segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A aclamação de D. Pedro V em Bragança (1855)

D. Pedro V, devido à morte prematura da mãe (15 de novembro de 1853) e à sua menoridade, só seria aclamado Rei no dia em que completou dezoito anos, 16 de setembro de 1855. De 19 de dezembro de 1853 até aquela data, esteve à frente dos destinos do Reino, como regente, D. Fernando II.


Localizados os principais festejos da aclamação de D. Pedro V em Lisboa, foram decretadas manifestações de regozijo por todo o País. Em Bragança, a Câmara, reunida em sessão extraordinária em 8 de setembro de 1855, deliberou a realização de festejos para os dias 16, 17 e 18 de setembro, os quais seriam anunciados por um “luzido” bando, dando-se um “vestido” de gala e um par de sapatos ao pregoeiro, “por ter de funcionar no bando e nos três dias dos festejos”. Foi também decidido que, durante o período festivo, estivesse embandeirada a torre da Câmara, que deveria ser iluminada, assim como a Casa das Sessões, e que a “antiga e muito nobre Casa da Câmara” fosse ricamente decorada, e ali se faria um trono para nele ser colocado o retrato de D. Pedro V. Na parte superior  da porta da Casa da Câmara colocariam, “adornada com primor”, a legenda seguinte: 

Bragança hoje, solar da régia dinastia / Exulta hoje de prazer e alegria. 

Finalmente, decidiram que os convites para os que deveriam acompanhar o préstito que no dia 16, pelas nove horas, deveria ir da Casa da Câmara à Sé, fossem enviados ao maior número de pessoas possível, para o ato se tornar “mais luzido e numeroso”.
O programa completo foi elaborado por uma comissão de festejos, nomeada na sessão de 7 de julho, e constituída pelo comendador Diogo Albino de Sá Vargas; pelo tenente-coronel de Infantaria e membro da Câmara, António Fortunato Pinto Meireles; pelo major e comandante de Cavalaria n.º 7, António José de Macedo e Vasconcelos; pelo major José Alves Pinto de Azevedo; e por Manuel Nunes de Matos, delegado do Tesouro.
A primeira reunião da comissão de festejos foi marcada para o dia 9 de julho, às nove horas da manhã, e realizou-se no Governo Civil, por ser considerado o “local mais central e o Governador Civil oferecer uma sala para as sessões”.
Em 18 de julho, a Câmara aprovou o programa, apresentado pelo vereador António Fortunato Pinto Meireles, e em 31 de julho, foi entregue o orçamento, que excedia a quantia votada para os festejos. A comissão, que se “encontrava embaraçada para levar a efeito o seu programa”, consultou a Câmara para a decisão final, a qual, depositando toda a confiança na comissão, autorizou que se levassem a efeito os festejos constantes do programa, ficando a quantia que ultrapassasse o orçamento incluída em orçamento suplementar.
Os festejos destinados para 16, 17 e 18 de setembro tiveram a programação que se segue.
A 16 de setembro, da parte da manhã, sairia um préstito dos Paços do Concelho, percorrendo a Costa Pequena e a Rua Direita, até à Praça da Sé, seguindo-se uma parada militar e “fazendo-se a continência” ao retrato de D. Pedro V. O retrato, debaixo do pálio, seria conduzido à Sé, para ser colocado na capela-mor debaixo de um dossel, levantado para esse fim, destinando-se o degrau superior para a almofada com as insígnias reais. Na Sé, com a capela-mor e a tribuna ornamentadas “com o maior esmero”, teria lugar o Te Deum, mandado cantar pelo Cabido, com“música instrumental”. Findo este cerimonial, o préstito recolher-se-ia, com a mesma ordem, através da Rua de Trás, Rua da Alfândega e Rua dos Prateiros, até à Vila.

O préstito da aclamação de D. Pedro V obedecia à seguinte composição e ordenação:
1.º – um piquete de Cavalaria
2.º – um estandarte da Câmara acompanhado pelos juízes eleitos
3.º – os cidadãos, o clero e a nobreza em alas, as autoridades, as corporações e as repartições públicas e os tribunais, segundo o programa estabelecido
4.º – um anjo, ricamente vestido, que levaria sobre a almofada de veludo carmesim a Carta Constitucional aberta, e sobre ela a coroa e o cetro real
5.º – o retrato do Rei conduzido por duas pessoas da Cidade, “das constituídas em maior dignidade”, e acompanhado por duas alas de sargentos
6.º – o Governador Civil
7.º – a Câmara Municipal
8.º – a tropa da guarnição


De tarde, sairia o baile dos artistas da Cidade para executarem danças em vários lugares: no meio da Rua de Santo António; na Praça da Sé, “junto a Fora de Portas”; na Rua Direita, abaixo da Travessa do Arco, no meio da Rua da Alfândega e na Rua de Trás, em frente do Governo Civil. De noite, seria recitado no teatro um “Elogio análogo à solenidade do dia, que será desempenhado pela digna oficialidade de Caçadores n.º 3 e por outros cavalheiros da Cidade”, surgindo depois o retrato de D. Pedro V, ao qual se seguiria a representação do drama A Aclamação do Sr. D. João 4.º, pela Companhia Dramática.
A 17 de setembro, de manhã, sairia um baile desempenhado pelas corporações dos sargentos de Cavalaria n.º 7 e de Caçadores n.º 3, dançando nos mesmos lugares onde dançaram os do dia anterior, o qual atuaria novamente da parte de tarde, mas desta vez em locais diferentes daqueles onde tinham atuado. No dia 17, o baile dos artistas executaria as danças nos seguintes lugares: Fora de Portas, no Largo dos Ferradores, na Rua Direita próximo da Travessa das Eiras do Colégio, na Praça da Sé, pouco acima da Rua de Trás, e no meio da Rua dos Oleiros.
A 18 de setembro, da parte da manhã, sairia novamente o baile das corporações dos sargentos que atuariam nos locais onde atuou, no dia 17, o baile dos artistas, destinando se a tarde para as cavalhadas e figuras alegóricas transportadas em carros ricamente adornados, com a participação exclusiva da “benemérita oficialidade de Cavalaria n.º 7”. Este festejo seria executado na Rua de Fora de Portas (Largo dos Ferradores); na Praça da Sé; Rua Direita, por baixo da Travessa do Arco; Rua de Trás, abaixo da Travessa do Arco; e no meio da Rua dos Oleiros.
Todo o programa centra-se, como é óbvio, na figura do monarca, representado nos festejos pelo seu retrato, prática cuja tradição tem as suas raízes nas centúrias anteriores, sendo muito usual no período Barroco. O retrato de D. Pedro V participa no cortejo do dia 16, entre duas alas de sargentos, e ladeado por duas figuras de realce, o visconde de Ervedosa e o barão de Santa Bárbara, preside ao Te Deum, e sobressai na torre levantada na Praça da Sé.
O êxito das festividades foi manifesto e transparece na sessão extraordinária realizada na Câmara de Bragança em 22 de setembro de 1855. Nessa reunião, o Presidente da Câmara, Miguel Carlos de Novais e Sá, agradece aos vários responsáveis pela sua realização. Em primeiro lugar, apresentou “os devidos agradecimentos” ao vereador António Fortunato Pinto Meireles, a quem “muita glória lhe cabe pelos valiosos serviços que prestou para os festejos municipais”, pelo sucesso das comemorações festivas e pelo “delicado gosto e solicitude”, que empregou na direção da pintura e decoração do Teatro e no vestuário das figuras para o elogio dramático, que teve lugar no dia 16.
Em segundo lugar, a Câmara deliberou que se enviassem cartas de agradecimento aos diversos colaboradores: presidente e membros do Cabido, pelo esmero no adorno da capela-mor da Sé e tribuna, pelo Te Deum “que se ouviu cantar belo e harmonioso, acompanhado da competente orquestra, a melhor que pôde arranjar a Cidade”; presidente e vogais da comissão dos festejos, pela valiosa cooperação pela forma como delinearam e levaram a efeito os festejos; ao bacharel Manuel Bernardo Pinheiro de Lacerda, pela composição da poesia do elogio dramático e do hino em honra de D. Pedro V; ao major José Alves Pinto de Azevedo, pelo trabalho assíduo e pelo gosto com que ensaiou e dirigiu o baile dos artistas; ao capitão ajudante Januário Ferreira Machado, pela “espontaneidade” com que se prestou a dirigir o baile dos oficiais inferiores dos dois corpos da guarnição e como “recitante” do elogio dramático; ao capitão Maia, alferes Sá e Pinheiro, e aos cidadãos José António de Sá Pereira, Augusto Trajano de Oliveira e Manuel Paulino de Oliveira Júnior, como “recitantes” do elogio dramático; ao major de Cavalaria, António José de Macedo e Vasconcelos, pela forma como ensaiou e apresentou a cavalhada.



Em terceiro lugar, foi apresentada a carta enviada por André Navarro, mestre da música do Batalhão de Caçadores n.º 3, acompanhada do Hino Brigantino que oferecia à Câmara de Bragança, como solar da “Dinastia Reinante”. A Câmara, “lisonjeando-se com a oferta de tal hino, produção do engenho e gosto de um artista tão insigne, e que tão aplaudido foi por todos, deliberou que o mesmo fosse arquivado, e que se lhe expressassem os mais vivos agradecimentos”.
Nesta sessão camarária foram aprovadas gratificações aos alfaiates do Batalhão de Caçadores n.º 3, que confecionaram o vestuário do baile dos sargentos, e ao escrivão da Câmara, pelo muito trabalho que teve na direção do ajaezamento dos cavalos para o bando, na decoração da Casa da Câmara e nas iluminações da torre e Paços do Concelho. Com estas medidas camarárias, davam-se por concluídos os festejos, em Bragança, pela subida ao trono de D. Pedro V.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

Sem comentários:

Enviar um comentário