma mulher que fabrica de oito a dez varas por dia, contando a vigília.
O tecido de uma vara (1,10m) de pardo largo custa 50 réis e a dita vende-se desde 1$000 a 1$200 réis.
Dita de linho ou estopa os mesmos 50 réis, vendendo-se aquela desde 240 a 300 réis e esta desde 160 a 240 réis.
Nos teares largos do pardo também se fabricam cobertores muito bons e colchas, tendo fama as de Urros, no concelho de Moncorvo, e as de Moimenta, no de Vinhais.
O tecido de um destes cobertores regula por 500 a 700 réis, e de 1$000 a 2$500 réis uma colcha.
É de estarrecer a lembrança da soma enorme de energias desaproveitadas que os nossos rios e ribeiros representam sem que a indústria saiba ou queira tirar dela proveito! Não temos hulha – o pão da indústria – e não aproveitamos a hulha líquida!!!
Nem para irrigações de monta os aproveitamos, sendo que um canal bem dirigido a beber no Douro, pela altura de Miranda podia fertilizar quatro concelhos do Sul do nosso distrito e muito terreno no de Vila Real.

Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança

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