segunda-feira, 16 de julho de 2018

Cerca de 100 “segadores” juntaram-se este domingo para manter a tradição em Morais

O dia começou bem cedo este domingo para os cerca de 100 segadores que, por volta das 7h30 da manhã, partiram para o campo na aldeia de Morais, Macedo de Cavaleiros, para segar o pão.
Os utensílios e as técnicas são os mesmos de antigamente, com a diferença que agora o que se faz é apenas uma recriação daquilo que, em outros tempos, fora o dia a dia de muitos aldeões.

À tarde, depois das espigas cortadas e transportadas pelos tratores, foi a vez de, na eira, se fazer a malha, que com o auxílio das “malhadeiras”, permitiu separar o grão da palha.


E os “entendidos” explicam como se faz:

“O trigo entra neste local da malhadeira para depois o cereal ser separado da palha. Depois de passar nos crivos, o grão cai em sacos e a palha sai para trás e depois é puxada com os utensílios que antes eram também usados para o feno.”

Ângela Bento e Alexandre Geraldes são naturais da Morais e todos os anos participam nesta atividade.

Como eles, são muitos os populares, da aldeia mas não só, que não deixam morrer a tradição, esta que dizem servir para recordar outros tempos, mas também para mostrar à juventude uma das práticas agrícolas que hoje em dia se rendeu ao poder da mecanização:

“Antigamente era diferente. Por vezes, as pessoas dormiam por lá para que de manhã pudessem começar logo a apanhar o pão à mão para ser colocado em molhos. Depois, tínhamos de trazê-lo para casa, fazíamos um montinho e chamávamos a malhadeira para malhar. Costumávamos ajudar-nos uns aos outros nesse tempo.


Eu seguei e malhei em grande parte da minha vida. Tenho saudades desse tempo e é por isso que venho todos aqui a Morais participar nesta atividade. Isto é importante para a juventude, que por nunca terem feito, admiram esta prática.

É um dia diferente. Desde criança que me lembro disto. Mesmo sendo mais difícil, era divertido porque havia muita gente a ajudar, inclusive crianças. Costumávamos tirar a palha e atirá-la para cima uns dos outros.”


E entre os espectadores, encontramos quem tenha ido a Morais para não deixar morrer as memórias, mas também estivesse a assistir a este processo pela primeira vez:

“É a primeira vez que assisto a esta recriação. É interessante porque faz reviver os tempos passados, e isso suscitou-me alguma curiosidade para vir ver.

Para mim já não é novidade. O que estão hoje aqui a fazer é idêntico ao que se fazia antigamente. Acho que está bem.

Eu cheguei a fazer isto durante cerca de 20 anos e ainda tenho marcas nas mãos. Venho aqui para recordar o que já vivi e para passar uma tarde diferente.


Vim aqui para recordar mas também para que os meus filhos possam ver esta atividade. Eu ainda trabalhei nisto algumas vezes e noto que antigamente o convívio e a amizade entre as pessoas era maior.”

Um evento que vai já na 13ª edição, que este ano ficou marcada pela envolvência das associações locais e pelo maior número de participantes, como refere o presidente daquela junta de freguesia, Ramiro Valadar:

“Este foi o ano em que aderiram mais pessoas nos últimos tempos.


Tivemos outras atividades a acontecer. No sábado houve uma caminhada e uma noite de concertinas, e acho que a população aderiu mais ao evento.

Tentamos ter um cartaz que possibilitasse envolver toda a população e associações, como a Associação de Caçadores, de Teatro, a Comissão de Festas, o que resultou de forma benéfica.

Com a juventude que tem aderido ao evento, isto é para continuar com certeza.”

A aldeia de Morais a atrair visitantes para assistir à recriação da ceifa e malha do cereal.

Escrito por ONDA LIVRE

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