sábado, 26 de maio de 2018

... MATER DOLOROSA

Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Sempre em nossa casa houve um espargo, uma begónia e um rádio. Hoje, como ontem, aqui estão. Memórias. Afetos. E o sentir de todos aqueles que se cansaram dos dias longos, das caminhadas, dos maus bocados. Ontem, como hoje, cuido das plantas, como se todos estivessem aqui… ao entardecer… esperando a noite e o toque das Trindades:
- “O anjo do Senhor anunciou a Maria; – E ela concebeu do Espírito Santo; Ave- Maria; – Eis aqui a serva do Senhor; – Faça-se em mim segundo a vossa palavra”.
Depois ligo o rádio na esperança de ainda ouvir a radionovela, a voz de Argel e Manuel Alegre poeta e resistente…
… a mãe só quer ouvir as cerimónias do 13 de Maio… e Fátima tão perto… às vezes também ouvia a Amália: “Povo que lavas no rio; Que talhas com o teu machado; As tábuas do meu caixão”.
… ainda João Villaret declamava, sentido, dolente : “E quanto à mãe que embala ao colo um filho morto; Todos nós embalamos ao colo um filho morto. Chove, chove.”
… vou-me lá regar as plantas… como quem cumpre um dever… que herdei!
… as memórias são o meu fadário… via dolorosa…
… anoitece!


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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