sexta-feira, 20 de julho de 2018

Na exposição 'Humanidade', a pintora Graça Morais mostra-nos que o mundo é tormentoso

Uma série inédita de desenhos e pinturas sobre papel, eis o generoso presente que Graça Morais nos oferece quando o “seu” centro cumpre uma exemplar e profícua década de existência.

Humanidade surge sob “o signo da metamorfose” e, explorando, aparentemente, as ressonâncias kafkianas desse clássico literário, a pintora apresenta trabalhos em que o gafanhoto (símbolo da devastação, um inseto-arma de destruição maciça) assume o protagonismo. Levemente pinceladas ou traçadas a grafite, numa aguada de cinzas que nada têm que ver com os tons fortes duma boa parte da obra da pintora, estas criaturas são alvo de uma ambígua transfiguração − e de uma desmaterialização que as transforma em fantasmas distantes (da nossa pacata realidade?) e em espetros de si próprias. Resultando de um gesto mais abstratizante do que é habitual, embora a artista tenha usado imagens preexistentes nos jornais e revistas, estas figuras servem a denúncia de Graça Morais, testemunha militante dos tempos difíceis. Aqui identificam-se comportamentos e dramas humanos atuais: uma mãe que segura o filho ao colo, um grupo de homens encostados a um muro, refugiados, vítimas, gente perdida.

“É uma exposição intimista: são cerca de 80 obras de pequeno formato, dedicadas a retratar as pessoas mais desfavorecidas. É a humanidade a querer encontrar o seu lugar”, descreve Jorge da Costa, curador. O também diretor do CACGM sublinha: “Nesta série, essa questão está mais voltada para a figura humana, é mais introspetiva. Como se cada anónimo e cada drama fossem importantes, individualizados. A pequena escala obriga o visitante a aproximar-se: ele olha as obras, mas estas também o olham.” Continuamos à beira do abismo, portanto.


Humanidade > Centro de Arte Contemporânea Graça Morais > R. Abílio Beça, 105, Bragança > T. 273 302 410 > 30 jun-24 fev, ter-dom 10h-18h30 > €2,03


Sílvia Souto Cunha
VISÃO

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