sexta-feira, 20 de julho de 2018

A memória da prostituição em Bragança

O Bairro do Toural, na capital de distrito, ainda serve de paragem a quem vive do negócio do sexo
São nas “ruas da amargura”. Assim é conhecida entre muitos brigantinos, uma das zonas mais antigas da cidade. Ali ainda se redesenham memórias da prostituição em Bragança.

Quem, de tanto a palmilhar, conhece o traço e os relevos da calçada são “as meninas” que resistiram aos sucessivos fechos das casas e bares que lhes serviam como ponto de apoio e agora “andam por aí, andam na rua à espera” e depois “vão nos carros”, relatou “Maria”, que chegou a ser gerente de uma das mais antigas e resistentes casas associadas ao negócio do sexo na cidade transmontana.

“Levam 20 euros no máximo, mas há quem faça por 10”, assegurou a ex-proprietária enquanto ia contando que, por agora, “ficam perto de alguns dos sítios que antigamente lhes abriam portas e serviam de ponto de encontro”.

A “Rabala”, um estabelecimento com ar de tasca, já existia antes do caso as “Mães de Bragança”, que em 2003 pôs a cidade em alvoroço, manteve-se depois do fecho das várias casas de alterne na cidade. Além da rua onde era a “Rabala”, o negócio do prazer estende-se a outros recantos e espaços da cidade. “À beira do Santo António há uma casa alugada por duas, uma trabalha no primeiro andar, outra no segundo”, confirmou um contacto do Jornal Nordeste. “Assim à vista”, contam-se umas dez mulheres que fazem deste o seu destino e trabalho, mas, ainda que “jovens, de vinte e tal ou trinta anos”, são “decadentes”, relatou-nos.

É perto desta antiga taberna que, ainda outro dia, ao fim da manhã, vestida de tigresa, uma destas mulheres esperava um cliente. A ela juntou-se, poucos minutos depois, outra, mais recatada nas vestes. Enquanto trocavam conversa, continuavam à espera. E é assim, que normalmente, todos os dias, a rua relembra estas memórias não muito remotas. “Maria” relembra outros tempos e ainda tem frescas as recordações de outras décadas. “Na altura das brasileiras o bar já estava aberto” e “havia alguns clientes dos dois espaços porque ali era mais barato. A outra era uma prostituição de luxo, não era para todos os bolsos”, contou a nossa fonte, admitindo também que, para a “Rabala”, “o negócio foi sempre normal” até porque “não era o mesmo público, eram pessoas com mais idade e da aldeia”.

Quinze anos depois das “Mães de Bragança”, pela cidade há quem ainda viva as saudades dos tempos em que a capital de distrito acolhia as mulheres que vinham das terras de Vera-Cruz. Ao ter honras de primeira página na revista “Time” e ao fazer correr tinta pelos diversos jornais portugueses, uns falam do nome da terra que para sempre foi manchado mas outros falam sobretudo do prejuízo que o negócio sofreu com o fecho dos bares. E é assim, com nostalgia, que tanto José Pereira como Luís Miranda, taxistas em Bragança, recordam esses dias. José, mais conhecido por Vidal, relembra que na altura comprara um carro novo e só num ano percorreu com ele 180 mil quilómetros mas agora não consegue fazer isso “nem em quatro anos”. Enquanto trocava impressões com o colega de profissão, Luís assumia que “a cidade andava mais alegre” até porque “vinha gente do Porto, de Vila Real, de todo o lado”. Na cidade, que “não tem nada a ver”, pois antigamente “tanto de dia como de noite havia movimento”, Luís conta que no negócio todos perderam e da mesma opinião é Adelino Ferreira. Proprietário de um restaurante, o brigantino, emigrado no Brasil voltara a Bragança para fazer vida e abrir na cidade um espaço ao jeito do país que o recebeu mais de 40 anos. Aberto na época mais áurea da prostituição, “o restaurante quase vivia destas pessoas” nesses tempos. Depois do fecho dos bares, também o negócio de Adelino Ferreira perdeu até porque “não havia dia nenhum que não tivesse lá bastantes a jantar”.

Enquanto assumia ter “saudades” daqueles tempos, por Bragança, às brasileiras, que “eram asseadas” e “pessoas simpáticas e normais”, conforme Vidal as descreveu, “já não se lhes põe a vista”, mas por aqui ainda ficaram mulheres que continuam a atrair diversos homens que pagam para ter prazer.

Escrito por Brigantia
Carina Alves

Sem comentários:

Enviar um comentário