domingo, 29 de outubro de 2017

Veados estragam culturas nas aldeias da Lombada

Seca aproximou os animais das povoações, em busca de água e alimento.
Foto: Hugo Santos
O período de seca extrema que se vive no Nordeste Transmontano está a criar dificuldades acrescidas aos agricultores da zona da Lombada, em Bragança. Tudo porque há animais selvagens mais próximos das povoações, que destroem várias culturas. Os prejuízos, dizem os produtores, “são incalculáveis”.

“Os veados devoram-nos tudo. Alguém nos ajude, porque assim não conseguimos. Este ano notamos que há o triplo de animais perto da aldeia em comparação com os outros anos”, queixa-se Manuel Inácio, um habitante da aldeia de Deilão, perto da fronteira com Espanha.
Com a falta de água, os animais vão-se aproximando das povoações onde encontram tanques. A somar a isso, pelo menos no caso de Deilão, está o facto de, nas aldeias vizinhas, como Rio de Onor, o despovoamento ter deixado os campos por cultivar. “Aproximam-se da aldeia, onde há sementeiras feitas, onde têm comida. As aldeias vizinhas já não semeiam. Eles têm de comer e aproximam-se”, diz Manuel Inácio, que tem 24 cabeças de gado.
Os veados destroem sobretudo plantações de milho, que nesta altura é praticamente o único alimento para o gado, até porque os pastos estão secos. Mas também destroem plantações de castanheiros e até algumas hortas. “Depois de segarmos os lameiros e os centeios, que estavam mais longe, aproximaram-se do povo. Eles vêm à água aos tanques e fontanários. As vinhas estão todas devoradas. Arrancam as batatas com as patas, destroem tudo”, conta Ernesto Marrão, que também já perdeu milheirais.

Orlando Dias ficou sem dezenas de castanheiros novos, já enxertados e prontos a produzir. “Vieram os veados e partiram-nos. Já não há hipótese de os recuperar. Este ano já foram uns 30 ou 40. Andamos a investir nisto, que ainda dá alguma coisa, vem a bicharada e acaba com eles”, lamenta.
Os agricultores têm feito participações ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que paga os prejuízos ao valor de mercado. Mas os produtores consideram que é insuficiente pois, no caso dos castanheiros, por exemplo, não é contabilizado o valor gasto na plantação e enxertia. “O valor que dão não é suficiente para pagar a árvore, máquina, enxertador”, frisa.
José Morais queixa-se do mesmo. “Às vezes dão-nos dois e três euros por cada árvore. É fazer pouco da gente”, acusa. 

Fonte do ICNF admite que este ano o número de ocorrências tem estado a aumentar “devido à situação de seca”. Por escrito, o Gabinete de Comunicação do ICNF explica que, no caso dos castanheiros, são pagos valores entre os 12 e os 18 euros por árvores, consoante a idade e a perda de produção.

Mas o ICNF explica ainda que “a maior parte do território cinegético do distrito de Bragança é gerido por entidades titulares de zonas de caça (associativas, turísticas e municipais), as quais poderão ser responsabilizadas pelos prejuízos em causa caso não tenham tomado as necessárias medidas, incluindo o pedido de correcção de densidade das espécies cinegéticas”.
No entanto, só no “final do ano” serão apurados todos os prejuízos eventualmente causados “dado ainda não estar finalizada a época de colheitas de diversas culturas”.

O ICNF garante, ainda, que “têm vindo a ser realizadas diversas acções no âmbito das medidas de gestão e de exploração cinegética previstas no Plano de Gestão e Exploração Cinegética da ZCN da Lombada, sendo de destacar a realização de acções de maneio de habitat, através de desmatações dirigidas para a melhoria do habitat de cervídeos, da defesa do território contra a ocorrência de fogos florestais, bem como de conservação de pastagens, através do seu rejuvenescimento e bloqueio do avanço de espécies lenhosas pela acção do corte da vegetação envelhecida, acções que contribuem para minorar o fenómeno em causa”.

António Rodrigues
Jornal Público

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