terça-feira, 12 de junho de 2018

POR TERRAS TRANSMONTANAS – PARTE 2

Périplo pela Terra Quente

Depois da visita ao Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, iniciámos o périplo pelas localidades que integram a Terra Quente Transmontana, conforme o previsto. A continuar no rasto de Graça Morais, era prioritário começarmos pelas terras que remetem para as suas origens – Vila Flor, Vieiro e Freixiel, com as quais mantém fortes ligações. Sobre Vieiro, sua terra natal, em conversa com o autor do livro que comprei em Carrazeda de Ansiães, confessa:

«Tenho ligações com esta terra como o tem esta oliveira.»

Gostámos muito de Vila Flor. Terra de vinhas e oliveiras, continua a fazer jus ao nome que lhe foi dado por D. Dinis quando andou por estas paragens. É uma vila airosa, bem preservada e orgulhosa dos seus solares. Mesmo no centro, perto da Igreja Matriz, destaca-se o Solar dos Aguilares, onde funciona o Museu Dr.ª Berta Cabral que visitámos.

Mal se entra, impressiona a parafernália de peças que alberga, todas ou quase todas oferecidas pelas gentes da terra. Tem de tudo um pouco: arqueologia, arte sacra, numismática, colecções variadas, pintura. Numa parede coberta de quadros, reparámos que faltava um. Fizemos perguntas. Tinha sido temporariamente retirado para integrar uma exposição a decorrer em Bragança, no Centro de Arte Contemporânea. Era um retrato da avó paterna de Graça Morais, pintado e oferecido pela artista ao Museu.


Lembrava-me perfeitamente de o ter visto nessa exposição. De corpo inteiro, demarcava-se, pelo seu realismo, dos demais quadros com rostos de pessoas que ela conhecia de Vieiro, Freixiel ou Vila flor, com quem gosta de conversar e por quem nutre uma admiração enorme. No livro atrás citado, informa:

«Faço uma peregrinação pelos lugares sagrados, visito lugares antigos, povoações isoladas, serras, vejo gente (…). Esta gente, que tenho o privilégio de conhecer, está situada no tempo, conhece a sua história, tem tempo para sentir o tempo e enfrenta com coragem as geadas que tudo queimam, as trovoadas nos Verões abrasadores que destroem, em minutos, o duro trabalho de meses. Quando os observo, vejo-lhes harmonia entre o corpo e a mente. Sinto as mulheres como árvores fortes, cheias de raízes, dotadas de uma grande energia, a quem a maternidade dá um grande poder.»


Quando terminámos a visita ao Museu, olhámos para o relógio. Começava a ficar tarde. Por razões sentimentais, queríamos visitar ainda Alfândega da Fé, terra ligada aos nossos vizinhos mais próximos, em Braga. Estacionámos o carro na parte baixa da vila, moderna e desafogada.


Entrámos na Casa da Cultura Mestre José Rodrigues, onde pudemos apreciar uma exposição de crucifixos modernos, muito originais, com uma particularidade interessante – em todos foi usada madeira de sicômoro, árvore muito comum em Judá. Tivemos ainda tempo para subir, por sinuosas e estreitas ruas, até à Torre do Relógio e ao Miradouro para desfrutarmos da magnífica vista sobre a vila e redondezas.


Ao entardecer, numa romagem de saudade, demos um salto a Vilar Chão, terra que foi berço do nosso vizinho e, por sua própria escolha, também leito para dormir o sono eterno.

Caiu a noite. Mergulhados no passado, recolhemos ao carro tristes, mas ao mesmo tempo, com uma reconfortante sensação de dever cumprido.





Texto e fotos: Jacinta Ribeiro

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