quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Mais produtores e mais investimento na Feira do Fumeiro de Vinhais

O certame, que decorre entre os dias 8 e 11 de Fevereiro naquele concelho transmontano, apresentou-se no The Yeatman, em Gaia, vista escancarada para o Porto e para o Douro.
Foto: Luís Octávio Costa
Diz quem sabe que Ricardo Costa, segunda estrela Michelin conquistada em 2017, é um chef que "procura os enchidos". Por isso, desta vez, a Feira do Fumeiro de Vinhais, que decorre entre os dias 8 e 11 de Fevereiro, apresentou-se no The Yeatman, vista escancarada para o Douro e o Porto — e mesa farta. O certame é o mais antigo (com 38 anos de vida) e o maior, aumentando o número de produtores de fumeiro certificado de Vinhais.

A falta de espaço físico e impossibilidade de alargamento são mesmo apontadas como razões para a exclusão de mais de 100 expositores, sendo perto de meio milhar os produtores, obrigados a trabalharem apenas com porco bísaro e a cumprirem todas as regras de confecção (matéria-prima, ingredientes, modo de preparação, cura e secagem) de cada um dos produtos. O controlo é feito desde o nascimento do porco até à colocação do produto no mercado, todo o fumeiro que entra nesta feira passa por um rigoroso controlo de qualidade.

"Foi a aposta na qualidade e segurança alimentar que há mais de duas décadas permitiu à Feira do Fumeiro de Vinhais traçar um caminho forte de diferenciação e afirmação no contexto nacional. É a feira das feiras, não há outro evento gastronómico com maior índice de confiança no país. O trabalho começou com a certificação da matéria-prima, o porco bísaro, uma medida que, para além de salvar a raça da anunciada e previsível extinção, deu origem a um processo contínuo de aperfeiçoamento e melhoria desta raça e dos seus derivados", apresenta o certame.

Vinhais é actualmente o concelho do Norte de Portugal com maior número de produtos certificados associados ao porco e ao fumeiro e o segundo no país (a par de Portalegre). A saber: salpicão, chouriça de carne, alheira, butelo, chouriço azedo, chouriça doce, presunto e carne de bísaro transmontano. E é esta "garantia de qualidade" que impulsiona um volume de negócios que se estima acima dos seis milhões de euros (na venda directa do fumeiro de Vinhais e na economia associada ao sector). Só nesta Feira do Fumeiro as vendas ultrapassam as cinco toneladas de fumeiro.

A organização do evento, que coincide com o fim-de-semana de Carnaval, espera também um aumento do número de visitantes, que poderá chegar aos 80 mil.

Refira-se ainda que a Associação Nacional de Criadores de Suínos de Raça Bísara tem em mãos de um projecto de empreendedorismo, no valor de meio milhão de euros, que visa apoiar novos produtores, dentro da área do porco e do fumeiro e promovendo a investigação científica, apostando na melhoria da imagem, rotulagem e promoção, com o intuito de fomentar a comercialização.

Foto: Luís Octávio Costa
"A investigação científica, a cargo de investigadores do Instituto Politécnico de Bragança e da Universidade de Trás-os- Montes e Alto Douro, vai incidir na actualização dos cadernos de especificações dos produtos já certificados, respondendo às novas exigências legais e à própria adaptação ao mercado, mas também na criação de tabelas que permitam aos produtores saber o valor nutricional de cada produto, uma informação que a União Europeia tornou obrigatória no sector alimentar, e que seria difícil para cada produtor aferir individualmente. Este projecto prevê ainda desenvolver acções de formação aos produtores, auxiliando-os na sua relação com mercado, nomeadamente no processo de rotulagem, acondicionamento, embalagens, etc." Este projecto está em curso e deve ser concluído no prazo de dois anos.

E por falar em porco bísaro, recorde-se que esta raça, que já esteve praticamente extinta, tem actualmente um efectivo reprodutor de 5800 fêmeas e 600 machos, espalhados por 200 explorações, situadas principalmente nas regiões de Trás-os-Montes, Minho e Beiras.

Luís Octávio Costa
Jornal Público

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