segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Reportagem | Um dia em busca dos corços do cercado da Serra de Bornes

Enquanto um batiam monte, outros aguardavam junto às redes previamente preparadas para conseguir capturar os animais.
Ouça a reportagem clicando na imagem
O propósito foi monitorizar os cerca de 24 corços que habitam nos 35 hectares de cercado da Associação de Caçadores de Grijó e Vilar do Monte, localizado na encosta da Serra de Bornes.

Na parte da manhã só conseguimos ver um corço. Um macho, aparentemente saudável, com cerca de três anos de idade, que já tinha sido registado em uma monitorização anterior.

À tarde foram capturados mais 5 animais, 2 fêmeas adultas e três corços juvenis com apenas 7 meses.

Vítor Pinheiro é docente do Departamento de Zootecnia da UTAD, Universidade com quem a associação tem um protocolo assinado, e foi um dos que ajudou na monitorização.

“É uma forma de censo para conseguirmos ver quantos animais temos dentro do cercado e, visto ser um local fechado, existe um limite a partir do qual temos de libertar corços. Uma vez que os apanhamos para os marcar e identificar, aproveitamos para fazer também as medidas a que chamamos biométricas, são elas a medição do comprimento e das hastes, para assim compararmos e vermos a evolução dos animais que estão a ser seguidos ao longo do ano, assim como ver se há alguma diferença evolutiva.”
Já as batidas foram feitas maioritariamente por alunos da UTAD mas também do IPB, onde os jovens, também eles ligados à área da zootecnica, se mostraram entusiasmados em poder participar em uma atividade que consideram importante.

“É a primeira vez que participo. Estou a gostar. A minha tarefa foi ficar nas redes à espera que os corços chegasse ali perto e ficassem presos para depois tentar apanhá-los.
Eu também estive na rede, assim como os restantes colegas. É a primeira vez que estou a participar. Acho que estas monitorizações são importantes, só acho que deveriam ser mais divulgadas para ter mais adesão. Isto é interessante. Deveriam haver mais iniciativas como esta e mais parques como este.
Para já (na parte da manhã) só apanhamos um corço e já o soltamos. Ainda vi três mas à tarde espero ver mais animais.
É importantíssimo para a preservação das espécies. Quando o corço está próximo sentimos um nervosismo.
Eu fiquei na rede à espera que algum corço aparecesse, ainda passou um por trás de mim mas voltou para trás.”
Aquando da captura, foram também recolhidas amostras com o objetivo de fazer uma caracterização genética e identificar a diversidade de espécie ali existente.

Um estudo conduzido pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO) que, posteriormente, numa fase conclusiva, vai ajudar a implementar medidas para garantir a saúde e estabilidade dos animais, como refere o investigador João Queiroz.

“Estou aqui para perceber, por um lado, que tipo de linha evolutiva temos aqui na zona de Macedo, e por outro perceber, uma vez que estamos numa zona de cercado onde os corços têm um acesso limitado a outros animais, perceber qual é o nível de diversidade e se são ou não consanguíneos. 
Quanto às conclusões que podemos levar daqui, a nível genético podemos dizer, daqui a uns meses depois de fazer o trabalho de laboratório, quais as linhas evolutivas que existem, se a diversidade é muita ou pouca, e, no caso desta não ser abundante, temos de implementar algumas soluções de forma a que tenham troféus de boa qualidade e que se mantenham saudáveis e estáveis.”
Um cercado que só conseguiu alvará para trabalhar em 2007 e, desde então, o número de animais tem crescido e a sobrevivência ronda os 100 %, como refere Raúl Fernandes, Presidente da Associação de Caçadores de Grijó e Vilar do Monte.

“Se compararmos com o ano de 2010 onde tínhamos apenas 10 animais e agora são, no mínimo, 24, concluímos que tem havido um potencial reprodutor, quase 100% dos partos aqui são múltiplos. Este ano temos monitorizadas seis crias e três fêmeas, a sobrevivência é total e isto dá-nos ânimo e incentivo para continuar. 
É importante que as pessoas venham aqui e sintam a emoção do cercado, estamos cada vez mais apostados nisso. Temos de mostrar à comunidade não caçadora o que aqui fazemos em prol da caça e da conservação.”
A caça ao corço que foi reativada naquela zona em 2015 e desde essa altura tem sido praticada de forma sustentável.

“Estamos a caçar corços desde 2015 mas, antes disso, fizemos o trabalho de casa que passou por censos da população existente fora do cercado, sendo assim quantificados.
Em 2016 caçamos apenas dois corços e eram os que estavam previstos. Este ano, a previsão era para três, em agosto já os tínhamos caçado e, até 1 de junho, não se vai mais caçar o corço. Gostamos de caçar mas de uma forma consciente, tendo sempre em consideração que, se não houver uma boa gestão, não haverá continuidade e o nosso passatempo poderá estar comprometido. Primamos e fazemos todos os esforços para ter sustentabilidade nas populações cinegéticas. 
Foi no corço que apostamos, somos pioneiros nesta parte de fomento, estudo e aproveitamento cinegético desta espécie, somos um exemplo a nível nacional. Estas ações são levadas a cabo pelos caçadores.”
Estava previsto soltar para fora do cercado 4 animais, o que acabou por não acontecer pois os corços capturados ainda não reuniam condições para isso.

No total foram monitorizados seis animais, que foram ainda apadrinhados por cinco crianças do 1º ciclo. Esta foi a nona vez que se fez este tipo de controle aos corços deste cercado que em 2015 foi merecedor do prémio “Conservação da Natureza” atribuído Safari Clube Internacional.

A Associação de Caçadores de Grijó e Vilar do Monte tem mais projetos previstos para breve, entre eles a implementação da monitorização dos animais fora do cercado, o que esperam que se concretize já a partir do próximo ano, assim como a criação de um Centro Interpretativo do Corço em Trás-os-Montes.

Escrito por ONDA LIVRE

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