domingo, 10 de junho de 2018

POR TERRAS TRANSMONTANAS – PARTE 3

Viagem de Regresso

No dia seguinte, esgotadas as duas noites na Pousada de S. Bartolomeu, em Bragança, iniciámos a viagem de regresso, durante a qual queríamos satisfazer uma recomendação da nossa amiga. «Se puderem, disse-nos, passem por Gimonde e Vinhais». São terras ligadas aos avós paternos da sua nora.

Fomos primeiro a Gimonde, onde almoçámos, no restaurante típico D. Roberto, também recomendado por ela. Aqui, tudo é genuinamente transmontano: a madeira e o xisto do exterior e do interior da casa, a decoração, na qual se destacam motivos associados à caça e objectos artesanais antigos, a ementa – presunto e enchidos de porco bísaro, o famoso pão de Gimonde, caldo de cascas, cordeiro bragançano, butelo com cascas ou casulas, pudim de castanhas e a hospitalidade.

Devido a uma indisposição passageira, como quem comete um sacrilégio, pedi baixinho e discretamente bacalhau cozido com legumes; o meu marido carne de javali. Com um olho no seu prato suculento e o outro pregado num grande prato de barro guarnecido de fatias de presunto e rodelas de enchidos na mesa ao lado, o bacalhau empurrado a água não ia para baixo…

Terminado o almoço, fomos fazer o reconhecimento de Gimonde, também conhecida por aldeia dos três rios. É verdade, na parte baixa da localidade, cruzam-se os rios Sabor, Onor (Malara no seu troço final) e Igrejas que, em sintonia com a velha ponte e com a vegetação luxuriante das suas margens, criam um espaço bucólico tocante que reúne todas as condições para se tornar numa zona de lazer de excelência.

Zona Ribeirinha de Gimonde

A destoar, mas por uma boa causa, chamou-nos a atenção uma estrutura em ferro bastante alta a envolver uma árvore seca, no cimo da qual se via um ninho de cegonha, provavelmente do tempo das vacas gordas… Sim, porque a penúria dos dias de hoje já não permite requintes destes.

Ninho de Cegonha

Fruto desta situação, é, por certo, o estado de degradação de muitas casas típicas que vi na parte antiga da povoação. Ao subir, meti conversa com uma senhora de idade, sentada sozinha num banco de pedra, perto da sua habitação. Vi que tinha necessidade de conversar. Falou do seu passado, dos seus familiares e da terra. A propósito, lamentei a degradação de muitas casas. Explicou: «Sabe, minha senhora, as casas antigas aqui da terra pertenciam quase todas ao Sr. Zezinho. Desde que faleceu, foram ficando no estado em que a senhora as vê, mas vá à Igreja, está bonita, arranjadinha. Vai gostar.» Despedi-me e continuei a subir. Efectivamente, a Igreja estava como a descreveu com tanto orgulho.


Ao descer, vi embutida num muro de um caminho uma pedra com uma inscrição e uma concha, símbolo de Santiago de Compostela.

Pedra alusiva ao Caminho de Santiago

Pensei: Gimonde deve ter sido lugar de passagem para o Santuário do Apóstolo. Mais tarde, confirmei o facto num texto da Internet que refere que a Ponte Velha construída pelos romanos, foi reconstruída ou remodelada na Idade Média, para permitir a passagem de peregrinos. Mais diz que, no tempo da romanização, essa ponte integrou a VIA XVII que ligava Bracara Augusta a Arturica (Astorga), passando por Aqua Flaviae (Chaves) e pelo Castro de Gimonde.


Terminada a visita, partimos para Vinhais. Quando chegámos, por uma questão de economia de tempo, dirigimo-nos ao posto de turismo para nos indicarem o que de interessante havia para ver na terra. Apontaram-nos três locais: Parque Biológico, Centro Interpretativo do Parque Natural de Montesinho e Centro Cultural. Excluído o primeiro, por ficar afastado da vila e exigir muito tempo para o percorrermos, começámos pelo Centro Interpretativo, instalado na Casa da Vila, casa senhorial digna de ser visitada. Acompanhados por uma guia muito simpática, ficamos a conhecer a história não só da casa, mas também de todo o concelho de Vinhais. As informações colhidas sobre o Parque Natural de Montesinho agravaram a pena de não podermos percorrê-lo. A visita terminou com uma passagem pelos jardins da casa, onde existe uma capela instalada numa das torres do Castelo da Vila.

Jardim da Casa da Vila


Daí, seguimos então para o Centro Cultural, que ocupa igualmente um espaço nobre – o Palácio dos Condes de Vinhais. Esperavam-nos duas exposições: VINHAIS: UMA TERRA DOS DIABOS, sobre as festas de Inverno e outra com trabalhos sobre o mesmo tema, visto pelos alunos das escolas do concelho.

Fotos da exposição “Vinhais: Uma Terra dos Diabos”

Interessavam-me muito estas tradições ligadas aos rituais festivos do ciclo de Inverno, mas o tempo era pouco. A visita da primeira iria demorar porque muito ilustrada e com muita informação. Não obstante, a funcionária, que estava de serviço, disponibilizou-se a acompanhar-nos para lá da hora do fecho. Que estivéssemos à vontade, não fazia mal. As pessoas de Trás-os-Montes são assim: recebem bem e fazem tudo por amor à terra. Como não queria abusar, com o seu consentimento, tirei fotografias aos painéis informativos para me documentar em casa.

Um dos trabalhos dos alunos

Foi bom termos passado por Gimonde e por Vinhais. No seu todo, foi uma viagem em cheio.

OBRIGADA, AMIGA!





Texto e fotos: Jacinta Ribeiro

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